Finda a Strange Behaviour Tour, que devolveu os Duran Duran à estrada após a edição de “Notorious” e que, em algumas datas nos EUA e Canadá se cruzou com a Spider Glass Tour de David Bowie (para quem fizeram primeiras partes), era tempo de pensar um novo disco. O sucesso mediano dos singles “Skin Trade” e “Meet El Presidente”, com os resultados mais discretos desde “Careless Memories” em 1981, deixava claro que o “patamar” no qual habitavam antes do hiato de 1985 estava distante, com as atenções do gosto mainstream agora focadas sobre outros protagonistas. O mapa no qual se encontravam surgia contudo que, ao lado da incerteza com que um novo disco seria recebido, ao grupo havia sido dada folga para experimentar novas ideias e outros eventuais caminhos. E eis que assim nasce “Big Thing” um disco que tentou juntar dois mundos num álbum só.

A relação próxima dos Duran Duran com a música de dança, expressa logo desde o álbum de estreia e já manifestada em várias versões apresentadas em máxis e, entretanto, reforçada em “Notorious”, levou-os a olhar uma vez mais em volta, assimilando então ecos da revolução house em curso. Será um exagero encarar “Big Thing” como o álbum house dos Duran Duran, mas em canções como “I Don’t Want Your Love” (single de avanço do álbum) e “Drug (It’s Just a State of Mind)” há um flirt com novas formas rítmicas que dirigem em favor de uma construção pop. Já o tema-título ou, mais ainda, “All She Wants Is” (segundo single), procura um diálogo mais profundo entre essas novas tendências e uma herança pop na qual as guitarras marcam uma presença evidente. “Too Late Marlene”, em regime mid-tempo, é uma janela que antevia o que se aguardava na outra face do vinil.
O lado B do disco segue outros caminhos, acentuando o caráter cénico mais elaborado sugerindo em “Seven And The Ragged Tiger” e aprofundado depois pelos Arcadia, apresentando uma sucessão de baladas e canções mid-tempo que estabelecem, salvo nos instantes finais elétricos de “Lake Shore Drive”, um mood que contrasta com o fulgor anguloso e dançável do lado A, sugerindo um díptico como nunca antes (ou depois) ganharia forma num álbum dos Duran Duran. O lado B abre em tom elegíaco – homenageando figuras entretanto desaparecidas como as de Andy Warhol ou Alex Sadkin (que produzira o grupo nas sessões de 1983) – com “Do You Believe in Shame?” (o terceiro single daqui extraído), incluindo o alinhamento os discretos (mas cenicamente elaborados) “Palomino”, “Land” e “The Edge of America”, mais um par de breves interlúdios experimentais, estes sugerindo elementos de ligação que o grupo voltaria a usar em alguns outros discos.
Gravado em Paris, contando em estúdio com a presença de Daniel Abraham e Jonathan Elias (com quem tinham trabalhado em “A View to a Kill”), “Big Thing” não repetiu os patamares de sucesso dos discos anteriores, gerando mesmo assim momentos de grande visibilidade e motivando duas digressões – a Big Life Thing e a Electric Theatre Tour – que fizeram constatar que, mesmo já longe do estatuto de fenómeno pop mainstream global de outrora, uma sólida base de admiradores continuava a acompanhar a banda.
É durante esta etapa que resolvem fazer chegar às rádios um edit dos temas The Edge of America e Lake Shore Drive num promo sob o nome Krush Brothers (com o qual deram ainda concertos-surpresa) tentando assim avaliar a reação à sua música longe de uma associação direta à ideia de que eram os Duran Duran. Felizmente esta vontade em tirar a prova dos nove pelo (quase) anonimato passou-lhes depressa.
A nova edição em vinil e também disponível em CD recupera o alinhamento original, de 1988.





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