Com carreira inicialmente feira na outra face dos discos, movendo peças nos bastidores sobretudo como manager (dos Sex Pistols ou dos Bow Wow Wow), Malcolm McLaren estreou-se como músico na banda sonora de The Great Rock and Roll Swindle (1979) antes mesmo de ter apresentado uma série de ensaios sobre a emergente cultura hip hop em “Duck Rock”, álbum de 1983, moldado pela equipa então reunida por Trevor Horn, e no qual era ainda exploradas algumas heranças de uma música urbana africana então ainda com escassa visibilidade nos espaços da pop ocidental. Dois anos depois o passo seguinte levá-lo-ia a algo completamente diferente: o mundo da ópera.

Com “Madam Butterfly”, canção inspirada pela trama narrativa (e incluindo até elementos da ária “Un bel di vedremo”) da ópera “Madama Buttefly” de Puccini, Malcolm McLaren anunciava em finais de 1984 a criação de uma visão de diálogo possível entre a cultura pop e o universo da ópera. O sucesso do single em vários mercados europeus alertava as atenções. Até porque, depois do single, chegou um álbum ao qual chamou “Fans”. Pensado concetualmente, com um alinhamento que traduzia em várias outras composições o mesmo modelo de diálogo desenhado no single de apresentação, “Fans” é um disco que, mesmo desigual na forma de estabelecer esses contactos, é uma peça pop claramente marcante pelo modo como desenha um conceito de ponte entre universos que nem sempre se cruzam mas que, ocasionalmente, como o mostrariam depois os duetos de Freddie Mercury com Monserrat Caballé ou as criações para os palcos de teatros de ópera de Franco Battiato, Rufus Wainwright, Damon Albarn ou os suecos The Knife, podem estabelecer interessantes rotas de comunicação entre si.

O alinhamento de “Fans” centra-se essencialmente em óperas do período romântico. Evoca sobretudo a música de Giacomo Puccini já que, além de duas incursões por “Madama Butterfly”, apresenta abordagens igualmente pop à colossal “Turandot”  (naturalmente piscando o olho ao célebre “Nessun Dorma”) e a “Gianni Schicchi”, abrindo depois como única exceção um olhar (com maior presença das guitarras) pela “Carmen” de Bizet, que seria escolhido como segundo single, embora sem o impacte do primeiro. Esta seria a única incursão de Malcolm McLaren pela ópera. O seu regresso a territórios “clássicos” aconteceria, quatro anos depois, mas com a valsa e ecos da cidade de Viena no centro das atenções.

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