Entre terrenos marcados pelo jazz nos anos 70 e as visões pop que depois exploraram entre 1980 e 1983, os Landscape marcaram sobretudo o seu tempo com “Einstein a Go Go” e “Norman Bates”. Esta caixa alarga o retrato da sua memória. Texto: Nuno Galopim

Por vezes pode partir dos próprios músicos, que em tempos integraram uma banda, a vontade de agir no sentido de impedir que a erosão pelo tempo apague a sua memória. Aconteceu recentemente com os belgas Telex, que a si chamaram o processo de recuperação do seu catálogo, que de facto entretanto acabou por ser reeditado através de um acordo com a Mute Records. O mesmo acontece agora com os britânicos Landscape, coletivo que deu primeiros passos nos anos 70 com uma formação de oito elementos e um rumo apontado a encontros entre heranças do jazz e a emergência das electrónicas na música popular e acabou por se afirmar, já em formação reduzida, entre a geração que, na alvorada dos anos 80, partiu da agitação pós-punk para criar os alicerces de uma nova pop com aromas escutados entre visões de ficção científica e um músculo apontado ao gosto por dançar.
O grupo deu os seus primeiros passos numa residência nas tardes de domingo no Troubadour em 1974. Gravam uma cassete de apresentação no ano seguinte, amplificam a agenda de concertos, conquistam mais visibilidade e fazem a sus estreia em disco com “U2XME1X2MUCH”, um EP de 1977, com três composições instrumentais jazz rock nas quais os sintetizadores marcam sinais de identidade. Este EP corresponde aos registos de arquivo mais antigos chamados agora ao alinhamento de “The Story of Landscape 1977-83”, uma caixa de 5 CD que reune a integral da obra em disco dos Lanscape, incluindo portanto o EP de 1978 “Workers Playtime” e o álbum de estreia “Lanscape” (1979), memórias desta etapa traçada em terrenos marcados por ligações ao jazz que aqui envolvem ainda gravações inéditas captadas ao vivo entre 1977 e 1979.
O “salto” que deu finalmente (pontual) visibilidade maior aos Landscape chega depois de um solavanco que os faz mudar de rumo, já com formação mais reduzida quando, chegados a 1980, apontam novos azimutes à exploração de novas possibilidades para a canção pop que as eletrónicas estavam a colocar em cena. Lançam então o single “European Man – computer programmed to perfection for your listening pleasure”, recuperando no lado B “The Mechanical Bride”, do álbum de 1979 (tema que recorda que uma agenda sci fi já por ali andava). As linhas sugeridas por “European Man” (canção que levantava uma visão europeísta que então era partilhada entre outras mais bandas, como por exemplo, os Ultravox, traduzindo uma ideia de progresso e modernidade) abrem caminho aos dois episódios de sucesso vividos pelos Landscape em 1981 ao som de “Einstein A Go Go” e “Norman Bates”, acentuando depois o álbum “From the Tea-Rooms of Mars … to the Hell-Holes of Uranus” os traços de personalidade de uma banda que, mesmo em sintonia com os sinais dos tempos, não perdera o gosto por explorar formas mais desafiantes entre os sons, reclamando para a música da banda os ensinamentos colhidos pelo próprio vocalista, Richard James Burgess que, em 1980, ganhara algum protagonismo ao produzir o álbum de estreia dos Spandau Ballet. Porém, apesar de ainda terem somado mais um episódio de reconhecimento com uma segunda edição em single de “European Man”, os Landscape não repetem no álbum seguinte “Manhattan Boogie-Woogie” (1982), nem a vertigem nas formas nem o patamar de adesão levantado pelos lançamentos de 1981. Reduzidos a trio ainda lançam dois discretos singles como Landscape III em 1983, antes de saírem do mapa. Fez-se longo silêncio, quebrado apenas por uma reedição em CD (dois em um) dos dois primeiros álbuns nos anos 90, surgindo depois, em 2009, outro lançamento juntando o álbum de estreia ao LP de 1982.
A caixa que agora é editada surge depois de um acordo recentemente assinado com a Cooking Vinyl que começou por apresentar novas remisturas de canções originalmente editadas no início dos anos 80, agora reunidas nesta antologia que, de toda a obra do grupo, só deixa de fora a cassete “Thursday 12th” de 1975.
“The Story of Landscape 1977-83”, dos Landscape, está disponível em 5CD e nas plataformas digitais numa edição da Cooking Vinyl.




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