A notícia parou o mundo. Parecia ser a coisa mais impossível. E foi com esse mesmo tom de surpresa que, na noite do dia 8 de dezembro de 1980, com ressonâncias deste lado do Atlântico bem cedo na manhã do dia seguinte, que muitos jornalistas deram a saber ao mundo a notícia que, tivesse surgido numa trama de ficção, teria sido criticada como inverosímil: John Lennon tinha sido assassinado à porta de sua casa, o mítico edifício Dakota em Manhattam (Nova Iorque). Do tom inédito da situação à procura de uma justificação dos porquês para semelhante ato viveram as reações imediatas, na verdade, mais de 40 anos depois, não parecendo ainda haver explicações racionais para semelhante acontecimento. “Murder Without a Trial”, documentário de três episódios (disponível na plataforma Apple TV), assinado por Nick Holt e com narração de Kiefer Sutherland, não pretende, naturalmente, encontrar essas respostas ainda em falta. Mas, acima de tudo, dá-nos a conhecer, com detalhe, o que aconteceu naquela noite de 8 de dezembro, acrescentando depois um foco sobre o assassino de Lennon e os processos que se seguiram, da investigação à condenação a uma pena (que ainda hoje mantém Mark Chapman preso). 

Além de uma impressionante recolha de imagens e sons de arquivo (entre os quais há momentos em que jornalistas discutem se vão interromper os programas em curso para dar a notícia ou aquele instante incómodo no qual um Paul McCartney fica sem saber reagir ao acontecimento) o documentário – em três episódios – junta uma série de figuras que contactaram diretamente com os factos relatados, algumas dessas pessoas falando aqui publicamente pela primeira vez sobre o que então aconteceu. O porteiro e o segurança do Dakota, alguns daqueles com quem Lennon se tinha cruzado no seu último dia (tanto no estúdio como numa derradeira entrevista), o taxista que parara atrás do carro que levara Lennon e Yoko Ono de volta a casa, o polícia que acorreu ao local e o acompanhou ao hospital, os enfermeiros e médicos que o socorreram… E depois elementos das equipas ligadas à investigação, entre os quais a psicóloga que fez a avaliação de Mark Chapman e o deu como apto para julgamento.

O episódio de arranque, “The Last Day”, só por si justifica desviarmos alguns minutos da nossa atenção para esta série. Ritmado, bem editado, bem focado, lança bem o contar da história. Depois, entre os episódios seguintes, “The Investigation” e “The Trial” mergulhamos atenções na figura de Mark Chapman (que fica imóvel, junto ao Dakota, após os disparos, e se deixa prender). A sua caracterização e o processo que se seguiu (contando a série com gravações da sua voz e até mesmo imagens da sua célebre entrevista dada a Larry King) deixam-nos, ao invés dos relatos factuais do primeiro episódio, com a tal questão do “porquê” por responder (apesar das “explicações”). Há a dada altura uma (escusada) presença de teorias da conspiração que levantam eventuais causas mais obscuras dadas as colisões (que eram conhecidas) entre Lennon e o estado norte-americano nos tempos da administração Nixon (que, convenhamos, eram águas passadas). Sem música, porque de um facto nada musical aqui se trata, “Murder Without a Trial” é, acima de tudo, uma boa recolha de testemunhos. Conta-se uma história. Mas no fim, sem surpresa, ainda não há explicação que a justifique. 

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