Natural do Michigan, onde nasceu em 1968, John Grant, que em tempos foi a voz dos The Czars, tinha já uma reconhecida carreira a solo quando, em 2012, fez as malas e partiu para a Islândia, onde encontrou nova casa (e conforto). Agora, dois anos depois de ter obtido a cidadania, edita o seu primeiro álbum como islandês, fixando entre as canções mais uma etapa de evolução de uma linguagem que não esquece os alicerces que lançou sobretudo entre os dois primeiros discos a solo, ou seja, entre as matrizes folk de “Queen of Denmark” (2010) e a descoberta das electrónicas em “Pale Green Ghosts” (2013), pilares sobre os quais depois foi juntando etapas exploratórias, obtendo contudo resultados irregulares.

Talvez o seu melhor disco desde 2013, “The Art Of The Lie” junta novamente os dois alicerces estruturais definidos no início do percurso a solo e insiste uma vez mais duas frentes temáticas que domina (umas vezes em clima pessoal e confessional, outras lançando olhares aos universos políticos e sociais do nosso tempo). Depois, acompanhado por um produtor que já trabalhou com figuras como Grace Jones ou Brigitte Fontaine, apresenta um alinhamento coeso, que tanto pisca o olho aos ritmos (assimilando funk e electrónicas) como volta a propor baladas sumptuosas que destacam o potencial interpretativo do grande barítono que já conhecemos. O álbum traduz estados de alma de um espírito que, não tendo esquecido episódios dolorosos que marcaram a sua vida (evoca, por exemplo, memórias familiares pouco sorridentes), parece conhecer hoje um quotidiano bem mais tranquilo, estimulante e compensador. 

“The Art of The Lie”, de John Grant, está disponível em LP, CD e nas plataformas de streaming numa edição da Bella Union.