Juntando velhos heróis e novos colaboradores, desafiando tecnologia de inteligência artificial (nas imagens) mas sem deixar de assumir marcas de firme identidade, aos 40 anos nos discos os Duran Duran têm em “Future Past” um dos seus melhores discos. Texto: Nuno Galopim

Como celebrar um 40º aniversário? As tendências recentes das edições “de memória” têm feito de muitas celebrações de datas “redondas” momentos de comunicação para programas de reedições ou para o lançamento de edições especiais. E convenhamos que num tempo em que passam 40 anos sobre a edição de “Planet Earth” (single de estreia lançado em fevereiro de 1981) não faltariam opções “de arquivo” para assinalar os 40 anos de vida discográfica dos Duran Duran (e digo discográfica porque o grupo nasceu em 1978, ou seja, têm 43 anos de vida como banda). As reedições com extras pararam em “Big Thing”, ou seja, no álbum de 1988, pelo que há um vasto corpo de discos à espera de semelhante tratamento. “Medazzaland” e “Pop Trash” nunca tiveram edições em vinil. O disco “quase terminado” – com o tútulo de trabalho “Reportage” – que trabalharam entre “Astronaut” (2004) e “Red Carpet Massacre” (2007) ainda está à espera de ocasião para ver a luz do dia… Da coleção de gravações ao vivo já disponibilizadas em plataformas de ‘streaming’ só “As The Lights Go Down” teve edição em suporte físico. O ‘best of’ generalista mais recente (“Greatest”) data de 1998… E a lista podia continuar”… Mas perante todo este leque de opções – é até caso para usar a palavra “panóplia” – os Duran Duran optaram por algo completamente diferente… E dão-nos um álbum novo.

         Na verdade a história de “Future Past” podia estar até originalmente apontada para ter chegado aos nossos ouvidos em 2020. Mas tal como o leque de colaborações aqui reunidas nasceu de encontros casuais e outros episódios inesperados, também a história recente deste terceiro planeta a contar do Sol acabou por influir sobre a gestação do disco. E se a urgência de saúde pública deu voltas ao dia a dia de todos nós, no caso dos Duran Duran houve tempo acrescentado para refletir. E na hora do desconfinamento a música começou a surgir, com uma sucessão de singles que, com avanço no arrebatador “Invisible”, deu sinais de que estávamos perante uma banda uma vez mais entregue a uma das características centrais da sua identidade: a vertigem da descoberta. Da cenografia sonora – claramente desafiante – que desde logo revelava em Graham Coxon (o mítico guitarrista dos Blur) um dos trunfos do disco ao teledisco criado com tecnologia de inteligência artificial, o álbum que assinala os 40 anos de vida dos Duran Duran no mundo dos discos deixava desde logo claro que não seria uma ode de nostalgia, mas antes um reflexo de uma história que, mesmo hoje assente numa coleção de grandes clássicos, ainda faz questão em olhar em frente.

         “Future Past” é uma bela escolha para título, porque no fundo traduz o que aqui acontece. Há uma banda com 40 anos de vida discográfica e com uma identidade da qual não se afasta (e ainda bem). Do passado juntam-se referências estruturais desta identidade, e que se manifestam nas colaborações com Giorgio Moroder e com Mike Garson, pianista que aqui traz ecos de vivências junto de David Bowie. A estas referências formadoras dos próprios elementos dos Duran Duran juntam-se novos colaboradores que abrem portas a um presente com os olhos (e ouvidos) postos no futuro. Das japonesas Chai (uma banda punk) a Tove Lo ou Ivorian Doll, incluindo os produtores Erol Alkan (o mais presente no alinhamento) ou Mark Ronson, o mapa das referências segue uma tendência que começou a ganhar forma em “All You Need is Now” e se expandiu em “Paper Gods”, estimulando parcerias criativas, abrindo novas frentes, olhando o futuro sem descartar o passado. É este o presente dos Duran Duran. E em “Future Past” encontramos um depoimento de vitalidade criativa que, sem escapar ao seu ADN, aceita uma vez mais olhar em volta e manter vivas as ligações com o mundo. É um disco essencialmente dançável (outra das marcas de identidade dos Duran Duran), mas com episódios de trégua guardados em episódios que, como o tema-título, em “Wing” ou no belíssimo “Fragile” (que fecha o alinhamento) têm tudo para inscrever novos momentos numa história que não está ainda na hora de se render ao poder apelativo do ‘best of’. Até porque “Future Past” acaba mesmo por ser um dos melhores álbuns dos Duran Duran.

“Future Past” dos Duran Duran está disponível em LP, CD e nas plataformas digitais, numa edição da BMG.

Uma resposta a “Um presente que assimila o passado e desafia o futuro”

  1. O melhor álbum dos Duran Duran desde o Rio, de 1982! Todos os seus discos tem um caminho traçado pela a época em que foram criados, sem que com isso sejam menores. Paper Gods, All You Need Is Now, The Wedding Album, Medazzaland, Big Thing ou Pop Trash são discos bons. Mas o Future Past foi ainda mais certeiro na fórmula das grandes músicas com refrões orelhudos e com o mestre Nick que cria ambientes sonoros espectaculares, o baixo do John excelente, o Roger trouxe de volta a batida com recursos a grandes fills nos timbalões e tarola, e por fim, o Simon quanto mais velho mais canta!! Os Duran Duran estão próximos de fazer história com as tabelas de vendas e de streaming no Reino Unido, colocando-se na 2ªposição da tabela!!! Grande feito e orgulho para os fãs que nunca deixaram de acreditar nesta banda de Birmingham!!!

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