Depois de uma relativamente discreta (mas promissora) estreia em 1981 com o single “Radio Free Europe” e do EP “Chronic Town” de 1982, os R.E.M. ultrapassaram as fronteiras do espaço onde haviam nascido (em Athens, na Georgia), com “Murmur”, disco que cativou atenções internacionais e os inscreveu entre uma geração de bandas que então definiam um novo som para o rock alternativo made in EUA. Um ano depois, sob alguma pressão, um novo passo era necessário, tentando então o grupo recriar em estúdio o viço que lhes era reconhecido nas atuações ao vivo.
Como tantas outras bandas da sua geração, os R.E.M. tinham emergido entre meios universitários. Estávamos em 1980 e entre os músicos, que se foram conhecendo aos poucos, havia desde logo uma partilha de interesses pela música de referências como Patti Smith, os Television ou os Velvet Underground. Não carregavam aos ombros uma agenda musicalmente revolucionária mas, nascidos nos primeiros tempos da administração Regan, numa América entregue a um reencontro com valores mais conservadores, cedo entenderam o verdadeiro poder da palavra. De resto, no volume dedicado a “Murmur” na coleção 33 1/3, J. Niimi lembra que os tempos “que serviram de cenário à gravação de Murmur” representam “uma era em que o discurso político se expandiu do patamar da simples fala para uma forma de armamento”. Mesmo assim, como evocam Dave Bowler e Bryan Dray em “From Chronic Town to Monster” (Citadel Press Book), biografia do grupo de 1995, Michael Stipe dizia então que “o que os R.E.M. podem oferecer é uma música (…) que se pode ouvir e levar alguém a dizer ‘isto é inteligente’ ou, pelo menos, ‘isto não é estúpido’. Não somos uma banda de mensagens mas há coisas na música e na maneira como nos apresentamos que, espero, as pessoas possam depois levar para casa consigo”.

Foi neste clima que, então, no mesmo estúdio em Charlotte (na Carolina do Norte) onde fora gravado “Murmur”, em sessões, com a mesma dupla de produtores (Don Dixon e Mitch Easter) que não chegaram a durar um mês, nasceu um segundo álbum ao qual chamaram “Reckoning”. O fulgor do palco, embora recriado por um quarteto em rota de exaustão dada a agenda de concertos (que se chegou mesmo a cruzar com o período de tempo vivido em estúdio) ganhou forma num lote de canções, algumas delas de génese recente e outras, como “Pretty Persuasion” ou “(Don’t Go Back to) Rockville”, já presentes em alinhamentos de concertos desde há já algum tempo. Esta última, juntamente com “So. Central Rain (I’m Sorry)”, seriam escolhidas para edição em single, criando êxitos que, sem o mesmo impacte de “Radio Free Europe”, garantiram todavia momentos de comunicação nas rádios (sobretudo as college radios americanas), recolhendo, juntamente com as opiniões positivas da critica, novos episódios favoráveis ao reconhecimento da banda como um sólido talento emergente em cenário “alternativo” americano. Mesmo sob temáticas e palavras menos luminosas, algo bom irradiava daqui… O caminho continuava a ser trilhado sem cedências e fiel à identidade da banda. Mas ninguém ainda imaginava que, menos de dez anos depois, os R.E.M. seriam um fenómeno de popularidade global…





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