Com um ponto final colocado no percurso dos The Jam após um percurso fixado em seis álbuns editados entre 1977 e 1982, Paul Weller encarou o desfio de procurar… algo completamente diferente. Se os The Jam tinham emergido em pleno fulgor da revolução punk e evoluindo como uma das mais marcantes entre as obras nascidas no Reino Unido sob genéticas rock na viragem dos anos 70 para os 80, recuperando linguagens da cultura mod, e com horizontes cedo alargados a uma paleta maior de referências, Paul Weller, voz e timoneiro criativo desse trio, partia então para uma nova etapa sob outros princípios. O jazz, o rhythm’n’blues, uma proposta alternativa (face ao mood mainstream vigente) de uma certa elegância na canção pop eram princípios no mapa que então desenhava, procurando em Mick Talbot, pianista que havia já passado por várias bandas (entre as quais os Dexys Midnight Runners), um parceiro capaz de vincar uma rota em divergência face a caminhos mais próximos dos universos do rock. Escolheram desde logo bem o nome: The Style Council. E, numa sucessão de primeiros singles (entre os quais surgem canções como “Speak Like a Child” e “Long Hot Summer”) editados em 1983, reunidos depois no mini-LP “Introducing The Style Council”, lançaram as bases para um percurso que nos daria uma série de quatro magníficos álbuns de estúdio entre 1984 e 1988 (aos quais se pode juntar um quinto, recuperado de fitas gravadas em 1989, apenas lançado em 1998). O primeiro desses discos de estúdio foi editado a 16 de março de 1984 e vincou desde logo todas as boas premissas (e promessas) sugeridas nos tais singles de 1983.

Lançado com o título “Café Bleu” (salvo nos EUA, onde foi editada uma versão à qual chamaram “My Ever Changing Moods”, o primeiro álbum de estúdio dos The Style Council revela (como já havia acontecido desde o EP “À Paris”) a presença do baterista Steve Wilson, assim como a voz de Dee C Lee (por enquanto apenas, discretamente, em duas canções), desenhando já o núcleo que estará presente em toda a restante obra do grupo. A eles juntam-se diversos outros músicos, entre os quais Tracey Thorn e Ben Watt, dos então recentemente formados Everything But The Girl, ambos presentes em “The Paris Match”, canção que Dee C Lee levaria, numa versão alternativa, a um álbum que editaria a solo pouco mais adiante. “The Paris Match” integra a face A de “Cafe Bleu”, que define um ciclo que desde logo deixa claro o interesse do grupo em assimilar ecos do jazz, gosto que, de resto, era então partilhado pelos Everything But The Girl que nesse mesmo 1984 editavam o álbum de estreia “Eden”. Voltando o vinil para a outra face “Café Bleu” revelava sinais mais próximos de uma pop elegante animada por ecos da cultura R&B que havia já marcado “Long Hot Summer”. Estão nesta face B canções como “A Gospel” (onde Paul Weller explora o rap numa canção de matriz funk), “Strength of Your Nature” (novamente sob atmosfera de alma funk), “Headstart For Happiness” (que aceita heranças R&B, e com Dee C Lee ao lado de Weller), “Here’s One That Got Away” (o mais evidente piscar de olho ao som dos Dexys Midnight Runners), tão dignas de figurar entre as melhores memórias do percurso de um grupo que, desta fase, levaria a futuros ‘best of’ os singles “My Ever Changing Moods” ou “You’re The Best Thing”. Quarenta anos depois “Café Bleu” tem tanto sabor a coisa clássica como consegue escapar ao tom datado que se abateu perante outros discos seus contemporâneos. Vale uma (re)descoberta.

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