Descobrimo-lo, em meados dos anos 70, como a voz e principal força criativa dos Japan. Mas ainda a banda estava longe de ser um caso de sucesso (e de conhecer abrupto fim em parte como consequência do estatuto de maior visibilidade entretanto conquistado), e já David Sylvian experimentava olhares que lançava acima da linha do horizonte, não apenas no projetar do seu futuro mas expressando uma manifesta vontade em desafiar as formas instituídas e experimentar outras ideias, outras materializações das suas visões de música e som.

O seu percurso levou-o desde então a inúmeras rotas, umas mais centradas em reencontros com o formato da canção, outras mais exploratórias, umas assumidas a solo, outras assinadas em parceria com colaboradores e algumas mais novamente vividas como parte de um coletivo tal como sucedeu com o projeto Rain Tree Crow ou os Nine Horses.

Aqui ficam olhares (comentados) sobre a sua discografia editada em nome próprio:

ÁLBUNS

1984. “Brilliant Trees”

O álbum de estreia de David Sylvian definiu novas linhas e horizontes, mas não representou necessariamente um episódio de rutura total face ao que eram os caminhos que a música dos Japan vinha a tomar (aliviando todavia a carga “oriental” que tanto havia caracterizado “Tin Drum” como inéditos entretanto surgidos no duplo ao vivo Oil on Canvas e na antologia “Exorcising Ghosts”, ambas edições já posteriores à notícia da separação do grupo). Na verdade “Brilliant Trees” mantém uma atenção para com o formato da canção e pela ideia de uma estrutura rítmica pronunciada, traduzindo contudo ecos de novos pólos de interesse, nomeadamente nos caminhos do jazz (presença sobretudo notória em “Red Guitar”), funk (escute-se “Pulling Punches”) ou os patamares de uma música ambiental focada na exploração de texturas e silêncios (com o belíssimo “Nostalgia” revelando-se assim como peça central do alinhamento).

O disco foi gravado nos estúdios Hansa, em Berlim, na reta final de 1983, com créditos de produção repartidos entre o próprio David Sylvian e Steve Nye. Entre os músicos que colaboram no disco contam-se dois ex-Japan (Steve Jansen e Richard Barbieri), Holger Czukay, Ryuichi Sakamoto, Mark Isham ou Jon Hassell. A capa mostra uma foto assinada por Yuka Fuji.

1985. “Alchemy: An Index of Possibilities”

Terminado o ciclo centrado no álbum de estreia a solo “Brilliant Trees” David Sylvian apresentou em 1985 um EP instrumental originalmente apenas disponível no formato de máxi-single. Trabalho de parceria na composição com Jon Hassell (um dos colaboradores no álbum de 1984), aceitando num dos temas uma participação nos créditos de Steve Jansen, “Words With The Shaman” envolveu ainda a presença em estúdio de Holger Czukay e vincava uma deriva para lugares mais afastados dos outrora percorridos nos Japan.

Integrando as três faixas deste EP, o segundo álbum a solo de David Sylvian chegou também em 1985 sendo originalmente apenas editado no formato de cassete áudio (salvo em Itália, que então editou vinil), só em 1991 aparecendo depois em CD. Citando diretamente a capa de “Words With The Shaman”,”Alchemy: An Index of Possibilities” recolhe uma série de trabalhos instrumentais, juntando no lado A, às três partes de “Words With The Shaman”, o tema “Preparations For a Journey” (interpretado a solo por Sylvian). Na outra face da cassete era apresentada a banda sonora criada (em colaboração com nomes como Holger Cuzkay, Ryuichi Sakamoto, Robert Fripp, Steve Jansen ou Masami Tsuchiya) para o filme experimental de Sylvian “Steel Cathedrals” que tinha recentemente sido lançado em suporte de cassete vídeo.

