A saída de Brian Eno após a edição do segundo álbum dos Roxy Music tinha lançado o alarme e os cabeçalhos nos jornais e revistas que seguiam mais de perto a atividade pop/rock não deixaram de anunciar que o grupo podia ter terminado ali a sua carreira. Mas três meses depois da saída do esteta que ajudara a definir a visão art rock pela qual o grupo entrara em cena, os Roxy Music estavam de regresso a estúdio.

Tendo assimilado ideias e soluções usadas durante a gravação do seu primeiro álbum a solo e trazendo a bordo o teclista Eddie Jobson, Bryan Ferry partilhou com Manzanera e MacKay dois episódios de escrita que, curiosamente, geraram os dois momentos mais inesquecíveis do alinhamento de um álbum que, para espanto geral, anos depois, numa entrevista, Brian Eno afirmou ser o seu preferido da obra dos Roxy Music posterior à sua saída do grupo.

“Stranded” é um disco consideravelmente diferente dos dois anteriores, apesar de refletir ainda algumas soluções tímbricas semelhantes, consequência sobretudo do leque instrumental usado. Mas a forma de pensar as canções era agora, como diriam os Monty Python, algo completamente diferente.

A mais evidente das diferenças revela-se no modo como o grupo parece procurar caminhos de pontaria mais afinada em busca da canção pop perfeita, de certa forma representando “A Song For Europe” a primeira etapa de um processo de procura que culminaria com o eureka encontrado após a reunião em finais dos anos 70 que se materializaria depois entre os álbuns “Manifesto”, “Flesh & Blood” e “Avalon”. Sob ecos do que representava o modelo da canção eurovisiva, naturalmente explorando ali tanto as afinidades como os contrastes, “A Song For Europe”, co-escrita com Andy MacKay tornar-se-ia num dos clássicos maiores da obra dos Roxy Music. A outra parceria na escrita, criada juntamente com Phil Manzanera, é “Amazona”, outro exemplo de um ensaio por um melodismo pop e uma pose teatral que Ferry vestiu ali na perfeição.

O alinhamento, que abre com o mais viçoso “Street Life” deixa logo ali claro que, apesar das afinidades sonoras com a instrumentação já conhecida nos discos anteriores do grupo, não havia ali o sentido de “loucura” e mesmo de perigo (no sentido de confronto face às normas vigentes) que habitava canções como “Virginia Plain” ou mesmo a mais recente “Do The Strand”. Há, de resto, ao longo de todo o alinhamento, sinais vários de uma vontade em moldar e polir arestas a canções que, se por um lado perdem na ousadia, ganham na expressão de uma composição mais refletida e numa arte final mais atenta ao detalhe. Uns novos Roxy Music nasciam aqui com horizontes e ambições apontadas a outros patamares.

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