Há precisamente 50 anos, na 19ª edição do Festival da Eurovisão (realizada em Brighton, no Reino Unido, se a grande notícia à escala internacional coube a vitória dos suecos Abba com Waterloo e se, entre nós, poucas semanas depois, a canção portuguesa (“E Depois do Adeus”, cantada por Paulo de Carvalho) adquiria um papel na história ao representar a primeira senha radiofónica para o 25 de abril, outros momentos há que reter num ano que levou ao concurso uma mão-cheia de grandes canções e de “casos”. Dos iugoslavos Korny Grupa com o desafiante “Generacija ’42” à italiana Gigliola Cinquetti (vencedora dez anos antes com “Non Ho L’Eta”) que apresentava “Si”, que levantou celeuma num ano em que em Itália se aproximava um referendo sobre o divórcio, isto sem esquecer a dupla holandesa Mouth & McNeal que tinham, até à hora do programa, o seu “I See a Star” apontado como o tema favorito. Mesmo assim, perante tantos focos de interesse, há mais memórias marcantes que devemos associar à edição de 1974 do Festival da Eurovisão. E uma delas lembra aquela que foi a estreia da Grécia neste formato. 

Com o título “Krassi, thalassa ke t’ agori mou” a canção levou ao palco uma cantora que estava longe de ser uma figura desconhecia da música grega, com obra em disco registada desde o final dos anos 50 e já com alguns episódios significativos de comunicação internacional na participação que teve no V Festival Internacional da Canção Popular, no Rio de Janeiro, em 1970 tendo sido depois, em 1973, a primeira cantora grega a participar no MIDEM, em Cannes. Num tempo em que os caminhos de maior sucesso para as canções a concurso na Eurovisão reagiam à vaga de maior aproximação à pop vivida na reta final dos anos 60, procurando sobretudo trilhos entre uma canção ligeira de orquestração sumptuosa (como se vira nas vitórias de Severine em 1971, Vicky Leandros em 1972 ou Anne Marie David em 1973), a Grécia apostou antes numa estreia que valorizava as linguagens das suas tradições folk, assinalando assim a estreia em palco do bouzouki, instrumento com peso marcante na música grega de inspiração tradicional. De resto, cabe ao som do bouzouki a sequência inicial (instrumental) da canção, seguindo-se uma intervenção do coro e só depois, finalmente, entra em cena a voz da cantora. A canção terminou a noite em 11º lugar com 7 pontos, um dos quais atribuído por Portugal.

Nascida em Tessalónica em 1938, atualmente com 85 anos, Marinella (nome artístico de Kyriaki Papadopoulou) tem mais de 60 álbuns editados em nome próprio e um lote ainda mais expressivo de colaborações (entre as quais surge o mítico Mikis Theodorakis), passando a sua discografia por espaços que vão da música grega de inspiração tradicional aos universos da pop e do jazz. O seu percurso conta ainda com inúmeras representações de canções suas no cinema grego, sobretudo nos anos 60 e 70. O single com a canção que levou à Euroviosão em 1974 teve várias edições internacionais com capa diferente, uma delas em Portugal. 

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