Fica na Rua de São Bento e na loja o espaço é partilhado por livros e discos. Na música há vinil e CD numa seleção que passa por vários géneros, com particular foco para o pop/rock (sobretudo o indie e o rock clássico), jazz, world music e clássica. Texto: Nuno Galopim

Livros e discos têm casa comum na Distopia que, depois de primeiras etapas de vida passadas na Rua da Escola Politécnica, desceu até mais perto do sopé da mesma colina, habitando há já algum tempo um espaço na Rua de São Bento, muito perto da Casa Museu Amália Rodrigues (que fica do outro lado da rua).
Por detrás do balcão encontramos dois licenciados em antropologia pela FCSH, os dois tendo também trabalhado na Livraria Barata. Bruno Silva junta ainda a este percurso uma passagem pela Carbono no final dos anos 90 e Sónia Silva esteve durante nove anos na Livraria Bulhosa. A Distopia surgiu em 2015, “mas já era falada entre os dois há anos e anos”, explicam ao GiRA DiSCOS. Desde sempre a ideia que tinham era a de “juntar o gosto dos livros ao da música”, que para ambos “são duas faces da mesma moeda, e que têm sido nos últimos 25 anos quiçá 50% dos alicerces” da sua amizade. Os outros 50% “são a discussão sobre política, antropologia, e tudo e mais alguma coisa na verdade”. Bruno e Sónia encaram “os livros e a música como fundamentais na constituição de um ser humano com pensamento crítico, e também com imaginação e empatia”.
Ao passarem da ideia para a concretização começaram por definir que tipo de música seria a que mais protagonismo poderia ter na loja. A “cabeça” por detrás “da escolha musical é sobretudo o Bruno e os gostos dele são muito ecléticos, do metal à música clássica, passando pelo indie/rock, pelo jazz e pela música do mundo”, responde Sónia. Na verdade não dizem-nos que não há “um género preferencial na Distopia, mas a tendência é que a escolha acompanhe” aquilo que conhecem “melhor” e gostam mais, mas estão “sempre disponíveis para novas descobertas”. Mas podemos olhar para as prateleiras com os discos, que fazem metade da loja (a do lado direito para quem entra pela porta). Nos CD “é sobretudo a clássica e a música do mundo, no vinil o indie/rock. Há também pessoas que compram nos dois formatos, dependendo do que estão a comprar: vinil para clássicos intemporais (nos vários géneros) e CD para coisas mais do imediato”. Há “clientes que compram as duas coisas”, mas também existe um “público específico da música, que são normalmente clientes habituais que sabem bem o que procuram e que são de certa forma colecionadores. Sobretudo no vinil”.
Tanto o vinil como os CD que ali encontramos são novos, ou seja, não há discos usados. E a opção tem uma justificação: “A venda de usado implicava mais espaço disponível, que não temos. Além de que exige todo um cuidado com a seleção, estado e limpeza dos discos, e optámos por não ir por aí. Achamos que para se trabalhar o usado tem de se fazer a coisa bem feita e não queremos estar a vender coisas sem qualidade ou em mau estado, e neste momento não temos as condições necessárias”.
A história da Distopia, como acima recordava, levou-os a começar por habitar outros espaços. Na verdade não muito longe. “Devido à pressão imobiliária em Lisboa já vamos na terceira casa”, explicam. E continuam: “Começámos na Rua da Escola Politécnica numa loja de rua, que acabou por ser vendida pouco tempo depois. Depois, devido ao pouco tempo que tivemos para mudar e porque queríamos manter-nos na mesma zona, fomos transitoriamente para um espaço que juntava várias lojas, também na Rua da Escola Politécnica. Finalmente encontrámos o espaço atual na Rua de São Bento, que nos permitiu não só manter contacto com muitas das pessoas que já nos conheciam, mas também expandir o nosso público”. A Rua de São Bento, “apesar de ser central, não está ainda completamente engolida pela lógica do ‘vender aos turistas’, que nunca foram o nosso público preferencial”. Há ainda “uma certa vida de bairro e muita gente que vive nas ruas envolventes e que nos visita com frequência. Uma livraria/discoteca faz-se duma (e com uma) comunidade, não com público transitório, e é isso que temos encontrado aqui e para o qual queremos contribuir”.
Como tantas outras livrarias e lojas de discos, também a Distopia se teve de adaptar aos constrangimentos durante esta pandemia. “Tentámos investir ao máximo na divulgação do online e na melhoria do nosso site”, explicam. Para além disso estiveram, durante o mês de abril “a fazer entregas em casa dos clientes na zona de Lisboa, para que as encomendas lhes chegassem o mais rápido possível e em segurança”. Desde que reabriram, “ainda em horário reduzido”, têm tido “algum movimento na loja, mas ainda se nota bastante que o número de pessoas na rua diminuiu”. E como encara a Distopia o futuro próximo dos espaços para venda de discos? “Neste momento ainda é uma incógnita”, dizem. “Num cenário de recessão económica os negócios ligados às artes são dos mais afetados. Muita gente ainda não os vê como essenciais e na necessidade de fazer escolhas, são dos primeiros a ir. Os apoios também são muito poucos ou inexistentes, por isso estamos na expectativa do que vai acontecer nos próximos meses”.
Horários, morada e site.
Distopia – Livros, Música, Papelaria
Rua de São Bento, 394 – 1200-822 Lisboa
Tel: 91 4869616
Tel: 21 0938746
www.facebook.com/distopialivraria
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Horário normal: 10.00 às 20.00 de segunda a sábado
Horário de pandemia: 11.00 às 17.00 de segunda a sábado (em atualização)