Uma caixa com seis discos em vinil junta ao álbum “Hunting High and Low” uma coleção de maquetes, ‘takes’ alternativos e versões depois usadas em singles e máxis, propondo uma visão pormenorizada sobre o processo criativo que gerou a estreia dos A-ha. Texto: Nuno Galopim

Tinham uma missão: deixar a sua Noruega natal e encontrar uma nova casa em Londres. E o objectivo era apenas um: fazer uma carreira na música pop. Dois dos elementos do trio já tinham passado por uma outra banda anterior (os Bridges) e, na hora de lançar o desafio de fazer as malas, parte do grupo não concordou com a proposta e essa primeira história chegou ao fim. Com novo recruta a bordo (o vocalista Morten Harket), e com novo nome, os A-ha rumaram a Londres em 1982. Encontraram um estúdio onde trabalhar nas horas sem ocupação e, aí, o entusiasmo de um técnico (com boas ligações a profissionais da indústria discográfica) que neles acreditou. Gravaram meses a fio, durante 1983, ao mesmo tempo que iam mudando de apartamentos para rendas cada vez mais baratas, apertando igualmente os cintos noutras despesas…
No estúdio tocaram para várias editoras, acabando a Warner por assiná-los- Gravaram quase todo um álbum mas o primeiro single, numa versão de dieta de “Take On Me” terá vendido apenas umas 300 cópias. Regravam a canção, com novo produtor, mas a coisa volta a não mexer por aí além. E é finalmente à terceira vida que, com um segundo teledisco (o tal, com animação e imagem real, assinado por Steve Barron), encontraram em “Take On Me” o cartão de visita certo. Em finais de 1985 o single era tocado pelo mundo fora e o álbum de estreia, “Hunting High and Low” tornava-se um caso de sucesso pop no circuito mainstream global.
Com os Duran Duran em pousio, os A-ha tomaram o seu lugar nas capas das revistas pop. Contudo, e como o álbum “Hunting High and Low” o mostra, os caminhos musicais que então talhavam não eram de todo os mesmos. Os A-ha procuravam então uma pop mais imediata e acessível, onde a presença das electrónicas revelava uma relação com a canção sem a mesma dimensão cénica, mais próxima da condução da melodia e da sustentação rítmica, em alguns instantes (como no tema título) traduzindo ainda o disco um gosto por artes finais algo sinfonistas. Mesmo longe de ser um daqueles álbuns de referência maior de um tempo (aqui os singles da banda falam mais alto), o disco inclui alguns episódios pop inspirados como são o caso dessas duas canções já referidas ou ainda “The Sun Always Shines on TV”, com fulgor mais intenso. Já o menos exuberante “Train of Thought”, também editado como single, representa a evolução então mais recente de uma das primeiras canções do grupo, resultando num sucesso na época sobretudo como consequência do fenómeno de euforia teen que o grupo entretanto desencadeara.
A edição especial que agora é lançada em vinil (originalmente lançada em 2015) procura contar a história do disco através de um conjunto de gravações, entre as quais muitas maquetes que precederam a gravação do álbum. E numa delas encontramos ainda a forma original de “Take on Me”, com o título “Lesson One”. Há aqui canções que ficaram depois pelo caminho, uma delas cantada em norueguês e, depois, outras demos que traduzem a evolução de canções que encontraram aos poucos a forma com a qual acabaram fixadas em disco. O lote de (muitas) gravações junta ainda takes trabalhados já em estúdio e as versões finais depois editadas entre os singles e máxis que foram surgindo em 1985 e 86, assegurando um detalhado conjunto de olhares sobre todo o processo criativo.
“Hunting High and Low”, dos A-ha, está agora disponível numa edição especial de 6LP num lançamento da Warner.