Dissipada a euforia no wave que se seguira às influentes marés punk e new wave que haviam dominado as atenções da produção musical da cidade entre finais de 70 e inícios de 80, a Nova Iorque de meados de 80 era sobretudo um terreno de ensaio para várias novas ideias, num espectro de possibilidades que ia das faces mais exploratórias de uns Swans ou Sonic Youth à progressiva afirmação de uma nova linguagem urbana em terreno hip hop. É por caminhos distintos de todos estes que então surgem os Hugo Largo. Formados em 1984 mostravam, desde logo, uma formação que lhes permitiria afirmar uma identidade diferente, nomeadamente ao abdicar da tradicional presença de uma guitarra em favor de dois baixos, um violino e uma voz.
A música dos Hugo Largo depressa atraiu atenções e gerou uma adesão de culto assim que foi editado o seu EP de estreia, produzido em 1987 por Michael Stipe, apresentando quatro temas sob o título “Drum” que, meses depois (já em 1988), acabariam todas elas integradas no alinhamento de um curto álbum, lançado pela Opal Records com o mesmo título, contando ainda com pontuais intervenções vocais do então vocalista dos R.E.M.). O disco confirmava ali uma banda dotada de uma personalidade única, que se afirmava através de uma música suave, elegante e capaz de contemplar o sublime.
A discreta sensibilidade art rock que brotava das canções, a sua instrumentação austera mas nem por isso despida de espiritualidade, ecos de minimalismo, texturas sugerindo espaço e, sobretudo, a voz teatral, cativante, de grande personalidade e sentido de liberdade de Mimi Goese, traduziam todavia um sentido de irreverência muito característico do meio em que esta música nascia. Afinal partilhavam uma vivência entre espaços de afinidade com a cultura rock e as galerias de arte onde se revelavam visões de vanguarda.

Lançado originalmente no catálogo da Opal, etiqueta de Brian Eno, “Drum” vive essencialmente de composições originais assinadas pelos elementos da banda, sobretudo a vocalista Mimi Goese e Tim Sommer, um dos baixistas do quarteto que, antes de integrar os Hugo Largo, havia integrado o ‘ensemble’ de Glenn Branca, tocado ao lado de Thurston Moore nos Even Worse e passara pela génese dos Swans, embora não tenha chegado a tocar em nenhum dos seus discos, percurso em parte partilhado por Hahn Rowe, o violinista do grupo. O quarteto ficava juntava a estes três o baixista Adam Peacock. Além dos oito originais, o curto alinhamento (com perto de 28 minutos de duração) apresentava ainda uma leitura algo minimalista para “Facny”, uma memória dos Kinks que vinha do álbum “Face to Face”, de 1966.
“Drum”, o primeiro dos dois álbuns editados pelos Hugo Largo durante a sua curta vida, é uma obra de rara beleza (e fragilidade) e revelou uma das maiores surpresas nascidas em espaços indie em finais de 80.





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