1986. “Gone To Earth”

O terceiro álbum a solo de David Sylvian é, na verdade, um dois em um. Editado originalmente no formato de LP duplo (depois, em CD, apresentado como um só disco), “Gone To Earth” apresentava no LP 1 uma coleção de novas canções e, no segundo disco, um conjunto de novas composições instrumentais. Robert Fripp é uma das presenças centrais neste álbum não só por co-assinar alguns dos temas, como pela visibilidade que a sua guitarra tem na mistura final. As canções, concentradas no disco 1, revelam sinais de heranças cada vez mais distantes dos Japan e sugerem ocasionais ecos de um interesse pelo jazz que, de resto, era clima se fizera sentir já em alguns momentos de “Brilliant Trees”. Já os instrumentais do disco 2 optam por uma relação mais próxima com uma noção de música ambiental, valorizando sobretudo texturas criadas por teclados e destacando a presença da guitarra num registo distinto do que se escuta nas canções, assumindo aqui, por vezes, o papel da voz. Além de Robert Fripp são colaboradores neste disco músicos como Bill Nelson ou Kenny Wheeler, mantendo firme as presenças dos ex-Japan Steve Jansen e Richard Barbieri.

A Servir de cartão de visita para o novo álbum o single “Taking The Veil” na verdade revelava já um pouco das faces que o álbum depois aprofundaria. O lado A, propunha uma canção de toada melancólica e com linhas jazzy desenhadas pela guitarra de Robert Fripp, revelando os resultados mais discretos até aí alcançados por Sylvian, iniciando assim uma clara demarcação entre o seu rumo a solo e eventuais expectativas de muitos no pós-Japan. A escolha de um segundo single a extrair do alinhamento do álbum apontou a “Silver Moon”, talvez a canção de recorte mais “clássico” do alinhamento de “Gone To Earth”. Canção longa, com espaço para alguma intervenção instrumental (que uma vez mais sugere uma curiosidade pelas periferias do jazz), “Silver Moon” sugeria caminhos que, sob instrumentação mais contida, Sylvian exploraria logo depos, em “Secrets of The Beehive”.

1987. “Secrets of The Beehive”

Se em “Brilliant Trees” juntou novos ângulos de abordagem jazzística aos arranjos das suas canções e se em “Gone To Earth” aprofundou uma exploração das texturas (no álbum instrumental lança ideias que aprofundará mais tarde) em “Secrets of The Beehive David Sylvian buscou, sobretudo um patamar de simplicidade formal que, mais do que nunca, revelou as formas estruturais e o silêncio que podiam habitar a sua busca na busca por uma linguagem encetada ainda quando integrava os Japan. Visto por muitos como um dos discos fundamentais da sua discografia (porém de comparação difícil com os trabalhos mais próximos da música improvisada que dominaram os cenários posteriores a “Blsmish”), “Secrets Of The Beehive” é o álbum onde David Sylvian se aproxima de uma noção mais “convencional” de escrita.

Sem abdicar da contribuição de vários colaboradores (entre os quais Ryuichi Sakamoto, Steve Jansen e Mark Isham), Sylvian deixa as canções respirar não muito para lá dos alicerces da arquitetura que as sustenta, com os instrumentos a conceder espaço à voz e ao silêncio que, mais do que nunca, se torna visível (escute-se, por exemplo, “Orpheus”, um dos temas centrais do disco). Melancólico, mas não necessariamente frágil, o disco representaria contudo um final de primeiro ciclo na obra a solo de Sylvian. A relativa simplicidade de meios motivou uma digressão (a “In Praise Of Shamans Tour”) que se seguiria. Depois teríamos de esperar 12 anos até reencontrar um novo álbum de canções gravado a solo por David Sylvian.

1988. “Plight and Premonition” com Holger Czukay

Na sequência da colaboração com o veterano alemão (ex-elemento dos Can) Holger Czukay em “Words With The Shaman” e em momentos do álbum “Brilliant Trees” o espírito de entendimento que surgiu entre os dois músicos conduziu-os a uma série de experiências que registariam em dois álbuns editados em finais dos anos 80 e que representam instantes de revelação de novos métodos de trabalho na improvisação que abririam caminhos a formas de trabalho hoje com importante expressão em David Sylvian. 

