O manager do quarteto discograficamente estreado em 1972 com os quatro nomes próprios dos seus elementos, ou seja, Björn & Benny, Agnetha & Frida, já os tratava por ABBA há algum tempo (Frida, na verdade, é o nome pelo qual ficou conhecida Anni-Frid Synni Lyngstad). Tinham já editado alguns singles e o álbum “Ring Ring” como Björn & Benny, Agnetha & Frida quando, no início do outono de 1973, regressaram a estúdio para gravar canções para um novo álbum. Por esta altura surgiram canções como “Dance (While the Music Still Goes On)”, “Suzy-Hang-Around” e “My Mama Said”, as primeiras em cujas bobinas ficou inscrito o nome Abba, designação que só teve exposição pública quando, poucos meses depois, já em fevereiro de 1974, quando se apresentaram no Melodiefestivalen (a seleção sueca para a Eurovisão). Tinham duas canções na manga, uma delas, “Hasta Mañana” (apenas com a voz principal de Agnetha) e “Waterloo” (onde, ao invés dessa outra hipótese, ambas as vocalistas partilhavam o protagonismo), tendo optado (e bem) por esta segunda. Com clara vantagem “Waterloo” arrebatou a votação no Melodiefestivalen, surgindo em single em versões em sueco e em inglês, rumando à Eurovisão (nesta segunda leitura) a 6 de abril, terminando a noite num primeiro lugar com apenas mais seis pontos do que a segunda classificada, a italiana Gigliola Cinquetti que regressava com “Si”, dez anos depois da sua histórica vitória em 1964 com “Non Ho L’Eta”.

A vitória dos Abba em Brighton catapultou “Waterloo” para uma carreira internacional, acompanhada desde logo por um álbum, editado semanas antes da Eurovisão. Com o mesmo título da canção que os apresentara aos milhões que os viram na televisão, o álbum não mostrava contudo mais munições do mesmo calibre da canção que lhes dera o triunfo eurovisivo (algo que o álbum seguinte, “Abba”, de 1975, resolveria com pérolas como “Mamma Mia”, “SOS” ou “I Do, I Do, I Do, I Do, I Do” no alinhamento). “Waterloo”, onde surgem ainda a canção preterida na hora de pensar na participação no Melodiefestivalen, assim como “Honey Honey” (talvez a canção mais próxima das visões pop que o grupo exploraria um nada mais adiante), é um álbum mais desenhado entre hipóteses lançadas do que feito de caminhos encontrados. Os sabores glam rock da canção-tema (ecos diretos dos sinais dos tempos no panorama pop/rock britânico) reapareciam em “King Kong Song” e “Watch Out”. Em contraste ligeiro, com travo solarengo, “Sitting In The Palmtree” sublinhava uma ideia de busca sem resposta encontrada sobre quais poderiam ser as rotas seguintes para uma carreira que não escondia uma ambição internacional. Apesar de quase invisíveis face a momentos de álbuns seguintes, canções como “My Mama Said” ou “Dance (While The Music Still Goes On)” já sugerem possibilidades numa música que já tinha firme no epicentro da sua equação o poder do diálogo entre as vozes de Anni-Frid e Agnetha, o apelo metodista das composições de Benny e Björn e o cuidado já evidente na produção lançavam, mais do que pistas, bases para oportunidades futuras. E entre os singles de 1975 e o impacte global do álbum “Arrival”, em 1976, as promessas sugeridas em “Waterloo” transformaram-se num fenómeno (raro) de dimensão pop planetária.





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