Uma das características das compilações de sucessos que se multiplicaram entre nós ao longo da década de 80 foi o facto de cada qual explorar fenómenos de êxito do catálogos por si representados. E depois de a PolyGram ter lançado a série Polystar e de a Valentim de Carvalho ter colocado em cena os discos Jackpot (incluindo edições especiais criadas em paralelo a essa série), à Edisom coube a criação do “Super Disco”. E na sua edição de 1982 o cocktail aqui reunido num alinhamento de 18 canções, não podia ser mais… diverso. De resto, entre as duas faces do LP que faz este “Super Disco” fica um dos melhores exemplos da invulgarmente vasta amplitude de propostas de “sucesso” aqui registadas. De José Mário Branco a Linda de Suza, passando pelos Human League ou pela Eurovisão… E não só… Mergulhemos pois na ementa.
Detentora, entre outros, de catálogos claramente atentos à emergente nova pop eletrónica – como por exemplo os da Mute e da Virgin – a Edisom chamou a este alinhamento algumas pérolas da nova pop de então como Only You dos Yazoo, See You dos Depeche Mode , Souvenir dos OMD (canção que se transformou na altura num êxito popular de dimensão maior), I Am a Camera dos Buggles ou Open Your Heart e Don’t You Want Me dos Human League, o único nome que aqui surge representado duas vezes. De colheita pop surge ainda aqui A Flash in The Night, single dos one hit wonders suecos Secret Service que teve impacte em alguns territórios europeus e que entre nós foi um dos casos do ano. Igualmente de colheita pop é Words, de FR David, uma balada que me causava azia na altura e à qual só “perdoei” anos mais tarde, na banda sonora de Call Me By Your Name de Luca Guadagnino. Há ainda um piscar de olho a Da Da Da, um êxito dos alemães Trio, mas numa daquelas versões do tipo “produto branco”, servida pelos Zam. Quem? Os Zam… Ah, os Zam… (nem sei quem são e, pelo Discogs, não parecem ter mais do que este single).
Depois há uma representação de nomes com história pontualmente feita nos tempos do disco sound, mas já em tempo de evidente decadência. É o caso dos Eruption, com We Don’t Need Nobody (tema que no ano seguinte surgiria no seu último álbum) e os Ottawan, com Hello Rio, a tentar reinventar-se com sabor a festim carnavalesco). Convenhamos que nem uma nem a outra resistiram ao tempo que passou, o mesmo se podendo dizer do “êxito” (foi mesmo êxito?) popular Tiro Liro Liro, da Radio Topolino Orchestra, talvez o instante deste “Super Disco” em que o azeite parece mais óleo… Mais saboroso é o reencontro, 40 anos depois, com Aurora dos Nova, um daqueles instrumentais que serviam de separador em televisão. Também não venceu o tempo, é certo, mas Aurora guarda memória daqueles compassos de espera pelo programa que nunca mais começava, ou do retomar de uma transmissão interrompida. Tem patine. Também coisa dos sinais dos tempos, mas já sem o impacte de alguns anos antes, um “medley” de canções de Stevie Wonder, mas em registo Stars on 45, passa também por aqui.
O resto do alinhamento faz-se com a versão em língua da canção que tinha vencido a Eurovisão esse ano – A Little Peace – na voz da alemã Nicole e com um contingente português. Aqui temos Se Cá Nevasse de uma Salada de Frutas que se procurava reinventar sem a voz de Lena d’Água, Chuva Chuvinha de Linda de Suza e Qual é a Tua Ó Meu?, do álbum Ser Solidário, de José Mário Branco que, de facto, surgiu nesse ano no catálogo da Edisom. Confere… (como a voz do próprio bem o diz no fim da canção).
“Anunciado na Televisão”, lia-se num splash na capa, confirmando o peso que o pequeno ecrã tinha não apenas no mercado da publicidade mas também na relação com a nova música pop (vivia-se um tempo em que os telediscos eram igualmente usados como separador e os de Open Your Heart dos Human League e Souvenir dos OMD tiveram presença assídua na televisão). Face aos discos de sucesso de finais dos anos 70 este deixava evidente a força de mercado que a nova música pop representava (e com ela a atenção de um público mais jovem). Porém, o alinhamento não está rendido à pop… E a ideia de popularidade aqui ainda cruza várias outras gerações e até geografias não necessariamente jovens e urbanas… As festas de verão podiam contar com o “Super Disco”…
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