O primeiro desses dois discos, “Plight & Premonition”, resulta diretamente de dois dias de trabalho em 1986 nos estúdios de Czukay em Colónia (na Alemanha), onde colaborou ainda o DJ e jornalista local Karl Lippegaus. Na verdade o álbum nasceu como fruto de um acaso já que Sylvian estava no estúdio de Czukay para contribuir com a sua voz num dos temas do álbum que o músico alemão então estava a gravar. Começaram a improvisar ideias, que foram gravando ao longo de três noites findas as quais o propósito da viagem de Sylvian a Colónia ainda não estava concretizado. Mas se “Rome Remains Rome” acabou por nascer sem a voz de David Sylvian, em lugar desta parceria havia uma série de gravações que, depois de um longo processo de edição, geraram “Plight”, uma das faces de um álbum que veria a luz do dia dois anos depois. “Premonition”, que ocupa o outro lado do disco, nasceu de uma outra sessão de trabalho definida num ambiente semelhante.

Trabalharam várias fontes de som, de sinais captados pela rádio a guitarras, criando loops em fitas e drones. Czukay começou por arrumar as ideias das sessões. E do trabalho gravado acabou por emergir “Plight”, uma longa paisagem contemplativa de formas suaves (Sylvian atribiu-lhes qualidades cinematográficas), mas plena de elementos que geram acontecimentos nas periferias do silêncio. Meses depois os dois músicos terminariam “Premonition”. Porém, desta vez uma estrutura rítmica mais bem definida logo na origem deixou, como Sylvian depois explicaria, menos espaço de liberdade no processo de edição que, em “Plight” havia sido determinante para moldar as formas finais. Entre os dois momentos emergiu “Plight + Premonition”, um álbum instrumental que aprofundou uma demanda que Sylvian já abordara em “Steel Cathedrals”, aqui alcançando um dos melhores instantes da sua obra não vocal.

1989. “Flux and Mutability” com Holger Czukay

O trabalho conjunto com Holger Czukay no álbum de 1988 “Plight + Premonition” teve continuação direta em 1989 em “Flux & Mutability”, um segundo disco gerado em condições de trabalho semelhantes, chamando contudo outros músicos a estúdio, entre eles o guitarrista Michael Karoli, o percussionista Jaki Liebezeit (que, entre outros, trabalhara com os Can e Brian Eno) e o trompetista e compositor Markus Stockhausen (filho de Karlheinz Stockhausen). Apesar de não ter gerado quaisquer atuações ao vivo, este díptico ficou fixado, além do som, numa sessão de fotos promocionais, por Nick White, que juntou então, David Sylvian e Holger Czuckay num estúdio que não aquele, em Colónia, onde a música dos dois discos havia ganho forma.

Mais elaboradas que as composições do álbum anterior, as duas peças que aqui se apresentam aprofundaram a relação de Sylvian com os métodos da improvisação. “Flux (A Big, Bright, Colorful World)” e “Mutability (A New Begining is in the Offering)”, que estavam, originalmente, projetadas como peças vocais, cabendo tanto a David Sylvian como a Holger Czuckay uma série de leituras que afinal acabaram fora da gravação final, geraram em conjunto um disco que, apesar do otimismo registado no press release, acabou por conhecer reações críticas menos entusiasmadas e vendas mais discretas do que o primeiro álbum criado em parceria pelos dois músicos. De resto este correspondeu ao primeiro lançamento de David Sylvian desde “Obscure Alternatives” (1978), dos Japan, que não chegou a figurar sequer nas linhas mais discretas da tabela de vendas no Reino Unido. Este par de álbuns, assim como o single a solo “Pop Song” (1989) precederam um episódio de reunião dos músicos da formação dos Japan como quarteto, que gerou o álbum que editaram em 1990 sob a designação Rain Tree Crow.

