Em finais de 1983 os OMD regressavam a estúdio comuma missão: a de recuperar um estatuto de popularidade depois do mais experimental e comercialmente algo desastroso “Dazzle Ships”, álbum que o grupo tinha lançado meses antes (e que só valentes anos mais tarde acabou justamente reconhecido como um dos melhores de toda a sua obra). Tal como eles mesmos depois explicaram, a “missão” em mãos era como uma luta pela sobrevivência, temendo o grupo ser-lhes apontada a porta de saída (da editora) caso os números voltassem a repetir os do álbum mais recente. Começaram por trabalhar maquetes em casa, chegaram a sugerir, sem sucesso, a edição de um single isolado para assegurar um compasso de espera (a escolha apontava a “Tesla Girls”, que acabaria antes por figurar entre as demais canções do novo álbum) e depois, juntamente com um novo produtor (Brian Tench), rumaram para estúdios nas Bahamas e, depois, Bruxelas, onde as novas canções começaram a ganhar forma. Como sonho de eventual cereja sobre o bolo, Tony Visconti foi chamado a dar uma mão, mas na verdade pouco mais terá feito do que juntar arranjos de metais a algumas canções, já que o seu desejo de levar outras famílias de instrumentos a uma banda que estava focada no seu labor entre electrónicas achou até mesmo descrito pelos próprios OMD como expressão de alguém que não teria compreendido a música da banda. No fim, terminado o disco, todos respiraram de alívio. Não só o sucesso estava de volta como, mais ainda que em álbuns posteriores (comercialmente bem sucedidos) dos OMD, as reações da crítica foram consideravelmente favoráveis, na linha daquilo a que a obra em disco da banda estava habituada.
“Junk Culture”, que os OMD depois descreveram como o álbum “mais pop” da sua obra, era um disco claramente distinto dos anteriores, revelando canções pop mais acessíveis, fortes na relação entre melodia fácil de fixar e refrão, contudo sem desativar em absoluto o seu gosto por trabalhar cenografias e ideias mais ousadas. Canções como “Locomotion”, “Talking Loud and Clear” e “Tesla Girls”, que representaram três dos quatro singles extraídos do alinhamento (o quarto foi “Never Turn Away”) resultaram em sucessos pop de dimensão internacional, abrindo caminho à descoberta de um álbum que revelava sinais da passagem do grupo pelas Caraíbas (em “All Wrapped Up”) e mostrava em momentos como “White Trash”, “Apollo” ou no instrumental de abertura com o título do álbum, que a banda que criara “Dazzle Ships”, mesmo em missão de “salvamnento”, não esquecera os caminhos mais exploratórios da sua música.

“Junk Culture” é um álbum feliz que, na verdade, podia ter dado ao grupo ainda mais um single de sucesso – o já referido “All Wrapped Up” (em sintonia com o mood caribenho que, curiosamente, por aqueles dias surgia em canções como “Wings Of a Dove” dos Madness ou “Right By Your Side” dos Eurythmics. Agora, 40 anos depois, lançado por ocasião do Record Store Day, eis que entra em cena, como lançamento individualizado, o disco de extras que originalmente foi criado para uma edição Deluxe (em CD) do álbum de 1984. Com o título “Junk Culture – Demos and Raritues”, o duplo LP que agora entra em cena junta alguns dos lados B dessa etapa, as remisturas dos singles apresentadas nos táxis então editados e, sobretudo, uma coleção de inéditos, parte deles em formato de maquete, que nos permitem ter uma perspectiva mais alargada sobre o processo criativo que conduziu o grupo ao álbum que os… salvou.
“Junk Culture – Demos and Raritues”, dos Orchestral Manouevers In The Dark, está disponível em 2LP numa edição da Virgin lançada por ocasião da edição de 2024 do Record Store Day.





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