Figura de referência maior na canção italiana, Franco Battiato (1945-2021) nunca fechou a sua música em caminhos de vistas curtas. Pelo contrário, tanto fez caminho entre formas mais complexas das linguagens do rock como explorou as electrónicas, caminhando por vários rumos possíveis com a canção pop frequentemente como ponto de partida, não fechando as portas ainda a experiências na criação de bandas sonoras ou até mesmo a ópera. Com uma passagem vitoriosa por Sanremo em 1981, como compositor (para a voz de Alice), Franco Battiato acabou por representar a Itália na Eurovisão em 1984 com uma canção pela qual convocou preciosamente referências da ópera, criando um episódio que, mesmo tendo terminado a noite em quarto lugar, acabaria por se transformar num caso de sucesso mais marcante e longevo do que o breve instante dos suecos Herrey’s, com “Diggy Lou Diggy Ley”.
Da bem sucedida aventura em Sanremo, três anos antes, Franco Battiato trouxe um primeiro trunfo: a cantora Alice, que com ele contracenou a apresentação de “I Treni di Tozeur” (ou seja, “os comboios de Toseur”), aludindo a referências que geograficamente nos transportavam ao Norte de África e, no tempo, a memórias de uma linha ferroviária construída na aurora do século XX e que então assegurava a ligação a uma cidade interior (Tozeur) junto a um lago e que então representou uma frequente rota turística, desmantelada depois da independência, em 1957.

Canção de estrutura invulgar, “I Treni di Tozeur” integra um segmento no qual os coralistas recorrem ao bel canto, citando inclusivamente, por instantes, um fragmento do texto (em alemão) de uma ária da “Flauta Mágica” de Mozart. Vale a pena lembrar que “Per Elisa”, a canção de Battiato que Elisa havia cantado em Sanremo em 1981, continha em si, um corpo de alusões ao célebre “Fur Elise” de Beethoven, como que criando este par de canções um díptico que cumpriu um papel na história das ligações entre a canção popular e os universos da música clássica. Entre as marcas do legado desta canção (que no alinhamento do Festival da Eurovisão antecedeu o “Silêncio e Tanta Gente” de Maria Guinot), estão diversas versões, uma delas pela cantora Seija Simola (que representou a Finlândia na Eurovisão em 1978). O realizador italiano Nani Moretti, em cujo mais recente filme “O Sol do Futuro” escutávamos “Voglio Vederti Danzare” de Franco Battiato, levou “Il Treni di Tozeur” à banda sonora de “A Missa Acabou”.





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