Esta era, em tudo, uma história improvável. E podia começar como “um estudante de astrofísica e um de arquitetura entram num estúdio”… Estávamos em França, em inícios dos anos 90, com dois protagonistas saídos de primeiras experiências numa outra banda (os Orange). Vinham de Versalhes mas tinham entretanto montado o seu próprio espaço de trabalho num apartamento no 18º bairro de Paris. Durante anos tinham imaginado uma música que, dado o universo ao seu redor, não lhe parecia de todo viável… Mas entretanto os Portishead entram em cena e a ideia de uma música menos rápida, mais elegante e ambiental, parecia possível. Ao mesmo tempo, os ares de Paris mostravam sinais de nova agitação, não apenas na música e na vida noturna, mas também no design, na moda, no cinema… A ideia de uma música mais tranquila, cinematográfica, que explorava ecos que vinham de outros tempos (dos dias de um Debussy ou um Ravel ao prog) e juntava depois as electrónicas (todavia mais interessadas em reavivar os sons dos teclados analógicos do que as ferramentas digitais mais recentes), ganhou pulso e ânimo. Lançaram primeiros singles (sobretudo em suporte de 12” e CD single) entre 1995 e 97 até que, em inícios de 1998, lançam “Moon Safari” disco que, com “Sexy Boy” como cartão de visita, somou todas as premissas desejadas num ponto só. Nicolas Godin e Jean-Benoît Dunckel sonhavam sobretudo com a eventualidade de um sucesso relativo (“vender uns 10 mil exemplares”, lemos numa citação no inala da nova edição) e o reconhecimento entre pares. Mas, animado pelo impacte do single de apresentação e, depois, dos seguintes “Kelly Watch The Stars” e “All I Need”, deram por si a viver um fenómeno com dimensão global, que os levou à estrada (acompanhados pelos conterrâneos Phoenix) e ao lançamento das bases de uma obra que lhes daria, nos anos seguintes, interessantes novos episódios.

Agora, a assinalar os 25 anos da edição de “Moon Safari” (na verdade são já 26), eis que surge uma edição comemorativa que ao álbum original acrescenta um segundo CD com maquetes e remisturas e um Bly-Ray com conteúdos em áudio (o álbum em áudio Dolby Atmos & Estereo HD) e vídeo (os telediscos dos singles desta fase mais o do imediatamente anterior “Le Soleil Est Près de Moi” e o documentário “Eating, Sleeping, Waiting and Playing”, sobre a digressão que se seguiu ao lançamento deste álbum). Entre as raridades que o CD extra recupera estão maquetes de duas canções que acabaram fora do alinhamento do álbum (“Dirty Hiroxima” e New Star”), assim como uma versão inicial de “Ce Matin Là”, uma versão de “Maggot Brain” (original dos Funkadelic, aqui numa gravação captada ao vivo no Paradiso, em Amesterdão), momentos de uma sessão gravada na BBC (mostrando leituras alternativas para “Sexy Boy” e “Kelly Watch The Stars”), duas remisturas dos Air para outros artistas (Neneh Cherry e Crustation) e outras duas para canções do duo francês. Face a alinhamentos de várias reedições recentes que juntam lotes mais alargados de demos e raridades, convenhamos que esta dose de 11 faixas adicionais assegura o contar da história de bastidores que se junta assim a um olhar mais alargado sobre os tempos de “Moon Safari”. Contenção e elegância, uma vez mais, ao serviço da música dos Air.

“Moon Safari – 25th Anniversary Edition”, dos Air, está disponível numa edição em 2CD + Blu Ray pela Parlophone/Warner. Em complemento surgiu, nas plataformas digitais, “Moon Safari Rarities – 25th Anniversary Edition”, que corresponde ao CD 2 da edição em suporte físico.

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