Designer de comunicação e multimédia, produziu e participou em eventos de arte, teatro e música, como criativo, artista plástico, cenógrafo e DJ. É leitor de de banda desenhada, cinema e cultura musical. E fala-nos hoje dos seus discos e da sua relação com eles.   

Qual foi o primeiro disco que compraste.

Foi em 1983 a uma senhora que tinha uma pequena discoteca na estrada de Benfica em Lisboa e custou-me 400 escudos. Foi uma das primeiras bandas que após o 25 de Abril, surgia muito na RTP. Como sempre tive uma certa tendência para não seguir pelos caminhos normais da pop, achava que esta banda servia na altura a minha irreverente juvenilidade (riso), a qual ainda hoje guardo. Whitesnake Slide it in.

E o mais recente…

David Bowie Station to Station.

O que procuras juntar mais na tua coleção?

Neste momento interesso-me muito por jazz, embora já tivesse alguns discos, era uma lacuna que andava há já alguns anos para preencher melhor na minha colecção. Sempre reconheci neste estilo o enorme virtuosismo dos seus músicos, a sua capacidade de improvisação e inovação, capaz de produzir ambientes de musicalidade pictórica muito rica e por vezes visionária.  

Um disco pelo qual estejas à procura há já algum tempo.

Swans Soundtracks For The Blind.

Um disco pelo qual esperaste anos até que finalmente o encontraste.

Neil Young Dead Man. O score atmosférico de um guitarrista fabuloso para a banda sonora do filme de Jim Jarmusch com o mesmo nome. Com Johnny Depp, John Hurt, Robert Mitchum, Iggy Pop, entre outros.

Limite de preço para comprares um disco… Existe? E é quanto?

Quase toda a minha colecção foi construída com base na oportunidade, tentando conseguir sempre bons discos por bons preços, hoje em dia mais difícil de conseguir. O meu objectivo foi sempre o de ir construindo um espólio musical que contasse a sua própria história, com o qual me pudesse identificar aprendendo e evoluindo musicalmente, razão pela qual tenho nela diversos estilos representados. Mas nunca me apeteceu, por uma questão de justiça e de outras prioridades pessoais, passar dos 40 ou 50 euros, por um disco.

Lojas de eleição em Portugal… E lá fora?

Carbono Amadora do meu amigo Luís, com a qual também colaboro. Carbono de Lisboa, com o João e o Pedro, noutros tempos também com o Pitchi e a Filipa. Louie Louie, com o Hugo e com o Jorge. Glam-O-Rama, do Luís. Groovie Records do Edgar, Simbiose do Carlos e aquela onde mais discos adquiri, a Discolecção, do Vitor Nunes, um grande conhecedor musical, com quem se aprende muito; e ainda o Nuno e o Pedro na Feira da Ladra. Lá fora, como não sou muito viajado uso o Discogs (riso). Mas espero um dia poder visitar a feira de discos em Utrecht, na Holanda.

O que faz com que uma loja de discos possa cativar e fixar clientes regulares?

A simpatia, a honestidade e o conhecimento sobre o assunto por parte de quem vende, uma boa oferta e um cuidado muito especial com o material vendido. A capacidade por parte do vendedor de entender quem compra, faz muitas vezes a diferença. O ambiente da loja, o qual considero ser ainda um dos locais privilegiados para tertúlia sobre música e discos, é muito importante.

Como te manténs informado sobre discos que te possam interessar como colecionador?

Considero verdadeiros colecionadores aqueles que procuram e adquirem, as várias edições do mesmo disco, como alguns que conheço. Para mim um exemplar é suficiente. Quando vou comprar discos a uma loja raramente levo na cabeça algo definido e porque a música também é um estado de espírito, gosto de ser surpreendido perante algo que ainda me falte ou que me apeteça ouvir naquele momento. A objectividade, uso-a na importação de algo que quero muito ter e que sei que não o conseguirei em loja. Também as revistas, os amigos, hoje em dia mais facilitado com as inúmeras sugestões de cada um no facebook e a rádio, que ainda continuo a ouvir.

Que formatos tens representados na coleção?

Essencialmente em vinil de 12”, mas também 10” e 7”, CD e DVD. Algumas cassetes e mp3, embora estes sejam formatos com os quais me relaciono muito raramente.

Os artistas de quem mais discos tens?

Sempre gostei de apreciar o percurso das bandas ou músicos, ao longo do tempo e normalmente, quando me interessam especialmente, e são muitos os que me interessam, tento sempre ter os mais importantes da carreira, ou mesmo a discografia completa… David Bowie, Tom Waits, Neil Young, entre outros.  

Editoras cujos discos tenhas comprado mesmo sem conhecer os artistas…  

No início, quando era ainda um jovem, cheguei a comprar alguns discos pela capa ou por intuição, mas como a frustração era quase garantida (riso), acabei por desistir da fórmula. Desde há muito que tenho de estar previamente informado sobre o que compro. Mas uma das que me lembro de fazer algumas apostas quase no escuro e que resultaram, foi a Rough Trade.