1991. “Ember Glance (The Permanence Of Memory)” com Russel Mills

Apesar de primeiros episódios exploratórios lançados no EP “Words With The Shaman”, no vídeo “Steel Cathedrals” e no díptico de álbuns criados em parceria com Holger Czukay, e um ano após a edição do álbum (único) do projeto Rain Tree Crow (que reuniu os quatro elementos da formação final dos Japan), é com “Ember Glance” que David Sylvian cimenta definitivamente um espaço de trabalho em paralelo a uma obra que, até então, seguira caminhos mais próximos de destinos “convencionais” entre canções, discos e palcos. “Ember Glance” foi, em primeiro lugar, uma exposição integrada numa série de eventos promovidos pela Tokyo Creative ’90, apresentado no Space FGO-Soko do Temporary Museum, em Tóquio (Japão), entre os dias 29 de setembro e 6 de outubro de 1989.

Coordenada por Yuka Fuji, com peças de Russel Mills, a exposição juntava esculturas e instalações acompanhadas com um trabalho de luz e som a cargo de David Sylvian. A música criada para esta instalação traduz duas linhas de trabalho, uma delas ensaiando linhas abstratas, a outra, explorando igualmente formas ambientais, mas aqui cruzando os instrumentos (sobretudo electrónicas) com sons de vozes e lugares, diluindo geografias e tempos, aqui sugerindo pistas que Sylvian trabalharia pouco depois no magnífico “Approaching Silence” (colaboração com Robert Fripp), originalmente lançado numa cassete, em 1994. Ambos os trilhos definiam, em primeiro lugar, os fluxos sugeridos para o visitante. Fixada num CD, a música ultrapassou depois o espaço da exposição na forma de dois instrumentais (o longo “The Beekeeper’s Apprentice” e o curto “Epiphany”). O disco surgiu como complemento ao livro de 96 páginas “Ember Glance (The Permence of Memory)” no qual podemos ver fotos das peças ali apresentadas, assim como informação sobre ambos os artistas envolvidos na sua criação. Mais tarde estas duas faixas foram recuperadas pela compilação “Approaching Silence”.

1993. “The First Day” com Robert Fripp

David Sylvian já tinha trabalhado com Roger Fripp, por exemplo, em “Gone To Earth”, representando mesmo o segundo disco desse álbum duplo de 1986 um dos melhores exemplos entre as várias parcerias instrumentais que o músico foi delineando na sua primeira década de trabalho a solo. Apesar de assinado apenas por David Sylvian, o EP de 1985 “Words With The Shaman” (e o álbum instrumental “Alchemy: An Index Of Possibilities” que se lhe seguiu) representa outro espaço de esforço partilhado entre vários músicos e ideias, surgindo aqui, de resto, uma primeira parceria com Fripp (uma das principais forças criativas dos King Crimson). Esse EP e o álbum “Gone To Earth” definiram assim um primeiro patamar de entendimento entre Sylvian e Fripp que levantou hipóteses de novos desenvolvimentos. E em inícios dos anos 90, depois de arrumada a experiência (pontual) com os Rain Tree Crow – projeto nascido de uma reunião de elementos dos Japan – os dois músicos aprofundaram o trabalho conjunto num primeiro disco que assinaram a dois e no qual as marcas mais firmes dos universos de cada um se mostram claras e vivas.

Na verdade, talvez a pulsão rock das guitarras de Fripp e a herança das genéticas progressivas que ele mesmo ajudou a desenhar têm uma presença mais visível em “The First Day”, a Sylvian cabendo contudo a condução dos caminhos das palavras e, sobretudo, uma voz que não deixa escapar a sua personalidade mesmo perante nova cenografia. Sob uma arquitetura rítmica bem definida – algo que Sylvian já conhecera nos Japan e voltaria a viver anos depois via Nine Horses – o disco ora apresenta canções de recorte rock mais clássico como “Jean The Birdman” ou “God’s Monkey” ora mergulha em território de libertação para lá destas formas seguindo velhas sugestões prog, em “Darshan”, contudo, partilhando espaços com uma assinatura rítmica claramente em sintonia com linhas em marcha nos anos 90. O final do alinhamento, ao som do mais ambiental “Bringing Down The Light”, aproxima-se mais de território Sylvian e de experiências instrumentais que caracterizariam alguma da sua (escassa) criação no resto dos anos 90.

