Voz pioneira do hard rock em Portugal, co-autor de “Bota Fora” e intérprete da canção assinada por Sérgio Godinho que ficou em segundo lugar na histórica edição de 1975 do Festival da Canção, Carlos Cavalheiro morreu aos 74 anos. Texto: Nuno Galopim

Passou por um grupo que ajudou a desenhar passos para determinantes para o hard rock português nos anos 70, juntou a sua voz aos que cantaram um país em mudança depois de 74 e quase venceu o Festival da Canção quando, em 1975, interpretou “Boca do Lobo”, a canção que assinalou a única passagem de Sérgio Godinho pela competição deste formato da RTP. Carlos Cavalheiro deixou-nos ontem, aos 74, vítima de cancro.

Nascido na Nazaré em 1949 começou por integrar os Solitários em finais dos anos 60 e teve depois primeiros momentos de visibilidade discográfica quando, em 1973, os Xarhanga, banda que traduzia o emergente hard rock, apresentou os singles “Acid Nightmare” e “Great Goat”, ambos editados pela Zip Zip. Além da voz, na banda Carlos Cavalheiro era ainda o responsável pelas letras das canções.

Também membro dos Xarhanga, Júlio Pereira esteve igualmente presente no passo seguinte da obra de Carlos Cavalheiro, editando ambos, em parceria, o álbum “Bota Fora” (Orfeu, 1975), disco que traduz ecos do tempo social, cultural e político do Portugal de então e no qual colaboram, como letrista, nomes como os de Manuel Alegre, Fausto, José Mário Branco ou Sérgio Godinho.

Este último seria nesse mesmo ano o autor de “Boca do Lobo”, canção que acabou classificada na edição de 1975 do Festival da Canção, a mesma na qual se assinalaram então participações do GAC, de Jorge Palma ou de Duarte Mendes (que seria o vencedor, com “Madrugada”). No lado B do single que fixou a memória desta canção de Sérgio Godinho na voz de Carlos Cavalheiro encontramos “Liberdade Económica”, canção com música de Fausto e letra de José Mário Branco.

Em 1976 assinala um novo encontro com Júlio Pereira, surgindo no seu álbum de estreia “Fernandinho Vai ao Vinho”. Ouvimo-lo aí como “Ministro” na faixa “A Primeira Dúzia de Anos” e, depois, como “Líder Socialista” em “Raposódia Político-Portuguesa”, conquistando assim um lugar entre um ilustre elenco no qual surgem ainda José Afonso, Vitorino, Francisco Fanhais, Sérgio Godinho, Herman José, Jorge Palma, Carlos Mendes, Fernando Tordo, Paulo de Carvalho, Júlio Isidro ou Ana Zanatti, entre muitos outros. 

A discografia de Carlos Cavalheiro inclui ainda marcas da sua passagem por uma outra banda de hard rock, os Alarme, que em 1982 se estrearam com o single “Desconto Especial” (Imavox). O grupo conheceria uma reunião já no século XXI da qual resultou então a gravação do álbum “Estamos Aqui” (2010), lançado em CD numa edição de autor.

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