Jorge Janela

Qual foi o primeiro disco que compraste?

Tinha 11 ou 12 anos e a D. Lurdes do 2º andar deu-me 100 escudos de prenda de aniversário. Numa papelaria que também vendia discos, perguntei quanto custava o duplo vermelho dos Beatles, em exposição na prateleira. 550 escudos foi a resposta. Tive de me contentar com um single do José Cid, ‘Romântico Mas Não Trôpego’, por 73 Escudos.  O duplo dos Beatles ficou para mais tarde, mas não muito mais tarde. Ainda no grupo dos primeiros discos a entrarem lá em casa – entre mim e a minha irmã Fátima, um ano e tal mais velha – contam-se os singles ‘Silly Thing’ dos Sex Pistols e o ‘Message In A Bottle’ dos Police, e os álbuns ‘I’m The Man’ de Joe Jackson , o 3º a solo do Peter Gabriel  e o ‘Journeys To Glory’ dos Spandau Ballet.

E o mais recente…

Shinichi Atobe ‎– Yes. A ouvi-lo pela primeira vez neste preciso momento. Fiquei  fã dele desde a primeira vez que ouvi o ‘Butterfy Effect’ de 2014. Desta vez, nem ouvi online primeiro, quis-me guardar para a audição no gira discos para manter o efeito surpresa. Junto com esse Lp também vieram 4 CDs: Léve Léve: São Tomé & Príncipe Sounds 70s – 80’, ‘Future Days’ dos Can, ‘The In Sound From Way Out!’, o instrumental dos Beastie Boys, ‘A Girl Called Dusty’ da Dusty Springfield e ‘His Band And The Street Choir’ do Van Morrison.

O que procuras juntar mais na tua coleção?

Discos de que goste. Hoje em dia, preferencialmente em CD que o espaço é sempre o maior problema de qualquer coleccionador. O preço também é um factor a ter em conta. E, como compro novos ou em 2ª mão, é mais provável  estarem em  boa condição.

Um disco pelo qual estejas à procura há já algum tempo.

Há muitos. E os motivos pelos quais isso acontece são variados, a raridade, o preço, o formato, a localização. Eis alguns: Alice Coltrane – Turiya Sings; Mark Duval and His Music – Brass and Rhythms; Chris Lucey – Songs Of Protest and Anti-Protest; David Bruno – O Último Tango em Mafamude;  Ken Nordine – Colors;  Glenn Branca  – The Ascension;  Company Flow – Funcrusher Plus;  Joyce – Passarinho Urbano e Feminina; Taiguara – Imyra, Tayra, Ipy,; Ka – The Night’s Gambit;  Modern Lovers – Modern Lovers e Original Modern Lovers;  Igor Wakhevitch – Hathor;  Helene Smith -Sings Sweet Soul!; Bunny Mack – Let Me Love You; Hermit & The Recluse – Orpheus vs. The Sirens; Trio Mocotó – Trio Mocotó (1973);  Arif Sağ – Umut;  Brian Eno – Headcandy; Le Orme – Ad Groriam; Ocaso Épico – Muito Obrigado; Repórter Estrábico – Uno Dos e  Disco de Prata; Maceo Woods And The Christian Tabernacle Concert Choir – In Concert;  Mateus Aleluia – Cinco Sentidos; Os Tincoãs – Os Tincoãs; Charanjit Singh – Synthesizing – Ten Ragas To A Disco Beat; Joanne Grauer ‎– Joanne Grauer;  Placebo -1973; Batsumi ‎– Batsumi;  Black Disco ‎– Night Express;  N’draman Blintch ‎– Cosmic Sounds e Cikamele’;  Soko – Not Sokute; António Dos Santos – Bom Dia Nha Cretcheu;  Corpo Diplomático – Música Moderna;  Geater Davis – Lost Soul;  Passion – Don’t Stop My Love;  Pylon – Gyrate;  Les Loups Noirs ‎– …Toujours;  Di Melo – Di Melo; Various ‎– 幻の名盤・お色気Box; Quarteto Em Cy – Quarteto Em Cy (1966);

Um disco pelo qual esperaste anos até que finalmente o encontraste.

