No mapa discográfico de 1984 o álbum de estreia dos Bronski Beat mostrou estar bem viva e ativa uma velha prática da música popular: a capacidade em dar voz a lutas sociais. Editado em outubro desse ano, o disco não só desempenhou um importante papel numa agenda de luta identitária (focada na orientação sexual) como promoveu uma abordagem de uma pop electrónica na linha da frente do que se fazia em terreno mainstream a heranças que evocam o disco (num alinhamento que revisita inclusivamente o histórico “I Feel Love de Donna Summer”, num medley que o cruzava com “Love To Love You Baby” e “Johnny Remember Me”, este de John Leyton) e assimilam o então presente hi-nrg, ou seja, exibe nítidas marcas de relacionamento direto com a cultura queer dos anos 70 e 80. O quadro de referências não se esgota contudo aqui, já que viaja no tempo até memórias mais distantes da música de um Gershwin, de quem apresentam uma versão de “It Ain’t Necessairly So”, do histórico “Porgy and Bess”.

“The Age of Consent foi um disco que se tornou num dos mais inesperados fenómenos de sucesso do seu tempo. “Smalltown Boy”, uma das suas melhores canções, foi cartão de visita editado num single lançado uns meses antes e desde logo cativou atenções em grande escala ao som de uma história sobre homofobia e discriminação. Ideias que prosseguiram em “Why?”, o segundo single que então vincava a vontade do trio em dar forma a outras formas de cantar a realidade em canções que assim deram voz e rostos a uma geração que abriu espaço para uma visibilidade mainstream, e sem filtros, de canções pop distintas dos modelos clássicos “boy meets girl” que até aí haviam dominado as faces mais visíveis da música pop. Com olhares também lançados sobre o estado do mundo (alargando a voz crítica a outras frentes, falando da paz, do trabalho, do quotidiano), vincando ao mesmo tempo a vontade em cantar sobre o amor e os afetos, o disco deu origem a quatro singles de sucesso e teve passo seguinte imediato na forma de um álbum de remisturas (“Hundreds and Thousands”, editado já em 1985), o que sublinhava as fortes ligações que, logo desde “Smalltown Boy” e “Why?” ligavam os Bronski Beat à club culture. Desentendimentos entre o vocalista Jimmy Sommerville e os dois outros elementos do grupo (Steve Bronski e Larry Steinbacheck) ditaram uma separação de caminhos algo precoce. E se o filão mais político e musicalmente mais desafiante seguiu com Jimmy Sommerville rumo aos Communards (que então fundou com Richard Coles), já os dois outros músicos mantiveram a marca Bronski Beat num segundo álbum algo inconsequente (“Truthdare Doubledare”, em 1986) e uma sucessão de singles menores (com vários vocalistas) que erodiram, com o passar do tempo, a visibilidade do nome do grupo. Para a história ficou, todavia, a memória deste álbum de 1984.





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