Há música que por vezes emerge numa espécie de “terra de ninguém” que, afinal se revela capaz de cativar atenções de públicos antes voltados para outros azimutes. Nomes como os de Wim Mertens, Rodrigo Leão, Max Richter ou até mesmo Philip Glass são exemplos notáveis dessa capacidade em transcender barreiras (outrora talvez mais nítidas do que no presente). Um outro exemplo desta capacidade em unir públicos e universos num mesmo ponto só é o que, na primeira metade da década de 70, surgiu com o grupo de músicos reunido por Simon Jeffes (1949-1997), guitarrista de formação clássica que, ao lado de Helen Liebmann, funda a Penguin Café Orchestra. O coletivo estreia-se discograficamente em 1976 com “Music from the Penguin Cafe”, álbum lançado pela etiqueta Obscure Label (de Brian Eno), com catálogo apontado a caminhos mais experimentais. Cruzando ecos de uma formação clássica com um interesse por formas ligadas à folk e a dimensões mais exploratórias da música popular, o álbum cruza públicos e conhece um momento de comunicação maior ao vivo numa primeira parte de uma atuação dos Kraftwerk em Londres, ao que se segue uma digressão internacional. O percurso da Penguin Cafe Orchestra conhece sinais de evolução nos seguintes “Penguin Cafe Orchestra” (1981) e “Broadcasting From Home” (1984), que cimentam uma linguagem, acrescentando gradualmente novos timbres e cores a uma música que, entretanto, criara já um público.

O passo seguinte, que corresponde a um dos momentos maiores da obra do grupo chegou em 1987 com “Signs of Life”, um álbum com um desenho narrativo que parece sugerir uma lógica conceitual – de resto estratégia já antes adotada em discos anteriores – e onde parece mais evidente do que nunca um interesse pelas formas trabalhadas pelos compositores minimalistas norte-americanos, que entretanto tinham começado a cativar evidentes atenções junto de públicos mais ligados à música popular. “Perpetum Mobile”, que encontramos na reta final do alinhamento de “Signs Of Life”, representa de resto um claro episódio de reflexão da Penguin Cafe Orchestra sobre heranças da música repetitiva. Sem o apelo pop sugerido em momentos do anterior “Broadcasting From Home” (e basta escutar “Heartwind”), o álbum de 1987 divide sobretudo atenções entre episódios de alma folk, momentos de desenho mais lírico e espaços que exploram sobretudo possibilidades cénicas. Ninguém imaginava contudo que este seria o penúltimo registo de estúdio da orquestra ao lado do seu fundador, correspondendo o seguinte “Union Cafe” (1993) ao derradeiro capítulo. Em 2009 o filho do fundador, Arthur Jeffes, criou a Penguin Cafe, banda que, mesmo sem partilhar elementos com a Penguin Cafe Orchestra, frequentemente apresenta em palco composições dos seus cinco álbuns editados originalmente entre 1976 e 1993.

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