Este é o número 39 da lista “100 Discos Daqueles que Raramente Aparecem nas Listas”… Foi editado em 1972 e representou, entre drones e visões, a estreia a solo de Klaus Schulze, que antes tinha colaborado com os Tangerine Dream e Ash-Ra Tempel. Texto: Nuno Galopim

Presente em Electronic Meditation, o álbum de estreia dos Tangerine Dream (editado em 1970), Klaus Schulze entrou cedo em rota de desentendimento com Edgar Froses e, antes mesmo de gravado o seu sucessor (Alpha Centauri, de 1971) partiu para logo começar a desenhar um outro caminho. Juntou-se então a Manuel Göttshing e Harmut Enke nos Ash-Ra Tempel, mas uma vez essa mais foi uma aventura coletiva fugaz, acabando, em 1971, por focar atenções no lançamento de uma carreira em nome próprio. Curiosamente, na hora de dar primeiros passos assinados discograficamente pelo seu próprio nome, fê-lo num disco com curiosas afinidades com o terceiro álbum dos Tangerine Dream, o duplo LP Zeit, também ele editado em 1972.
Gravado em Berlim durante o mês de abril de 72 e editado pela Ohr em agosto do mesmo ano, Irrlicht assegurou imediatamente a Klaus Schulze um lugar pioneiro na história das movimentações que então faziam da música alemã um foco de importantes revoluções (com consequências globais logo a seguir). Centrado na definição e moldagem de drones, o disco apresenta uma só peça, de título Satz, que evolui em três andamentos: um primeiro com o subtítulo Ebne (que sugere uma ideia de planície) e o segundo, Gewitter (ou seja, “trovoada”), surgindo ambos na face A do vinil. No lado B apresentava-se o terceiro, ou seja, Exit Sils Maria, que é apresentado de trás para a frente, resultando de fitas rebobinadas.
Klaus Schulze chama a si o trabalho (central) nas teclas do orgão, sendo ele mesmo quem ali toca percussão, guitarra, grava elementos vocais e manipula as máquinas. A única contribuição exterior é garantida pelo Colloquium Musica Orchestra, uma orquestra de música de câmara, que Klaus Schulze grava, agindo depois sobre as fitas. O trabalho de manipulação dos sons é, de resto, uma das características da criação de Irrlicht que dá ao disco um lugar de destaque no processo de transição desta música, abrindo pontes entre os terrenos das visões mais eruditas e os terrenos exploratórios mais próximos de nomes vindos do universo da música “popular”. Irrlicht é assim um ponto de partida para uma demanda que se manteria nas imediações destas ideias no disco seguinte, mas evoluiria depois para outras descobertas, passando, depois de 1976, a contar com a presença de um moog e, depois, outros teclados, traçando passos uma obra ainda hoje em construção.
“Irrlicht” teve uma primeira edição pela Ohr, em 1972. Uma reedição, pela Brain, em 1975, apresentou uma segunda capa, que se tornaria mais usada em futuros lançamentos deste álbum. Há, mesmo assim, e já no século XXI, reedições em CD e vinil com ambas as capas. A segunda capa é a que podem encontrar aqui:
Da discografia de Klaus Schulze vale a pena descobrir discos como:
“Cyborg” (1973)
“Timewind” (1975)
“Mirage” (1977)
Se gostou, experimente ouvir:
Tangerine Dream
Cluster
Harmonia
Obrigado pelo Klaus Schulze. A sua discografia da década de setenta é obrigatória.
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