A história começa quando a década de 80 dá os primeiros passos, em Leighton Buzzard, com um grupo de quatro amigos que ensaiam caminhos na pop animados pelo clima pós-punk que os rodeava e pela descoberta de novos sintetizadores, mais portáteis, menos caros, que começavam a encontrar lugar entre as novas bandas que então começavam a entrar em cena. Steve Askew (guitarra), Stuart Croxford Neale (teclas), Jez Strode (bateria) e o baixista Nick Beggs (que inicialmente assumia também o lugar de vocalista), que se apresentavam como Art Nouveau, chegaram a editar o single “Fear Machine” em 1981 que chega a passar pelo programa de John Peel na BBC mas que na verdade pouco mais agitação consegue conquistar. Partem em busca de um novo vocalista e é então que conhecem Chris Hammil, por então com dois singles editados e que usava já como nome artístico Limahl, um anagrama do seu nome de família. O novo vocalista não só passa a dividir os créditos da composição com Nick Beggs como acaba por ser quem os leva ao encontro de Nick Rhodes, teclista dos Duran Duran que conhece no bar onde trabalha e que, juntamente com Colin Thurston (o mesmo de “Duran Duran” e “Rio”) forma a dupla de produção que se senta por detrás da mesa dos estúdios Chipping North e Utopia onde, entre 1982 e o início de 1983 nascem as canções que fariam o alinhamento de “White Feathers”, álbum de estreia da banda que, entretanto, deixara para trás a designação original e se mostrava agora como Kajagoogoo, palavra que, explicavam então vezes sem conta, correspondia aos primeiros sons que um bebé poderia fazer…


O álbum surge na primavera de 1983, ou seja, foi concluído depois do inesperado êxito de proporções significativas gerado por “Too Shy”, single de estreia, lançado em janeiro, e que havia dado ao produtor Nick Rhodes um número um no Reino Unido antes mesmo de alcançar semelhante feito com os Duran Duran (o que aconteceria semanas depois, em março desse mesmo ano). Desde logo com uma presença evidente do baixo de Nick Beggs, sob cenografias dominadas pelos sintetizadores e com arquitetura rítmica vincada pelas então emergentes baterias electrónicas, “Too Shy” lançou um caminho que o álbum depois seguiu, não repetindo contudo o mesmo patamar sugerido pelo single de estreia, no qual se aliava uma certa melancolia a um momento de festa a piscar o olho à pista de dança. O também melancólico “Hang on Now” seria escolhido como terceiro single, embora o tom dominante do álbum ficasse mais próximo da pop mais sorridente de “Ooh To Be Ah”, o sucessor de “Too Shy” na discografia a 45 rotações e lhes daria o segundo melhor resultado comercial. Na verdade, apesar de tantas vezes recordados (erradamente) como one hit wonders, os Kajagoogoo não tiveram em “Too Shy” o seu único episódio de sucesso maior (habitualmente medido então pela presença de singles no Top 40). “Ooh To Be Ah” deu-lhes um número 7 no Reino Unido e Irlanda e um número 20 na Alemanha, “Hang On Now” um número 13 em casa e 10 na Irlanda e, depois da cisão que reduziu o grupo a quatro ainda em 1983, “Big Apple” e “The Lion’s Mouth” deram-lhes mais momentos de êxito nestes mesmos territórios, com o seguinte “Turn Your Back on Me” a ter repercussão ainda na Alemanha e Holanda, assim como na tabela de música de dança nos EUA (onde alcançou o segundo lugar).
A saída de Limahl em finais de 1983 deixou Nick Beggs aos comandos de uma nova etapa menos açucarada, que não repetiu contudo o furacão de atenções entre o público teenager que tinha reagido ao grupo entre a primavera e verão de 1983. Já Limahl optou por apontar inicialmente a carreira a solo por trilhos menos afastados de “White Feathers”, tendo conquistado novo episódio de popularidade global, já em 1984, com “Neverending Story”, sob assinatura e produção de Giorgio Moroder. O fosso que se criou entre Limahl e os restantes músicos, que tinham colocado um ponto final ao percurso da banda depois de um terceiro álbum (em 1985), foi-se alargando até ao momento de reencontro proporcionado pelo programa “Bands Reunited” da VH-1 em 2003, ao que seguiram outros episódios de reunião, sobretudo no palco, chegando mesmo a haver um novo single (“Death Defying Headlines”) em 2011. Quarenta anos depois o single “Too Shy” é naturalmente apontado como o feito maior da banda mas ao álbum “White Feathers” vale a pena dar reconhecimento como um episódio significativo numa etapa de crescimento e afirmação do synthpop, que definia os climas dominantes da banda sonora da cultura teen britânica (e também na Europa continental) na alvorada dos anos 80.
Como dado extra para colecionadores vale a pena lembrar que a edição portuguesa de “White Feathers” é diferente de todas as demais, apresentando uma fotografia da banda.





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