O fim do relacionamento com o grupo EMI, que deixara inclusivamente o disco de 1997 “Medazzaland” sem edição em solo europeu, e o afastamento de John Taylor faziam da reta final dos anos 90 um tempo assombrado na vida dos Duran Duran. Talvez o período mais difícil da sua carreira. Com Simon Le Bon, algo desmotivado, a condução dos trabalhos de criação de um novo álbum coube sobretudo ao teclista (e fundador do grupo) Nick Rhodes e ao guitarrista Warren Cuccurullo que, juntos, vinham há já algum tempo a desenvolver ideias para um possível projeto paralelo a que chamavam TV Mania (nome já presente nos créditos de produção de “Medazzaland” e que teria neste novo álbum um papel semelhante). Ao disco, editado em junho de 2000, chamaram “Pop Trash”. Foi dos menos bem recebidos de toda a discografia. Mas, apesar de estar uns furos acima dos momentos fixados em “Liberty” (1990) e “Thank You” (1995), e de conter entre o seu alinhamento algumas canções bem mais interessantes do que as que fariam depois a maioria do alinhamento do posterior “Astronaut” (2004), é um disco sem rumo verdadeiramente encontrado, disperso entre demasiadas ideias, espelhando o clima de alguma desorientação que conhecia uma etapa na vida da banda que estava então em fim de ciclo.

Musicalmente o disco revela um alinhamento entre o conjunto de ideias lançadas depois do “Wedding Album”, revelando uma busca de uma identidade próxima de referências mais caras ao universo indie dos anos 90 (nomeadamente ecos do psicadelismo) em vez de outras linhas, próximas das matrizes new wave, pop e white funk, que tinham caracterizado o seu período clássico entre 1981 e 1986. Canções como “Hallucinating Elvis” ou “Lava Lamp” traduzem essa atmosfera, a primeira vincando a presença de guitarras mais cavas que teriam voz ainda mais amplificada em “Playing With Uranium” (escolhido como segundo single, embora apenas em Itália) ou “Last Day on Earth” (segundo single, este lançado somente no Japão). Escolhas pouco certeiras para singles, sublinhe-se. “Mars Meet Venus” continuava, num outro sentido, a explorar uma relação de um som pop/rock cruzando guitarras e camadas de sintetizadores com batidas mais próximas da música de dança, vincando a identidade 90s do som dos Duran Duran nesta etapa do seu percurso, marcada possivelmente pelo modo como colossos indie do seu tempo, dos Smashing Pumpkins às Hole, apontaram então a banda entre as suas referências.
Para o single de avanço (o único com expressão global) foi (bem) escolhido o tema “Someone Else Not Me”, uma balada de travo clássico e, talvez, a mais nutritiva das canções do álbum. Dominada por memórias que evocam a pop clássica de finais dos sessentas é mesmo um clássico perdido do grupo, esquecido no nº 52 do qual não passou no Reino Unido e não chegando sequer a surgir na tabela americana, tendo contudo versões em francês e espanhol. O single foi acompanhado por um teledisco criado na emergente tecnologia marcomedia flash em mais uma manifestação do pioneirismo que sempre cativou o grupo.
Além de “Someone Else Not Me” os melhores momentos de “Pop Trash” surgem entre outras baladas ou canções mid tempo. “Lady Xanax”, com um refrão de fulgor épico, é talvez a mais evidente herdeira do caráter luxuriante da pop dos Arcadia em toda a obra dos Duran Duran. Já Pop “Trash Movie”, originalmente composta para o regresso dos Blondie (mas depois não gravada pelo grupo americano) representa uma investida num espaço de elegância orquestral que levam depois igualmente a “The Sun Doesn’t Shine Forever”.
O conjunto de micro-experiências que, sob a designação “Prototypes”, encerra o alinhamento de algumas edições especiais do disco, é interessante enquanto revelação de universos experimentais, mas é um ovni que aqui não ac rescenta na verdade muito ao que o disco tem para mostrar.
Para a capa o grupo escolheu um close up sobre a carroçaria de um dos carros de Liberace, coberto de espelhos. Na contracapa o grupo mostrava-se na imagem oficial menos cool de toda a sua carreira…
O disco nascia de um acordo com a Hollywood Records, etiqueta do grupo Walt Disney com a qual o grupo não teve um relacionamento pacífico. A promoção foi de facto pouco incisiva e tornou-se histórica a frase de Nick Rhodes que comentava o facto de o logótipo da companhia mostrar duas orelhas, observando ele que, numa certa reunião, ninguém ali parecia ter ouvidos.
As más vendas do álbum abriram caminho para o fim do relacionamento do grupo com a editora. E depois de uma digressão mais bem sucedida na bilheteira do que as vendas do álbum em discotecas, Warren Cuccurullo seria igualmente afastado… Abria-se o caminho para uma nova etapa, que veria a formação “clássica” (a de 1980-85) reunida na alvorada do novo milénio.
Agora, 23 anos depois, “Pop Trash” conhece finalmente uma edição em vinil, num lançamento que finalmente assegura a representação da totalidade da discografia de álbuns de estúdio dos Duran Duran neste formato. O disco, apresentado num LP duplo, tem o alinhamento apresentado entre as faces A, B e C, surgindo na face D a série “Prototypes” e as versões em espanhol e francês de “Someone Else Not Me” que o CD original também incluía. Uma reedição em CD tinha já surgido há cerca de um ano, por alturas de uma campanha que incluíua álbuns originalmente lançados entre 2000 e 2010 e ainda o disco do projeto parelelo TV Mania.
As eventuais futuras campanhas de reedições em vinil do acervo de arquivo dos Duran Duran (e arredores) podem agora apontar ao álbum do projeto paralelo The Devils, assim como aos registos ao vivo “BBC In Concert: Hammersmith Odeon 17th December 1981”, “Live at the Beacon Theatre (NYC 31st August, 1987” ou “BBC In Concert: Manchester Apollo, 25th April, 1989”, todos eles disponíveis até aqui apenas em lançamentos digitais, ou a antologia “Strange Behaviour”… Isto sem colocar de lado eventuais gravações inéditas ainda em arquivo, eventuais novas compilações temáticas (e haja criatividade para as desenhar) ou a muito falada conclusão de “Reportage”, o disco no qual estavam a trabalhar depois de “Astronaut” e que acabou na gaveta… Pelas declarações recentes de elementos da banda e do antigo guitarrista Andy Taylor, talvez seja este último o próximo a avançar…
“Pop Trash”, dos Duran Duran, está disponível em 2LP numa edição Tape Mondern / BMG.





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