Nasceu em Lisboa a 26 de março de 1924, um dia antes de Sarah Vaughan. E ninguém imaginava, por aqueles dias, que os caminhos de ambos se iriam cruzar num terreno comum… o jazz. Nesse mesmo ano Gershwin havia estreado já “Rhapsody In Blue”. Max Roach usava fraldas há já algumas semanas. Bud Powell e Paul Desmond estavam a caminho. 1924 inscreve, assim sendo, várias entradas na história do jazz, uma delas portuguesa: o nascimento de Luís Vilas-Boas, muitas vezes apelidado como o “pai” do jazz em Portugal.

Incansável divulgador, mas também figura determinante na criação de espaços e manifestações, não só foi o responsável pelo primeiro programa sobre jazz na rádio portuguesa, como foi um dos fundadores do Hot Clube de Portugal (era o sócio número um), como esteve depois na génese tanto do Festival Internacional de Jazz da Costa do Sol como do Cascais Jazz, cuja edição de estreia, em 1971, fez logo história, apresentando um cartaz de exceção (Miles Davis, Ornette Coleman, Thelonious Monk, Dizzy Gillespie ou Art Blakey, entre outros). Também por esses dias promoveu um histórico encontro (fixado em disco) entre Amália Rodrigues e Don Byas. 

Nos anos 40 trabalhou nos serviços rádioelétricos dos CTT (o que lhe permitiu aprofundar a descoberta da música que chegava de fora via rádio já que tinha entre as funções a escuta de estações estrangeiras), mais tarde na companhia aérea KLM (que lhe abriu asas ao mundo e alargou ainda mais os horizontes). Mas tudo acabava por apontar sempre à música. Sobretudo ao jazz, mas com ouvido e tempo para outros caminhos, sobretudo como editor discográfico, empresário e parceiro (e amigo) de muitos músicos. 

Um olhar sobre a vida, o pensamento e o entusiasmo divulgador de uma figura marcante na história da música entre nós surge agora retratado em “Luís Villas Boas – Um Roteiro Biográfico”, livro de João Moreira dos Santos, autor de títulos como “O Jazz Segundo Villas-Boas” (2007), “Jazz em Cascais – Uma História com 80 anos” (2009) ou “Roteiro do Jazz Na Lisboa dos Anos 20-50” (2012), entre outros mais. O volume, de 450 páginas, inclui um perfil biográfico de Vilas-Boas e, depois, um conjunto de 70 entrevistas à imprensa escrita, rádio e televisão pelas quais se pode acompanhar “a evolução do seu pensamento e ação ao longo de quase 50 anos, bem como o percurso do jazz em Portugal no século XX”. 

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