Este é o número 65 da lista “100 Discos Daqueles que Raramente Aparecem nas Listas”… Editado em 1983 mostrou como os OMD não cederam à ideia de repetir uma fórmula de sucesso, criando um álbum mais exploratório e desafiante. Texto: Nuno Galopim

Dois anos depois do sucesso colossal de “Architecture & Morality” o quarto álbum dos OMD ganhou forma não como um expectável episódio de evolução na continuidade mas, antes, uma radical mudança de orientação rumo a espaços onde a experimentação ganhava claro protagonismo. Isso não implicou a ausência de canções pop no alinhamento de um disco que, na verdade, soube dosear bem os seus momentos de design mais atípico com outros nos quais a canção pop eletrónica emergia, se bem que enquadrada no contexto temático que o disco sugeria. Dois singles chegaram mesmo a ser extraídos do alinhamento de “Dazzle Ships” – em concreto “Genetic Engineering” e “Telegraph” – apenas o primeiro tendo, contudo, gerado um novo episódio de algum sucesso. O álbum, contudo, e quando comparado com o anterior, passou longe das atenções do grande mercado, perdendo cerca de 90% do público que tinha feito de “Architecture & Morality” um fenómeno com vendas na ordem dos três milhões de exemplares.
Eles mesmos contaram que lhes tinha sido sugerido que, se fizessem um eventual “Architecture & Morality – Parte 2” voltariam a ter um sucesso colossal e seriam uns novos… Genesis. Não era essa a ideia… Mas também não apostaram na diferença como ato de auto-destruição. Achavam, de facto, se levassem, a um disco as gravações de rádio de onda curta que faziam regularmente em estúdio, assim como reflexões sobre a guerra fria, então na ordem do dia, o seu público não os abandonaria. Assim não foi, tendo a ideia de “culpa” habitado por ali até que, no álbum seguinte, “Junk Culture” (1984), o sucesso lhes voltou a bater à porta.
Inspirado por um quadro de Edward Wadsworth, “Dazzle-ships in Drydock at Liverpool”, que se pode ver na National Gallery of Canada, em Ottawa (Canadá), e que ditou inclusivamente as linhas que o designer Peter Saville levou ao trabalho gráfico que vemos na capa do disco, “Dazzle Ships” é um álbum no qual os OMD tanto expressam o seu desejo em acolher mais claramente uma dimensão experimental que era naturalmente associada à história da música eletrónica, como representa o momento em que, mais do que nunca, dão voz a uma atitude política. Atitude que não passa por uma rendição da sua música aos códigos mais habituais da canção política, mas, antes, a uma construção temática que reflete temáticas do presente, nomeadamente os efeitos da guerra fria sobre uma Europa dividida em dois grandes blocos.
Esteticamente este é um disco que convoca a um espaço de construção pop eletrónica uma série de ferramentas e práticas mais habituais nas músicas de vanguarda, nomeadamente a manipulação de fitas, criação de módulos repetitivos, colagens de sons e uso de gravações de sons de rádio como material musical. Passados por um “filtro” OMD manifestam-se aqui heranças que vão de Karlheinz Stockhausen aos Kraftwerk, passando pelos minimalistas norte-americanos Steve Reich e Philip Glass, juntam gravações de rádio, desafiam a forma das canções e trabalham sobretudo uma visão de sonoplastia.





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