Editado a 13 de julho de 1973 o álbum ao qual chamaram simplesmente “Queen” não gerou quaisquer canções de sucesso maior mas, entre ecos do ‘glam rock’, do ‘hard rock’ e do ‘metal’ o disco mostra pistas que abriram caminhos que o grupo depois seguiu. Texto: Nuno Galopim

Com primeiras movimentações ainda no final dos anos 60, envolvendo uma banda, os Smile, que em 1968 juntou o guitarrista Brian May e o baterista Roger Taylor, os Queen deram os seus primeiros depois de uma atuação a 27 de junho de 1970 num evento de recolha de fundos em Truro. Fred Bulsara, o vocalista que recentemente tomara o lugar ocupado por um dos fundadores dos Smile, sugeriu uma mudança de nome para Queen. A coisa não foi unânime, causou até algum debate, mas de facto estava já consumada quando, a 18 de julho, o grupo deu um primeiro concerto, já com o novo nome, em Londres. Por essa altura o vocalista havia também assumido uma nova identidade, passando a apresentar-se como Freddie Mercury, nome que nasceu de uma referência numa das primeiras canções do grupo, “My Fairy King”. Começa então uma etapa de criação de repertório, apresentações em clubes e universidades contando, a partir de 1971, com um novo elemento a bordo, o baixista John Deacon, que então fixa a formação dos Queen que se manterá inalterada por 30 anos (até à morte de Freddie Mercury, em 1991). 

Através de um engenheiro de som que já conheciam dos tempos dos Smile, os Queen são convidados a testar o equipamento de um novo estúdio entretanto criado em Wembley, saindo dessas sessões com uma maquete que apresentam, sem sucesso maior, a diversas editoras (apenas suscitando interesse na Chrysalis, que lhes faz uma proposta que então declinam). Por essa altura, através da intervenção de um promotor, chegam aos estúdios Trident, nos quais são convidados a gravar nas horas livres (sobretudo de noite) e é durante esta etapa que se cruzam pela primeira vez com David Bowie com quem trabalhariam duas décadas depois em “Under Pressure”. As sessões são frutuosas mas longe de pacíficas, sobretudo com a equipa de engenheiros e produção e só encontram uma rota segura quando entra em cena Mike Stone, engenheiro de som que se tornará, durante algum tempo, um colaborador regular, fundamental na captação em estúdio das marcas de personalidade em clara evolução que a música do grupo atravessa na primeira metade dos anos 70.

O álbum, ao qual chamam “Queen” é terminado nos estúdios Trident entre abril e novembro de 1972, antes de um acordo editorial assinado e que acaba por ligar o grupo à EMI depois de uma primeira passagem pela BBC já em inícios de 1973. Um primeiro single no quadro da ligação à editora surge, contudo, fora do rumo dos Queen, com uma versão de “I Can Hear Music” que a banda grava e edita em junho de 1973 sob o nome Larry Lurex, resultado de sessões com o produtor Robin Geoffrey Cable que, anos depois, trabalharia com Lena d’Água. Uma primeira amostra do som de “Queen” surgiria poucos dias depois, a 6 de julho, no single de estreia “Keep Youself Alive”, no qual estão já evidentes marcas da identidade dos Queen, num esforço que, todavia, passou a leste das atenções, fado vincado pela recusa da BBC em incluir a canção na sua playlist. 

O álbum, lançado sete dias depois, mostra que às afinidades com o clima glam rock que o single sugeria, pelo alinhamento havia ainda marcas de relacionamento com o hard rock e o heavy metal, numa sucessão de canções pelas quais despertavam já sinais de visões cénicas mais elaboradas e onde também se destacava a voz de Mercury (e o seu relacionamento com as demais prestações vocais do grupo), assim como o muito particular som de guitarra de Brian May. Apesar de marcado por sinais do seu tempo, o álbum destapa indícios de caminhos futuros, não só pelo facto de incluir uma primeira versão (instrumental) de “Seven Seas of Rhye” (canção que surgiria na sua forma concluída no álbum seguinte) ou por lançar, na sequência de abertura de “Jesus”, o tom rock épico (com um certo rosto teatral) que a música dos Queen trabalharia mais adiante, aqui numa canção que, a meio, assume uma incursão pelo metal, da qual se liberta depois para encarar um final no mesmo tom no qual se apresentara. “Liar”, segundo single (igualmente sem impacte de relevo), assim como o mais moody “The Night Comes Down” são outras das pistas consequentes num alinhamento criativamente dividido essencialmente ente Freddie Mercury (autor de cinco das dez canções do disco) e Brian May (com quatro, entre as quais “Keep Yourself Alive”), com Roger Taylor a escrever e cantar “Modern Times Rock ‘n’ Roll”. O primeiro episódio de sucesso maior, que chegaria pouco mais de um ano depois com “Killer Queen”, ainda estava distante. Mas, apesar de um relacionamento algo azedo com a imprensa musical britânica, o sólido investimento promocional da editora, mesmo não tendo gerado o fenómeno esperado, assegurou ao disco visibilidade suficiente para o fazer notado não apenas no Reino Unido, mas também, depois, nos EUA, Japão e Austrália. 

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