1994. “Damage” com Robert Fripp

São raros os episódios de palco no percurso que conheceram edição em disco. Apesar de adepto da improvisação como método criativo, o perfeccionismo com que encarou cada álbum ajudam talvez a explicar esta relativa escassez de títulos “ao vivo”. E na verdade, depois de “Oil On Canvas” que documentou a digressão de despedida dos Japan, só onze anos depois chegou um novo álbum live de Sylvian, desta vez fixando memórias da tour que se seguiu à edição de “The First Day”, disco de colaboração com Robert Fripp editado em 1993. Fripp (guitarra e as suas “frippetronics”), que tinha já colaborado na gravação de “Gone To Earth” (1986), acompanhou Sylvian (voz e teclados) na estrada formando uma banda que integrava ainda o canadiano Michael Brook (guitarra), Trey Gunn (chapman stick, um híbrido entre a guitarra e o baixo) e Pat Mastelotto (bateria). Estes dois últimos e Fripp juntar-se-iam ainda em 1994 para criar uma segunda reunião dos King Crimson (juntamente com Adrian Blew, Tony Levin e Bill Bruford). De resto houve até quem tivesse encarando esta digressão como uma antecâmara para essa nova etapa na vida de uma banda fulcral na história do rock progressivo.

O som elétrico mas de cenografia elaborada que havia caracterizado o álbum com Fripp editado em 1993 é aqui retomado, sendo apresentados no alinhamento cinco das sete canções de “The First Day”. A elas juntam-se ainda “Every Colour You Are” criada com os RainTree Crow e três momentos de “Gone To Earth”, além de três inéditos: “Blinding Light of Heaven”, “Damage” e “The First Day”. Destes três apenas o primeiro conheceria depois edição na sua versão de estúdio, ao ser integrado no alinhamento da compilação “Everything and Nothing”. Em 2001 uma reedição do álbum incluiria o estranhamente ausente “Jean The Birdman”, saindo por sua vez “Darshan (The Road to Graceland)”.

1999. “Dead Bees on a Cake”

Após 12 anos de ausência (em nome próprio entenda-se, já que não faltaram algumas, mesmo que escassas, edições criadas em colaboração), David Sylvian regressou aos discos em 1999 com “Dead Bees On A Cake”. Seguindo uma lógica de continuidade face aos três álbuns vocais que havia lançado nos anos 80 – “Brilliant Trees” (1984), “Gone To Earth” (1986) e “Secrets Of The Beehive” (1987) – o disco de regresso não assinalou sinais de ruptura rumo a uma eventual nova demanda (o que aconteceria mais adiante em “Blemish”), mas sim um novo conjunto de visões num quadro de ideias não muito distantes das que já tinha até então conduzido. O disco retoma colaborações antigas – como Ryuichi Sakamoto ou Steve Janesn – e coloca novas figuras em cena – Bill Frisell, Marc Ribot, Talvin Singh, Ingrid Chavez, Kenny Wheeler – entre os novos parceiros notando-se uma maior presença de nomes com experiência nos espaços do jazz. 