Satya Sai Maitreya Kali – Apache Inca e Leslie Winer – Witch.

Limite de preço para comprares um disco… Existe? E é quanto?

Não dou muito dinheiro por um determinado disco. Daí a lista grande de procuras de há algum tempo. O CD mais caro que comprei deve ter sido o ‘Haru to Shura’ da Haru Nemuri, que me saíu a uns 35 euros por culpa das taxas alfandegárias.

Lojas de eleição em Portugal… E lá fora?

A Flur em Santa Apolónia. Lá fora não tenho preferências.

Feiras de discos… frequentas?

Não. Com três filhos pequenos é complicado arranjar tempo.

Como te manténs informado sobre discos que te possam interessar como colecionador?

Através das redes sociais e das páginas e pessoas que sigo no facebook e twitter (já descobri alguns no gira-discos e na Máquina de Escrever), em sites especializados, newsletters, playlists, listas de discos diversas espalhadas por aí (a rubrica Baker’s Dozen da The Quietus https://thequietus.com/features/baker-s-dozen é muito boa para descobrir discos improváveis) e em jornais e revistas.

Que formatos tens representados na coleção?

LPs, singles, 10’’, CDs e cassetes.

Os artistas de quem mais discos tens?

David Bowie e Momus. No caso deste último, até há alguns anos só tinha meia dúzia de LPs, até ter ido a este concerto e ter escrito este texto (link), desde aí tenho procurado adquirir o resto da sua discografia e já não me faltam muitos.

Editoras cujos discos tenhas comprado mesmo sem conhecer os artistas…

É mais provável isso acontecer com colectâneas. Há editoras que sabes seguirem uma determinada linha que te agrada e que o fazem sempre com qualidade. Houve tempos em que a Factory, a 4AD, a Rough Trade e outras que tais cumpriam esse papel. Hoje em dia há algumas editoras que se dedicam a desenterrar pérolas e géneros escondidos um pouco por todo o mundo e que editam principalmente compilações. A minha preferida é a Soul Jazz Records da qual não me importava nada de ter todas as edições.  Mas há outras também muito boas como a  Analog Africa, a Strut, a Ostinato Records, Ubiquity Records e muitas outras que não me vieram à mente. Outras desenterram discos de originais já esgotados e/ou esquecidos como a Light In The Attick  e a Finders Keepers.

Uma capa preferida.

O London Calling – e a do Elvis Presley onde se inspira – seria a escolha mais óbvia para mim. Contudo, não vou escolher essa nem nenhuma destas muito boas que a seguir enumero: Chet Baker – Chet Baker Sings; Wayne Shorter – Speak No Evil; Mazouni – Un Dandy En Exil / Algérie-France / 1969-1983; Chuck Berry – St. Louis To Liverpool; Phillip Glass – The Photographer ; Miles Davis – On The Corner; Bill Evans – From Left To Right; Bob Dylan & The Band – The Basement Tapes; Various Artists – No New York ; Little Richard – The Second Coming; Big Black – Songs About Fucking; Terry Callier – What Color Is Love; Townes Van Zandt ‎– Townes Van Zandt; X – Under The Big Black Sun; Joe Jackson Band – Beat Crazy; The Beach Boys – Surf’s Up; The Triifds – Born Sandy Devotional; Chic – Risqué; The Monochrome Set – Love Zombies; Experimental Audio Research – The Köner Experiment; Thelonious Monk: Underground.

Também não vou escolher nenhuma do mais genial criador de capas para discos, neste caso da editora Blue Note, o genial Reid Miles.

No dia de hoje, evitando ainda capas muito conhecidas, ou já referidas neste questionário ou que apareçam na foto mais acima, escolho a fabulosa ‘evolution of the blues song’ de Jon Hendricks.

Um disco do qual normalmente ninguém gosta e tens como tesouro.

