Tina Turner, que tinha já editado dois primeiros álbuns a solo antes do fim da longa parceria com Ike (de quem entretanto se divorciara), e conquistado já um momento de destaque na história do cinema ao interpretar a figura de Acid Queen em “Tommy”, toma o seu caminho nas mãos na segunda metade dos anos 70. Mas esses os primeiros tempos vividos a solo não foram fáceis. E o seu quarto álbum a solo, “Love Explosion”, editado em 1979, acabou até por ter vendas tão discretas que a editora terminou o relacionamento com a cantora.
Mas não desistiu. Cantou em clubes e salões de baile. E por essa altura foi convidada por Rod Stewart para com ele cantar “Hot Legs” no Saturday Night Live, aí nascendo um nome que a ela ficaria associado: “miss cot leis”. Pouco depois, já em 1981, fez as primeiras partes da digressão americana dos Rolling Stones. E foi levada a estúdio por Martyn Ware e Ian Craig Marsh (dos Heaven 17 e da British Electric Foundation) para interpretar uma versão de “Ball Of Confusion” que surgiu no álbum coletivo “Music Of Quality and Distinction”, em 1982. Com eles voltaria a trabalhar pouco depois, chamando-os, já sob um novo contrato com a Capitol, para produzir a gravação de uma versão de “Let’s Stay Together” (1983), um clássico de Al Green, single que trepa até ao número um da tabela de música dança da Billboard e atinge o número 6 no Reino Unido, seduzindo muitos outros mercados europeus. Este seria o primeiro passo que a levaria a um patamar de sucesso como nunca antes tinha conhecido, e que teve o seu primeiro alicerce no magnífico e incrivelmente bem sucedido “Private Dancer”, editado em 1984.

Primeiro disco nascido de um apoio com a Capitol que inicialmente parece não ter sido coisa unânime dentro da própria editora, “Private Dancer” nasceu em diversas sessões de estúdio contando com contribuições de vários produtores, quase todos eles decididos em encontrar novas possibilidades para o rumo da cantora, focando sobretudo rotas mais próximas do rock, partilhando espaço entre canções ritmadas e baladas, sem contudo esquecer uma voz nascida e crescida em terrenos do rhythm’n’blues. Entre canções compostas expressamente para este disco, como “What’s Love Got To Do With It”, “Better Be Good To Me” ou “Private Dancer” (esta assinada por Mark Knopfler), e uma mão cheia de versões que ao “Let’s Stay Together” de Al Green juntava “I Can’t Stand The Rain” de Ann Pebbles, “1984” de David Bowie ou “Help” dos Beatles, o álbum encaixou que nem uma luva à expressão de uma personalidade que finalmente se afirmava em pleno por si mesma. Fulgor, carisma, uma grande voz, e novos modos de comunicar a imagem da cantora, tendo aí o vídeo servido como importante nova ferramenta de exposição. A memória recente da versão de “Let’s Stay Together” e o impacte global de “What’s Love Got To Do With It” cativam atenções, alimentando a curiosidade sobre um álbum (notável) que, finalmente, concretizou em pleno todo o potencial de Tina Turner como voz maior do firmamento pop.





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