Ofra Haza tinha deixado de ser um segredo bem guardado da música israelita quando, em 1983, representou o seu país no Festival da Eurovisão, obtendo um segundo lugar com a canção “Hi”, dando ao single ampla distribuição por toda a Europa. Nesse mesmo ano edita, localmente os álbuns “Hi” e “Shirey Moledet”, este último traduzindo uma rota de reencontro com canções de raíz local que abriu o caminho ao passo seguinte que, talvez com surpresa, acabaria por assegurar à cantora nascida em 1957 um definitivo passaporte para uma maios sólida e duradoira carreira internacional.

Com ascendência numa família vinda do Iémen, e toda uma infância vivida, já em Israel, escutando tanto as tradições da música folk local como a pop que chegava de fora, Ofra Haza tinha, todavia, nas canções da terra dos pais, as suas mais antigas referências. A mãe, que tinha sido cantora profissional antes de emigrar, conhecia um amplo repertório de clássicos da folk iemenita, tanto que essas heranças marcaram a jovem Ofra Haza quando, ainda muito jovem, começou a integrar grupos de teatro e a cantar em público. E se foi pela sua costela pop que deu depois primeiros passos discográficos, às canções que tinham marcado a sua infância regressou quando, em 1984, resolveu criar um álbum focado nessas mesmas memórias.

Assim nasceu “Shiri Teyman”, internacionalmente editado com “Yemenite Songs”, disco que partiu da poesia de Shalom Shabazi (poeta iemenita do século XVI) e que depois juntou ecos de tradições folk judaicas locais, cruzando todas essas valências resgatadas a outros tempos com instrumentos contemporâneos, acentuando as dinâmicas rítmicas com metais e madeiras, criando uma música que, embora nascida de raízes antigas, respirava contemporaneidade. Com temas cantados tanto em hebraico como em árabe, vincando também aí esta lógica de pontes, o álbum, gravado e produzido localmente, cedo despertou ressonâncias noutras latitudes. Editado antes dos focos de atenção que a emergência da world music como espaço de mercado com visibilidade maior alcançaria a caminho do final dos anos 80, “Yeminite Songs” incluía as versões originais tanto de “Im Nin’alu” (que obteria sucesso global numa remistura lançada quatro anos depois) como “Galbi” (que seria, também numa nova mistura, o segundo single do álbum internacional “Shaday”, de 1988).

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