Lou Reed – Metal Machine Music. Descobri há uns tempos, através do twitter do Brian Eno que há um mash-up que junta este disco com o ‘Music For Airports’ do próprio Eno, ‘Metal Machine Music For Airports’, muito bom.

Como tens arrumados os discos?

Por géneros – música de dança, Rock/Pop, Música Negra, Música Clássica, Jazz, Blues, Brasil, World Music e os comprados mais recentemente – e por ordem alfabética dentro destes.

Um artista que ainda tenhas por explorar…

Tom Zé. Já conheço muitos discos mas tenho ainda mais por conhecer.

Um disco de que antes não gostasses e agora tens entre os preferidos.

De não gostar a preferido não me estou a lembrar de nenhum, o que não quer dizer que não exista. Há músicos que nunca acreditei vir a gostar um dia, como o Neil Diamond, mas que afinal até escreveu coisas interessantes nos primeiros tempos, ali entre 1966 e 1968. Também não gostava de música disco de uma forma geral e agora adoro de forma particular.

Guardas a coleção de discos para tuas audições particulares ou tens forma (e gosto) de lhe dar vida junto dos amigos?

Ambas. Sempre que há convidados lá em casa, há música. E, quando não há, também. E, de quando em vez passo discos em festas, eventos, bares etc.

Há discos que fixam histórias pessoais de quem os compra. Queres partilhar um desses discos e a respetiva história?

Há um ano fui a Angola em trabalho. Havia promessas no ar de gente de lá que me levariam ao encontro de discos, mas não aconteceu. Numa viagem de Luanda para Namibe, à procura de um local dentro do Aeroporto para a longa espera, descobri uma loja de CDs com muita música Africana. A maior parte, da que interessava, de edições da portuguesa Sons D’África. Além do 1º do Allen Halloween ‘Projecto Mary Witch’, que ainda não tinha, descobri uns quantos dos Tulipa Negra  que nem conhecia, mas que ouvi ali in loco, África Negra e Bobongo Stars. Como tinha prometido a amigos avisar se encontrasse alguma coisa de jeito, perguntei ao rapaz da loja de discos como poderíamos fazer se quisesse comprar mais discos, ao que ele retorquiu que bastava pedir para chamá-lo e que ele iria buscar-me à entrada do Aeroporto com um cartão que me facultaria a entrada na zona de embarque, onde se situava a loja. Também me deu o seu email para eu lhe enviar os nomes dos CDs que tinha comprado para lhes dar baixa. Mas o email nunca funcionou ou não consegui perceber a grafia. Quando regressei a Luanda lá fui tentar a sorte. Os polícias e seguranças à entrada disseram-me logo que não tinham como o chamar. Não desisti logo e tentei arranjar o contacto dele numa das lojas que estão antes da zona de embarque. Não tinham, mas sugeriram que pedisse a um funcionário do Aeroporto que lhe desse o recado. Consegui, ele veio cá abaixo, mas não logrou obter o livre trânsito porque já passava da hora em que havia alguém para lho dar ou que ainda fosse permitido dá-lo à hora que era. Por isso, fiquei com o número de telemóvel. Lá lhe disse quais os CDs que queria e em que quantidades, negociando os preços por telefone, após algumas tentativas frustadas. Entretanto fui a Cabinda e o vôo de regresso a Luanda previsto, foi cancelado. E vim num que ia chegar muito perto da hora do vôo para Lisboa que era nesse dia. Alguém do escritório veio entregar a minha mala principal que tinha ficado em Luanda e levar-me ao Aeroporto Internacional. O rapaz também veio ter comigo à saída do Aeroporto interno, deu-me os 10 CDs, eu dei-lhe os Kuanzas e lá consegui apanhar o vôo de regresso.

Um disco menos conhecido que recomendes…

Jimmy Murakawa – Original De-Motion Picture. Descobri no facebook do Nick Currie (AKA Momus) há um par de anos “This 1982 album from a Japanese artist I’d never even heard of is a fantastically interesting listen.” (ouvir aqui).

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