A canção que representou a Jugoslávia em 74, representou um dos mais importantes exemplos de exposição da cultura rock do leste europeu na história desta etapa do Festival da Eurovisão. “Moja genereacija” data da mesma edição do “Waterloo” dos Abba. Texto: Nuno Galopim

Dificilmente apontaríamos uma outra canção da história do Festival da Eurovisão que fosse capaz de representar a ideia de rampa de lançamento para uma carreira internacional. Assim aconteceu em 1974, com os suecos Abba, ao som de Waterloo. Um ano antes, já em quarteto, mas ainda sob o nome Bjorn & Benny, Agnetha & Anni-Frid, tinham concorrido à a final sueca, terminado nessa ocasião em terceiro lugar com Ring Ring, uma canção pop onde se notava já a presença do glam rock. Em abril de 1974, já como Abba, reforçaram o apelo glam de Waterloo com indumentária a rigor (inclusivamente o maestro também o fez), terminando a noite em primeiro lugar, classificação que deu à canção um potencial de exposição que o grupo não deixou órfão, criando nos anos seguintes uma sucessão de êxitos que deles acabaria por fazer um dos nomes maiores da história da canção pop, marcando ainda esses triunfos um momento de novo fôlego para a própria indústria musical sueca, que acabou igualmente por se posicionar como uma das mais ágeis e eficazes do mundo.
Mas não podemos reduzir a Eurovisão de 74 aos Abba… Na verdade o desfile de canções juntava outros potenciais vencedores, um deles a canção italiana Si, cantada por Gigliola Cinquetti, a vencedora de 1964 (então com Non Ho L’Eta). Si, uma balada orquestral, terminou em segundo lugar e é um dos clássicos da edição de 74. Mais próximo das cores pop dos Abba, I See a Star, da dupla holandesa Mouth & McNeal, que levou a cena um realejo, classificou-se em terceiro lugar. 1974 foi também o ano de E Depois do Adeus de Paulo de Carvalho. E da estreia da Grécia, que se apresentou com uma canção folk que não esqueceu a presença em palco de um bouzouki, um instrumento local.
Outra das pérolas maiores de 1974 chegou da Jugoslávia, apresentada pelo Korni Grupa, uma banda nascida em 1968 em Belgrado e que representava então uma força evidente do rock que então se fazia no centro da Europa. Conhecidos depois, em algumas edições internacionais, como Kornelyans (editaram inclusivamente em 1974 Not an Ordinary Life, um segundo álbum de originais cantado em inglês), o Korni Grupa tinha a sua obra dividida entre dois caminhos distintos. Um deles nascido da assimilação de espaços mais desafiantes de tradições da pop ocidental do final dos anos 60, gerando uma mão-cheia de singles (que podemos encontrar reunidos na compilação Mrtvo more, que editaram em 1975, pouco depois da sua separação). O outro, e que curiosamente correspondeu à sua aventura na Eurovisão, mostrava-os mais perto dos caminhos do rock progressivo.
Moja genereacija, referida na Eurovisão com o título Genereacija 4 (ou, na versão internacional, Generation 42), é uma canção desafiante e invulgar, que toma as qualidades do timbre do vocalista como força dramática sobre uma composição que cresce da discreta abertura para alcançar um patamar de dimensão épica, sublinhado pelo arranjo orquestral, num refrão que deixa escutar a presença (então) inovadora de um sintetizador.