A história da imprensa musical conheceu importantes espaços de afirmação com a progressiva implantação de publicações como a revista norte-americana “Billboard” ou o jornal britânico “Melody Maker”, a primeira com um percurso que recua aos finais do século XIX (se bem que com a música como seu único foco apenas depois dos anos 50), o segundo com berço na década de 20, originalmente com o jazz no centro das suas atenções. A eclosão da cultura rock’n’roll amplificou a procura e oferta, tendo então surgido, no Reino Unido, outro dos pilares desta história, o semanário “New Musical Express”, ou seja, o NME (um rebranding do antigo “Musical Express”), que se afirma então como uma das forças maiores na história do jornalismo musical, definindo paradigmas nos modos de apresentar críticas e até mesmo a procura de novos ângulos para as entrevistas a músicos. Através de revistas, das propostas para leitura mais adulta veiculada pela francesa “Rock & Folk” às visões para um público juvenil, desde a “Salut les Copains” (também em França) ou a igualmente bem sucedida “Smash Hits” (britânica) crescem novas possibilidades de utilização das imagens e do design. Coube porém a uma nova geração de publicações, que começaram a surgir nos anos 80, a criação de um novo episódio nesta narrativa, cabendo aqui à revista inglesa “The Face” um papel determinante na afirmação de um modelo de jornalismo que partia de uma escrita sólida, bem informada e atenta à novidade (não apenas na música mas numa ideia de cultura pop de visão mais alargada), apoiada por boa fotografia e um design igualmente apurado.
Com um primeiro número lançado em maio de 1980 e desde logo com periodicidade mensal, a “The Face” rapidamente conquistou um lugar junto de quem procurava estar a par do que acontecia na linha da frente de uma nova cultura pop que partia da música e estabelecia ligações evidentes com a moda, a noite, a criação de imagens e tudo o que fossem tendências, não apenas com geografia londrina, mas com ambição de olhar e escutar mais além. A “The Face”, mais do que os semanários sobretudo focados no peso da crítica, foi a voz de sucessivas vagas emergentes, dos new romantics de 1980 e das primeiras expressões de atenção pela cultura hip hop à expulsão da club culture na segunda metade dos anos 80 ou a visão de formas musicais de outras proveniências antes mesmo da normalização da comunicação da world music na imprensa mainstream.
Da história da “The Face” vale a pena destacar a “felicidade” da evolução do seu logotipo, uma das várias manifestações de um relacionamento da revista com o design que, ainda na primeira metade dos anos 80 levou à ficha técnica a presença de um nome maior como Neville Brodie (que foi diretor artístico da publicação de 1981 a 1986). Nos anos 90 um processo movido por Jason Donovan deixou a revista à beira do fim, tendo a “The Face” lançado campanhas de recolha de fundos que incluiu ate mesmo a oferta de um disco especial dos The Shamen, o “The Face EP” (1992).

Um declínio nas vendas na reta final dos anos 90 levou à sua venda a um novo proprietário, conhecendo a publicação um ponto final em 2004, que se manteria até que, integrada num novo grupo, renasceu em 2019, mantendo-se novamente ativa desde então, embora sem o impacte cultural de outrora (que, na verdade, esmoreceu depois da primeira metade dos anos 90). Em 2017 o livro “The Story of the Face: The Magazine That Changed Culture”, de Paul Gorman, contou a história da revista entre o seu nascimento e 1999, ou seja, o período em que foi propriedade de Nick Logan, antigo jornalista do NME e da “Smash Hits” que, com as suas poupanças, lançou esta publicação na alvorada dos anos 80.





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