Pela voz da própria Wendy Carlos, com exemplos que toca na hora, aos quais junta excertos do seu catálogo, “The Secret of Synthesis” é como uma aula ou palestra onde nos são apresentados fundamentos e caminhos do seu trabalho pioneiro. Texto: Nuno Galopim

Em 1986, na reta final do acordo que desde 1968 a mantinha ligada à editora CBS, Wendy Carlos resolveu gravar e fixar num LP uma ideia de disco-companheiro para a obra que até então havia apresentado. Havia já no ar sugestões para que idealizasse um disco no qual pudesse recriar muitas das palestras que tinha vindo a apresentar na Europa e nos Estados Unidos, nas quais explicava não apenas a história por detrás da criação dos seus álbuns, mas também os detalhes sobre as características dos sintetizadores com os quais vinha a trabalhar desde “Switched on Bach” e detalhes específicos sobre os sons, a recriação digital de instrumentos, o processamento da voz e outras entre as muitas peças de todo um quadro tecnológico, musicológico e criativo que podiam explicar o seu próprio percurso na música.
Assim nasceu “The Secrets of Synthesis”, um disco que é em parte spoken word, já que escutamos a própria Wendy Carlos a caminhar entre uma apresentação geral do seu trabalho de pesquisa pela música e pelos sons, mergulhando depois em olhares de pormenor sobre timbres, vibrato, a voz humana, orquestração, analógico vs digital e várias opções performativas, do solista e pequenos ensambles à orquestra, sem esquecer naturalmente a ideia de “síntese digital” que caracterizara algumas das suas gravações mais recentes e histórias paralelas ou complementares, entre as quais passa o seu importante relacionamento profissional com Robert Moog.
O disco sugere uma ideia de aula ou palestra com o seu foco principal na explicação do que envolve a orquestração quando feita através de instrumentos eletrónicos, juntando à voz exemplos musicais sobre o que Wendy Carlos vai falando, socorrendo-se aí não apenas de sintetizadores nos quais reage diretamente às palavras que apresenta, mas também de excertos de gravações anteriores, revistando aqui todo o seu catálogo entre “Switched on Bach” e “Digital Moonscapes”. Com poucas entrevistas publicadas, Wendy Carlos dá-nos assim, aqui, algumas respostas sobre como lhe foi possível chegar aos sons com os quais foi criando a sua obra.
O disco tece uma prensagem original em vinil e uma edição inicial também em cassete e CD em 1987, conhecendo mais tarde, em 2003, uma reedição (em CD) pela East Side Digital.





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