Uma capa preferida.

Tenho memória fotográfica. Muitas vezes quando tenho de fazer algo criativo na minha profissão desloco-me a uma loja de discos e fico a ver capas como fonte de inspiração. Quando compro um disco gosto do o ouvir enquanto analiso todo o trabalho gráfico e letras. Existem ideias magníficas e trabalhos absolutamente fabulosos e é difícil escolher uma… um disco que me acompanha desde a infância, Led Zeppelin Physical Graffiti. Foto do edifício St. Mark’s Place – Nova Iorque. Mistério, nostalgia e psicadelismo. Excelente trabalho gráfico. Uma capa magnífica.

Uma disco do qual normalmente ninguém gosta e tens como tesouro.

Uma questão difícil, porque há sempre alguém que gosta e alguém que não. Não lhe chamaria tesouro, mas há um disco que me ofereceram há muitos anos numa brincadeira, o qual mantenho apenas para responder a perguntas do género (riso) Júlio Iglesias “En El Olympia”. Mas gosto da capa!

Como tens arrumados os discos?

Por géneros musicais, desta forma sei sempre onde os encontrar.

Um artista que ainda tenhas por explorar…

Estive em Leiria num concerto organizado pela Fade In em 2019, para ver e ouvir Jozef Van Wissem, um compositor minimalista alemão sediado em Brooklyn que toca um alaúde especial, o qual tem colaborado com o cineasta Jim Jarmusch. Como também sou apreciador de bandas sonoras e do seu score, talvez explorar mais o universo Jarmusch, o qual também já tinha dado o seu contributo para a NoWave americana da década de 70. SQÜRL é um exemplo.

Um disco de que antes não gostasses e agora tens entre os preferidos.

Quando era miúdo achava-o muito aborrecido e hoje em dia acho que é uma das melhores vozes de sempre. Cantou composições magníficas absolutamente irrepreensíveis. Frank Sinatra – Trilogy: Past, Present & Future.

Trabalhar numa loja de discos mudou a tua perspetiva como colecionador?

Sempre tive um fascínio por lojas de discos e sempre frequentei a maioria das lojas em Lisboa, conheci os lojistas, pessoas muito interessantes e conhecedoras. Sempre valorizei muito o que me entusiasma e aprendi muito sobre discos e a maneira de os tratar. Se não se conseguir ser cuidadoso e organizado, é melhor não ter uma colecção de discos, sobretudo em vinil.     

Há discos que fixam histórias pessoais de quem os compra. Queres partilhar um desses discos e a respetiva história?

Sonic Youth Daydream Nation. Comprei este disco na feira da Ladra após a sua edição em 1988 a um jornalista do jornal Blitz, cujo o nome não me recordo, que para além de vender discos, fazia também as entrevistas às tribos do punk e do metal que se costumavam juntar na feira na segunda metade dos anos 80. Capa do artista alemão Gerhard Richter é um dos discos que guardo com especial estima desde essa altura, porque juntamente com os Bauhaus, marcam a minha transição para sons mais modernos relacionados com arte e conceitos. Estive nos primeiros concertos destas duas bandas em Portugal.

Um disco menos conhecido que recomendes…

Uma recordação dos tempos de António Arroio em 1986, lembrança recente de um amigo meu desses tempos de escola, a qual adquiri há pouco tempo. Formados no underground musical e performativo de Los Angeles em 1980. Savage Republic Tragic Figures de 1982.

Respostas de 7 a “Firmino Arnaut”

  1. Se a memória não me atraiçoa, o jornalista Luís Maio, que escreveu no Blitz, costumava vender discos na Feira da Ladra. Talvez fosse o indivíduo em causa.

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    1. Obrigado Pedro Vardasca. Isso mesmo, o jornalista do Blitz que referi, cujo nome não me lembrava, era o Luís Maio.

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  2. Avatar de Carlos Perdigão
    Carlos Perdigão

    Li com imenso prazer esta entrevista.
    Conheço – te desde miúdo e lembro-me de como tu é outros miúdos na época, entre eles o meu irmão Miguel iam para a casa dos teus pais ouvir música. Já nessa altura manifestava um grande conhecimento sobre bandas. Foi muito agradável relembrar esses tempos. Um grande abraço.

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      Firmino Arnaut Alves

      Obrigado Carlos. Recordarei sempre esses momentos felizes. Forte Abraço.

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      Firmino Arnaut Alves

      Obrigado Carlos. Recordarei sempre esses tempos felizes. Forte Abraço

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  3. Grande Firmino, parabéns pela matéria… O teu bom gosto musical além de ser um bálsamo virtual é um exemplo para os mais novos!!! Abraços!!!

    Jplevezinho

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    1. Avatar de Firmino Arnaut Alves
      Firmino Arnaut Alves

      Obrigado João Paulo. Tal como o teu. Temos muita música em comum. Forte Abraço.

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