Surgidos em Montreal em finais dos anos 70, os Men Wiothout Hats representaram a mais visível expressão internacional de uma primeira geração pop electrónica canadiana. O EP de estreia “Folk Of The 80’s”, editado em 1980, mostrava uma pop minimalista e geométrica desenhada por sintetizadores, destacando a presença vocal (em registo de barítono) do vocalista Ivan Doroschuck, que se afirmaria desde logo como uma das principais características de identificação do som do grupo. Canções ali reveladas, como a (bilingue) “Modern Dancing” ou “Antartica”, que seriam reunidas num single em 1982, davam sinais de personalidade para lá das mais evidentes marcas de escola kraftwerkiana que então moldavam talentos emergentes na pop eletrónica europeia como os britânicos OMD ou os belgas Telex. Centrado em volta de Ivan e dos seus dois irmãos (apesar das muitas variações de line-up que a banda depois conheceu), os Men Without Hats foram globalmente projetados pouco depois, entre 1982 e 83, sob o impacte internacional do single “The Safety Dance” e o sucesso do álbum de estreia “Rhythm of Youth”, que juntava aos ingredientes do EP de estreia um mais lúdico sentido de prazer festivo.
Em 1984 um segundo disco de longa duração que, em linhas gerais, não se afastou muito das formas e demandas que o disco anterior neles mostrava, apostava sobretudo numa mais elaborada presença de detalhes na cenografia das canções. “Where Do The Boys Go?” foi o cartão de visita, mas mesmo seguindo a linha de algumas canções mais festivas de “Rhythm of Youth”, mas acabou longe de gerar o mesmo entusiasmo, o mesmo sucedendo (de forma ainda mais invisível), com o seguinte “Messiahs Die Young”, segundo e derradeiro single extraído do álbum, deixando o reencontro com o sucesso para a etapa seguinte, ao som de “Pop Goes The World”, em 1987.

O relativo insucesso de “Where Do The Boys Go?” e de “Messiahs Die Young” afastou então do horizonte das atenções um dos melhores álbuns de pop feita com electrónicas de 1984, ano no qual os contemporâneos Depeche Mode e OMD lançavam, respetivamente, “Some Great Reward” e “Junk Culture”, os Human League apresentavam “Hysteria”, os Heaven 17 editavam “How Man Are”, os Telex revelavam “Wonderful World”, criando um cenário que, salvo os Depeche Mode ou OMD, na verdade traduz momentos menos marcantes das obras de cada uma destas bandas então já com obra reconhecida, deixando esse ano em lugar de maior visibilidade os estreantes Alphaville ou Bronski Beat, a nova etapa de vida dos Dead Or Alive , uma emergente geração de cantadores pop que então lançava álbuns de estreia como Howard Jones ou Nik Kershaw, isto sem esquecer a dimensão algo sinfónica de nomes como os Art of Noise ou Frankie Goes To Hollywood, autores de dois dos melhores álbuns de 1984. Contudo, apagar “Folk Of The 80’s (Part III)” de um retrato desse ano é deixar de fora uma das propostas mais diferenciadoras no panorama da pop da América do Norte numa era em que a comunicação, por aqueles lados, destaca outros caminhos e nomes.
O disco junta, tal como fazia o álbum anterior, alguns temas desalinhados com o tronco eletro pop dominante. A balada para voz e piano “I Sing First (Not For Tears)” ou o mais longo devaneio em flirt progressivo “Mother’s Opinion” mantinham assim firme um gosto por experiências além das linhas pop luminosas para o formato de single, opção todavia não apagada, correspondendo a esse terreno canções como “I Know Their Name” ou “Unsatisfaction”, que (vá-se lá saber porquê) não tiveram ordem para viver também a 45 rotações. Já o instrumental “Eurotheme” vincava uma ligação mais evidente a sonoridades europeias da época, assumindo o grupo a consciência que, por enquanto, uma pop electrónica tão efusiva era coisa algo alienígena (e muitas vezes coisa de culto) daquele lado do Atlântico. Longe, é certo, de ser uma obra-prima, o segundo álbum dos Men Without Hats acabou coisa injustamente esquecida pelo tempo. Mas, convenhamos que, juntamente com “Rhythm Of Youth”, este álbum faz dos canadianos Men Without Hats, ao lado dos norte-americanos Berlin ou Book Of Love, um nome a ter em conta no contar da história de uma pop eletrónica com berço na América do Norte na primeira metade dos anos 80, para além de referências mais evidentes (e claramente justas) como os inesquecíveis álbuns e singles dos Devo lançados na alvorada dos oitentas.





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