Cantata cénica deixada inacabada, “Atlântida” foi concluída a partir de esboços deixados pelo pelo compositor espanhol Manuel de Falla. Teve estreia nos anos 60 e conheceu uma versão final já nos anos 70, à qual corresponde esta gravação de 1978. Texto: Nuno Galopim

Longe de constar entre as mais célebres do século XX, e com relativamente curta expressão discográfica, a “Atlântida” de Manuel de Falla (1876-1946) é obra digna de ser (re)descoberta. Começou por ganhar forma em 1926 como uma cantata, mas não mais saiu dos sonhos do compositor andaluz que continuou a trabalhar a construção de uma obra maior, deixando-a contudo inacabada. 

Tendo por ponto de partida um fascínio pela mitologia do velho continente perdido da Atlântida e em particular o poema “L’Atlàntida”, do catalão Jacint Verdaguer i Santaló, Manuel de Falla ligou as suas afinidades geográficas e culturais com os cenários evocados pelo poeta e mergulhou num longo processo de exploração. Esse percurso ocupou-o durante anos a fio, tendo Cádis, a sua cidade natal, como epicentro, juntando às suas memórias vivenciais um conjunto de visitas de trabalho a outros lugares igualmente referidos no poema, de Jerez de La Frontera ou Medina Sidonia até Tarifa, naturalmente sem esquecer o rochedo de Gibraltar. A narrativa começa por evocar um muito jovem Cristóvão Colombo ainda nos dias de infância, volta a cruzar a trama com a realidade ao reencontrá-lo com a rainha Isabel de Espanha, mas insiste sobretudo na dimensão mitológica da história do continente perdido, contada por um ancião ao jovem futuro aventureiro. 

Manuel de Falla

Manuel de Falla morreu na Argentina em 1946, deixando páginas e páginas de esboços que Ernesto Halffter estudou a rigor, a partir deles completando “Atlântida”, uma cantata cénica, particularmente rica em momentos corais, da qual um conjunto de excertos conheceu primeiras apresentações em Barcelona e Cádiz em 1961, tendo lugar um ano depois, no La Scala, em Milão, a estreia da versão “integral”. A obra conheceu ajustes em apresentações posteriores até à fixação de uma versão “definitiva” em 1977, um ano antes da sua primeira gravação em disco,  numa caixa de 2LP (lançada pela EMI) numa interpretação sob direção de Rafael Frühbeck De Burgos, com a Orquestra Nacional de Espanha (e respetivo coro), contando no elenco com nomes como os de Enriqueta Tarrés, Anna Ricci ou Eduardo Giménez, com uma magnífica capa de Joaquin Vaquero Turcios. Uma segunda gravação surgiria em CD, em 1993, tendo a célebre Teresa Berganza no elenco.

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