O álbum começou a nascer como projeto de colaboração com Sakamoto que, todavia não se materializou em pleno, tendo alguns desses momentos chegado à versão final do disco que, depois dessa etapa inicial de trabalhos em Nova Iorque, conheceu sessões nos estúdios da Real World, tendo na verdade ganho sobretudo forma só depois, no estúdio caseiro de Sylvian em Minneapolis, com o próprio a assumir a produção e um esforço, sem olhar para o relógio, de moldagem de ideias usando o sampling como ferramenta de reconstrução das canções. Os trabalhos alongaram-se mais do que o originamente imaginado, surgindo o disco apenas em 1999.“Dead Bees On A Cake” foi então acolhido com entusiasmo pelos admiradores de Sylvian e deu origem a uma digressão que chegou a passar por Portugal. O tema escolhido como single para apresentar o álbum foi “I Surrender,” longa e bela canção que em tudo mostrou heranças diretas das experiências a solo de Sylvian nos álbuns que gravara nos oitentas. O single assinalou ainda o regresso (mesmo que pontual) do músico ao top 40 do Reino Unido. David Sylvian extraiu ainda um segundo single, desta vez apontando a escolha a “God Man”, um tema com alma bluesey.

2003. “Blemish”

De uma série de rupturas e transformações surgiu um novo caminho para a música de David Sylvian e coube ao álbum “Blemish”, editado em 2003, ser a primeira expressão de rumos que depois conheceram continuidade. O álbum surgiu num estúdio montado pelo próprio Sylvian, acabando por refletir ecos recentes do seu quotidiano. Característica maior da música deste álbum, a improvisação não era já, por esta altura, uma novidade na obra de Sylvian. Porém, há entre “Dead Bees on a Cake” e “Blemish” uma evidente diferença no modo de encarar a forma da canção e a própria relação com a melodia no corpo das composições. Deixando para trás  a forma da canção “pop” as sessões mergulharam a música de Sylvian numa música ambiental onde texturas, espaços e incidentes ganham rumo através da presença unificadora da voz. O trabalho de descoberta fez-se especialmente a solo, contando com a colaboração do guitarrista Derek Bailey em três canções e Christian Fennez numa outra mais. 

“Blemish” teve um nascimento discreto em maio de 2003 apenas através de um lançamento digital (promovido pelo próprio site do músico), ao que se seguiu, semanas depois, uma edição em CD que inaugurou o catálogo físico da Samadhisound, entretanto criada pelo próprio Sylvian. Em 2004 houve um lançamento (limitado) em vinil, tendo o tempo tornado ambas as edições em objetos de coleção. A segunda edição em vinil acrescentaria ao alinhamento do disco o tema “Trauma”, originalmente apenas disponível na edição especial em CD criada para o mercado japonês. 

2005. “The Good Son Vs The Only Daughter”

2007. “When Loud Weather Buffeted Naoshima (The Blemish Remixes)”

2009. “Manafon”

2011. “Died In The Wool | Manafon Variations”

2012. “Uncommon Deities”

2014. “There’s A Light That Enters Houses With No Other House In Sight”

2017. “There Is No Love”

COMPILAÇÕES

1989. “Weatherbox”

1999. “Approaching Silence”

2000. “Everything and Nothing”

2001. “Camphor”

2010. “Sleepwalkers”

2012. “A Victim of Stars (1982-2012)”

2023. “Samadhisound 2003-2014 Do You Know Me Now?”

SINGLES

1982. “Bamboo Houses”/“Bamboo Music” com Ryuichi Sakamoto

1983. “Forbidden Colours” com Ryuichi Sakamoto

1984. “Red Guitar”

1984. “Pulling Punches”

1984. “The Ink In The Well”

1985. “Words With The Shamen”

1986. “Taking The Veil”

1986. “Sister Moon”

1987. “Let The Happiness In”

1987. “Orpheus”

1989. “Pop Song”

1993. “Jean The Birdman” com Robert Fripp

1994. “Darshan” com Robert Fripp

1999. “I Surrender”

1999. “Godman”

2003. “World Citizen – I Won’t Be Disappointed” com Ryuichi Sakamoto

2013. “Do You Know Me Now?”

COLABORAÇÕES em singles

1986. “Buoy” Mick Karn ft. David Sylvian

1987. “Some Small Hope” Virginia Astley ft David Sylvian

1992. “Heartbeat” Ryuichi Sakamoto ft. David Sylvian + Ingrid Chavez

2001. “Linoleum” Tweaker ft. David Sylvian

2001. “Zero Landmine” NML No More Landmine 

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