Autor, multi-instrumentista, cantor e produtor, Karl Wallinger reuniu todas estas valências no projeto em formato “one man band” World Party que criou em finais dos anos 80 e que, apesar das ocasionais pausas, ocupou o espaço central de toda a sua obra. Nascido no País de Gales em 1957, Karl Wallinger deixou-nos no passado dia 10, aos 66 anos. 

Despertou cedo para a música, aprendendo a tocar piano e oboe ainda nos dias de infância, abrindo muito cedo horizontes a referências diversas, com os Beatles, Bob Dylan, Beach Boys e uma série de nomes do catálogo da Motown a moldar a construção do seu gosto. Apesar de ter passado por várias pequenas bandas a partir de finais dos anos 70 (uma delas na companhia de futuros elementos dos Alarm), de ter trabalhado como publisher para a Northern Songs e passado pelos Waterboys entre 1983 e 86 (fixando essa presença nos álbuns “A Pagan Place” de 1984 e “This Is The Sea” de 1985), foi a partir de 1987, através do seu próprio projeto World Party, que convocou esta paleta de referências numa série de canções que, apesar de nascidas do cruzamento de várias genéticas, na verdade sugeriram imediatamente a demarcação de uma linguagem própria, sugerida pela forma de pensar e moldar a música e depois carimbada pela voz, igualmente distinta e capaz de afirmar individualidade.

A estreia dos World Party, com o notável “Private Revolution” não só deu forma à expressão de uma voz pessoal como mostrou como a arte da colaboração não vivia longe dos horizontes mesmo para quem tinha acabado de criar uma “one man band”. E logo ali escutamos, por exemplo, a voz de Sinéad O’Connor com quem, de resto, o próprio Karl Wallinger então colaborou. O percurso como World Party continuou a trilhar caminho nos igualmente recomendáveis “Goodbye Jumbo” (1990) e “Bang!” (1993), aos quais se seguiu “Egyptology” (1997), disco em cujo alinhamento surgiu “She’s The One”, canção que teria dois anos depois uma versão com sucesso global na voz de Robbie Williams. O percurso como World Party incluiu ainda o álbum “Dumbing Up” (2000) e a caixa “Arkeology” (2012) na qual surgiu uma multidão de inéditos.

Pelo caminho houve várias parcerias com o cinema (em “Clueless”, por exemplo apresentou uma versão de “All The Young Dudes” de Bowie), uma passagem pela banda de palco de Bob Geldof e várias colaborações com figuras do universo Real World. Desta última “família” de acontecimentos surgiram “Politics” no álbum de 1994 “A Week or Two in the Real World” ou o projeto de um álbum apenas Big Blue Ball, editado em 2008, pelo qual passaram nomes como os de Peter Gabriel, Natacha Atlas, Papa Wemba ou Sinéad O’Connor. Um aneurisma em 2001 e problemas subsequentes na visão deixaram-no em silêncio num longo período no início do século. Depois de 2006 voltou à estrada, embora os discos tenham desde então surgido com cada vez mais espaçada frequência. 

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