Editado em inícios de julho de 1983, quando Vince Clarke e Alison Moyet já tinham anunciado que cada qual seguiria um caminho separado, o álbum “You And Me Both” é o disco que traduz mais profundamente a soma de personalidades que fazia os Yazoo. Texto: Nuno Galopim

Foi uma aventura breve. Muito breve mesmo, feita apenas de dois álbuns e uma mão-cheia de singles editados entre 1982 e 83, mas que traçaram uma das mais vibrantes histórias da primeira geração que fez das electrónicas a ferramenta central para reinventar a pop em solo britânico. Os Yazoo eram Vince Clarke (elemento da formação original dos Depeche Mode que entretanto deixara o grupo após a gravação do seu álbum de estreia, gravado em 1981) e Alison Moyet, então uma voz estreante. Ele trazia a convivência com uma nova geração de teclados que então descobriam as formas da música pop. Ela, dona de uma voz possante, revelava uma afinidade com registos mais próximos da música soul… Estrearam-se com “Only You”, uma balada com paisagem desenhada por sintetizadores que virou clássico instantâneo em março de 1982, ao qual fizeram seguir “Don’t Go”, canção que explorava um outro relacionamento mais efusivo com a pista de dança, que já haviam tateado em “Situation”, lado B do single de estreia que, adiante, teria vida própria. Mas ao editarem o álbum de estria “Upstairs At Eric’s” (ainda em 1982) mostraram que havia na sua música mais que uma mera vontade em traçar linhas pop claras e polidas, passando nas entrelinhas uma vontade de experimentar uma maior ousadia formal e, ocasionalmente, ousar ir além dos limites mais convencionais da canção pop. 

O tempo passou depressa demais para uma banda que então tomou o estúdio como epicentro da sua atividade, na verdade só tendo enfrentado o desafio dos palcos anos mais à frente, por ocasião de uma reunião. Os discos eram assim forma de acompanhar a história de uma dupla que, depois do álbum de estreia, apresentou “The Other Side of Love”, um single em absoluta continuidade com o que até então haviam editado. Sinais mais evidentes de uma progressão surgiriam, em 1983, num segundo álbum no qual o esforço criativo é claramente mais partilhado. As águas estavam então mais separadas, caminhando o alinhamento entre a pop luminosa de Vince Clarke e a melancolia sugerida pelo que parecia ser uma alma menos festiva, segundo Alison Moyet. Mas quando “You and Me Both” finalmente chegou aos escaparates já cada um seguia o seu caminho próprio. Ele gravando pontualmente um single como Assembly, outro com Paul Quinn, antes de encontrar em Andy Bell a voz com que faria dos Erasure a banda central da sua carreira. Ela estreando-se a solo (em 1984) numa obra que caminharia entre os espaços da pop e incursões por heranças do jazz. 

Apesar do fulgor dos singles que encontraram morada nas muitas compilações “aí vai disto” dos anos 80, e de um álbum de estreia que, apesar do sucesso na época, parece muitas vezes ficar injustamente esquecido quando hoje se fazem retratos da pop eletrónica das primeiras colheitas dos oitentas, é no ainda mais discreto “You and Me Both” que encontramos a mais suculenta coleção de canções dos Yazoo, das quais só “Nobody’s Diary” conheceu visibilidade maior (apesar de “Walk Away From Love” ter sido escolhido como segundo single em alguns territórios (Japão e América Latina). A (re)descobrir.

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