O ano de 1985 tinha sido de quase sabática para os Duran Duran. E salvo um segundo single norte-americano extraído do alinhamento do disco ao vivo “Arena”, o ano de novas edições ficou basicamente reduzido ao lançamento de “A View to a Kill”, a canção-tema para um novo filme da série James Bond, que valeu ao grupo mais um episódio de visibilidade global. Porém, quando o single chegou à rua já o grupo estava dividido em duas fações, cada qual trabalhando projetos em paralelo. John e Andy Taylor, após uma série de ideias de colaborações, fixaram a formação de um projeto contando com a voz de Robert Palmer e a bateria de Tony Thompson, chamando a estúdio Bernard Edwards (dos Chic) para assumir a produção de um disco onde guitarras mais intensas e angulosas poderiam conviver com um trabalho rítmico que não escondia um gosto por tradições com escola R&B. Chamaram-lhe Power Station (o nome do estúdio nova-iorquino onde trabalharam) e editaram um álbum logo no início do ano. Por outro lado, aprofundando o trabalho de minuciosa cenografia que já havia caracterizado “Seven and The Ragged Tiger”, Nick Rhodes, Simon Le Bon e Roger Taylor juntavam-se num estúdio em Paris para criar canções sofisticadas e elegantes (que na verdade poderiam ter representado um quarto álbum dos Duran Duran). Com o nome Arcadia, o grupo apresentou o álbum “So Red The Rose” no final do mesmo ano.

Em 1986 era chegada a hora de reunir. A primeira má notícia veio do baterista Roger Taylor, que anunciou que não tencionava regressar ao trabalho com os Duran Duran e se retirava para uma vida mais tranquila. Já o guitarrista Andy Taylor, que entretanto encetara uma carreira a solo de contornos mais hard rock, começou por comparecer em sessões de estúdio, mas após vários desentendimentos e procedimentos legais, acabou por assumir também a partida, tendo contudo deixado uma pequena contribuição para o álbum que entretanto tinham começado a gravar.

Reduzidos à dupla de fundadores (Nick Rhodes – que detém os direitos do nome da banda – e John Taylor) mais o vocalista Simon Le Bon, os Duran Duran avançaram para a conclusão das sessões do novo álbum chamando alguns músicos. Nile Rodgers, que já havia com eles trabalhado em 1984 a remisturar “The Reflex” e na gravação de “The Wild Boys”, estava já desde o início dos trabalhos ao leme da produção, definindo desde logo a sua presença um pendor mais funk ao som que começava a nascer. A dada altura ele mesmo assumiu a fatia de leão das guitarras. O baterista Steve Ferrone entrou depois em cena (ficando ali por algum tempo), assim como a estúdio chegava pela primeira vez o ex-Missing Persons Warren Cuccurullo, guitarrista que acabaria como membro de pleno direito do grupo em 1989 e seria mesmo um dos músicos mais ativos nos Duran Duran até à sua saída após o álbum “Pop Trash”, no ano 2000.

Os ecos das experiências entretanto reveladas via Power Station e Arcadia juntavam então novas ideias à alma white funk que dominava o disco. Se em canções como “Notorious”, “Skin Trade”, “So Mislead” ou o flirt com domínios latin funk de “Meet El Presidente” traduzem essa medula que define o som do álbum, já a face mais arty e cenicamente elaborada dos Arcadia se manifesta em canções como “Winter Marches On”, “American Science” ou “A Matter of Feeling”, cabendo à angulosidade para guitarras trazida dos Power Station uma expressão evidente em “Hold Me”, “Vertigo (Do The Demolition)” ou “Proposition”.

O álbum apresentava como título uma das canções que se revelaria um dos mais sólidos êxitos desta nova etapa de vida dos Duran Duran (chegou ao número 2 nos EUA), e que comporta a fase de formação reduzida a três elementos que se materializou neste disco e no sucessor “Big Thing”, de 1988. O outro single clássico extraído deste alinhamento é “Skin Trade”, canção nascida sob um piscar de olho ao modo como Prince cruzava então o funk com linguagens da pop. Uma das melhores canções do grupo na segunda metade dos anos 80, “Skin Trade” evidenciou através de uma performance mais modesta nas tabelas de venda que o que haviam sido os dias de glória de 81 a 85 eram coisa do passado. A ainda mais discreta vida do terceiro single, “Meet El Presidente” acentuou essas mudanças em curso.

O mundo tinha descoberto novos entusiasmos e os Duran Duran eram pela primeira vez confrontados com novas realidades. A resiliência, que os mantém hoje em dia como – juntamente com os U2 e Depeche Mode – raros casos de sobrevivência entre as bandas da sua geração (e note-se que mesmo tendo mudado de line-up e retomado mais tarde a formação “clássica”, na verdade nunca colocaram pela frente um cenário de ponto final), nasce da forma de reagir a este embate. Novos caminhos, novas estratégias e, sobretudo, novos desafios, eram agora o seu horizonte.

Da memória de “Notorious” vale a pena notar que é um disco profundamente influenciado pelo cinema, sobretudo o de Hitchcock. O tema-título e “Vertigo” citam concretamente dois filmes seus. E “Hold Me” chegou a ter “The Rope” como título de trabalho.

Este álbum, editado em 1986, é um dos cinco títulos clássicos dos Duran Duram que agora regressam aos formatros de LP e CD respeitando os alinhamentos originais e usando, no caso do vinil, os remasters de 2010 para um novo corte. Além de “Notorious” foram agora reeditados os álbuns “Duran Duran” (1981), “Rio” (1982), “Seven and The Ragged Tiger” (1983) e “Big Thing” (1988), representando esta campanha de reedições o repor no mercado dos cinco álbuns de estúdio que os Duran Duran lançaram na década de 80.

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