Um dos mais inesperados fenómenos musicais da década de 60, e que deu à Bélgica a estreia no topo da tabela de singles norte-americana durante algumas semanas, em dezembro de 1963, a freira que ficou internacionalmente conhecida como The Singing Num, Irmã Sorriso ou, em territórios francófonos, como Soeur Sourire, nasceu faz hoje 90 anos num subúrbio de Bruxelas. Jeanne-Paule Marie Deckers começou por integrar as Guias Católicas da Bélgica e deu aulas de escultura antes de, em 1959, entrar para o convento dominicano de Fishermont, na cidade de Waterloo, adotando então o nome de irmã Luc Gabriel. Por essa altura já compunha e cantava as suas próprias canções, herdeiras de tradições folk até que acabou por rumar a um estúdio em Bruxelas onde gravou uma série de faixas que editaria em 1963 no álbum de estreia ao qual foi dado o nome pelo qual acabou conhecida.
“Soeur Sourire”, que em alguns territórios foi lançado como “The Singing Nun” (com capa diferente e alinhamento com mais faixas do que as oito presentes no dez polegadas original), é um disco de canções claramente marcadas pela fé e as vivências da cantora que, através de “Dominique”, extraído para edição em single e EP pelo mundo fora, lhe deu um sucesso colossal à escala internacional, levando-a a programas como, entre outros, o show de Ed Sullivan (nos EUA), alcançando o primeiro lugar em países como, além dos Estados Unidos, o Canadá, Austrália e Nova Zelândia, e posições de destaque na Dinamarca, Noruega, Suíça, Irlanda, Reino Unido ou Uruguai, entre muitos outros. Houve versões em várias línguas, uma delas em português, mas com letra substancialmente diferente, assinada pela cantora Giane. Em Portugal surgiu, em 1964, uma versão (em francês) cantada pelo Duo Ouro Negro.



O impacte do single e do LP de estreia não se repetiu num segundo álbum lançado no ano seguinte, o que não travou a criação de um primeiro filme inspirado pela vida da protagonista, “The Singing Nun”, com Debbie Reynolds a vestir a pele da freira cantora, aqui apresentada como irmã Ana. O filme não terá sido acolhido com entusiasmo pela figura que o inspirara que, por essa altura, era já confrontada com a outra face da fama, entrando a sua vida numa espiral de desencantamento que passou pela magra soma de dinheiro que a venda dos discos lhe rendeu (tendo doado ao convento a sua parte) e que, depois, assistiu a um afastamento da própria da vida monástica, terminando, de forma trágica em 1985, num suicídio em conjunto com a sua companheira, em parte motivado por dificuldades financeiras, que nem mesmo uma tentativa de reativação da sua obra através de uma versão eletrónica em 1982. Tinha então 51 anos.
O clássico “Dominique” representa ainda hoje uma das raríssimas canções em língua que não o inglês a ter alcançado o topo da tabela de singles nos EUA, sendo a única cantada em língua francesa que o conseguiu. As restantes foram “Nel Blu Dipinto di Blu” do italiano Domenico Modugno (1958), “Sukiyaki” do japonês Kyu Sakamoto, “Rock Me Amadeus” do austríaco Falco (de 1986, cantada em alemão), “La Bamba” dos Los Lobos (1987), “Macarena” dos Los Del Rio (1996) e “Despacito” de Luis Fonsi (2017), estas três últimas cantadas em espanhol e ainda o encontro dos Colplay com os sul-coreanos BTS com “My Universe” (2021) e “Like Crazy”, de Jimin (também dos BTS).





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