A frequente edição de álbuns temáticos em tempo de Natal foi uma das mais bem recebidas entre as novidades trazidas pela entrada em cena do LP, em 1948. O formato, que ganhou enorme popularidade nos anos 50, e que assim fez dessa década a mais prolífica em “sucessos” natalícios nas vozes de então. Não deixa de ser curioso o facto do álbum mais vendido de toda a década de 50, nos EUA, ter sido “Elvis’ Christmas Album”, primeira “aventura” de Elvis Presley (1957) fora do registo estético e temático do rock’n’roll que o lançara em 1954. Entre os LPs mais populares dos anos 50 contam-se ainda outros sucessos de Natal como “Merry Christmas”, de Johnny Mathis (1958), “A Jolly Christmas From Frank Sinatra”, de Frank Sinatra (1957) ou “Merry Christmas”, de Bing Crosby (1957). Ao todo, nove entre os cem discos mais vendidos da década foram álbuns de Natal.

Os primeiros êxitos de Natal revelavam um apelo a valores tradicionais com os artistas, até mesmo no caso de Elvis Presley, a mostrar uma imagem sóbria e familiar nas respetivas capas. Os standards característicos da quadra, que dominaram os primeiros discos, aos poucos começaram a dar lugar a inéditos, criados em sintonia com as regiões demarcadas das linguagens ou identidades dos respetivos artistas. E pelos discos de Natal começam a surgir tanto novas versões de velhos “clássicos” como canções com a mesma carga de novidade das que o resto do ano ia acolhendo, naturalmente com cenografia e temática natalícia a vincar as diferenças.

Nos anos 60, apesar das frequentes edições “de Natal” de cantores veteranos, a cultura pop invadiu a quadra. E os mais representativos dos títulos natalícios da década de 60 chegaram de figuras do universo pop/rock, nomeadamente Phil Spector (“A Christmas Gift From Phil Spector” é, ainda hoje, uma referência) ou os Beach Boys (“The Beach Boys Christmas Album”, de 1964). Os próprios Beatles registaram várias canções de Natal , mais tarde reunidas em 1970 em dois álbuns que tiveram edição exclusiva para o clube de fãs. É também por esta altura que, entre a geração de vozes que, das raízes do rhythm+n’blues faz nascer a música soul e, pouco depois, o funk, que emerge outra importante linhagem de canções, propondo muitas vezes novos pontos sociológicos que evidenciam as origens dos protagonistas, vindos de diversas comunidades afro-americanas. É aqui que entram em cena as canções de natal de figuras como James Brown, Stevie Wonder ou as das diversas vozes agora reunidas em “Stax Christmas”.

Com a marca da editora Stax (com sede em Memphis e uma política editorial e abordagem estética distintas da congénere Motown, de Detroit), esta nova coleção de canções de Natal escuta ecos do modo como a emergente música soul e, logo a seguir, a pujança do também inovador funk, encararam e assimilaram os desafios de retratar esta quadra. Estão aqui reunidos nomes de referência do catálogo da Stax como Otis Redding, Isac Haayes, Carla e Rufus Thomas, a “house band” Booker T & The MG’s e grupos como os Staples Singers ou os Temprees entre outros mais, propondo um olhar panorâmico sobre este universo. O alinhamento tem em conta o apetite dos colecionadores, incluindo uma versão alternativa do histórico “Merry Chistmas Baby” de Otis Redding ou um take alternativo de “Winter Wonderland” pelos Booker T & The MG’s. Entre as preciosidades a notar temos aqui uma bela leitura soul, por Clara Thomas, de “Blue Christmas” (que se transforma numa balada) ou o balanço funk que Albert King lança sobre “Santa Claus Wants Some Lovin’”.

“Stax Cristmas”, que junta vários artistas, está disponível em LP, CD e nas plataformas de streaming num lançamento Concord/Craft

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