Ercília Costa (1902-1986) foi uma das primeiras vozes do fado a conquistar ressonância internacional, com grande êxito conquistado numa digressão ao Brasil com a companhia de Vasco Santana e Mirita Casimiro e, mais tarde, com campanhas igualmente bem sucedidas em Paris (1937) e Nova Iorque e Los Angeles (1939).
Nasceu na Costa da Caparica, filha de um pescador. Mudou-se com a família para o bairro de Alcântara com apenas três anos e, antes mesmo de se estrear, ainda muito jovem, ora no Retiro Ferro de Engomar ora cantando como corista no teatro, já trabalhara como costureira. O mundo do fado começa a dar-lhe atenção em 1927 após um dueto com Alberto Reis e em 1930 cimenta um estatuto de maior visibilidade ao vencer o prémio de cantadeira, num Concurso de Fados organizado pelo jornal “Guitarra de Portugal” que atribui, nessa edição, o prémio de melhor cantor a Alfredo Marceneiro. Nesse ano torna-se presença regular em várias produções de teatro de revista e, antes mesmo de se estrear no cinema, em “Amor de Mãe” (1932) de Carlos Ferreira em 1932, tem já a sua voz fixada em disco num conjunto de lançamentos pela Odeon, etiqueta com a qual começa a gravar em 1929.
Conhecida desde cedo como alguns como a “Santa do Fado”, uma “alcunha” que ganhou pelo hábito de cantar de mãos postas, como quem reza, Ercília Costa cantava então no Luso, onde Armandinho frequentemente acompanhava as fadistas. Foi com ele quem registou, em 1930, “A Minha Vida”, com letra de Fernandes Teles e música de Guilherme Coração. Nesta gravação é ainda acompanhada pela guitarra clássica de Georgino Lisboa, que escutamos na outra face do mesmo disco onde, desta vez com João Fernandes na guitarra portuguesa, canta “Desilusão”. Estas gravações ocorreram durante um mesmo conjunto de sessões em Madrid, que juntava ainda a Ercília Costa e aos guitarristas a voz de Berta Cardoso, que ali registou também alguns fados. Estas duas gravações foram mais tarde reunidas na compilação “Ercília Costa Com Armandinho” (1930) lançada em 1995 pela Tradisom.
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