A progressiva disponibilização da obra a solo de David Sylvian em vinil continua neste início de 2025 juntando aos títulos já editados novas edições (pela primeira vez neste formato) dos álbuns “The Good Son vs The Only Daughter” (2004) e “Died in Wool – The Manafon Variations” (2011), discos de remisturas e novas abordagens a temas surgidos, respetivamente, nos álbuns de estúdio “Blemish” e “Manafon” .
A ideia de colaboração sempre foi cara a David Sylvian. Na verdade, e mesmo antes de editar um disco em nome próprio, os seus dois primeiros singles –“Bamboo Houses”/“Bamboo Music” (1982) e “Forbidden Colours” (1983) – foram parcerias nas quais dividia o protagonismo com Ryuichi Sakamoto. Ao longo da sua discografia vimo-lo ao lado de figuras como Holger Czukay (assinaram juntos dois álbuns em finais dos oitentas), Jon Hassell (participou no EP “Words With The Shaman”, de 1985), Robert Fripp (no álbum “Gone To Earth” e, mais tarde numa série de parcerias nos anos 90) ou com Burnt Friedman (via Nine Horses, já na década dos zeros). Pelo caminho chamou muitos mais aos seus discos, assim como marcou presença convidada em gravações de terceiros… Colaborar é, de resto, verbo que David Sylvian sabe conjugar. Atitude que lhe tem garantido a descoberta de rumos para renovados desafios, descobrindo permanentemente novos caminhos, não se repetindo, antes procurando sempre o desbravar de terrenos. E estes dois álbuns, repletos de parecerias, são mais dois exemplos desta mesma atitude.

As novas ideias focadas numa vontade em explorar os espaços da improvisação e o trabalho com electrónicas segundo horizontes igualmente desafiantes que David Sylvian abordara em “Blemish” tiveram continuidade direta em “The Good Son vs The Only Daughter”, disco com remisturas de temas desse álbum de 2003 através das quais, sob desafios lançados a outros músicos, David Sylvian aprofundou uma visão em construção. O disco não é na verdade um vulgar álbum de remisturas, mas antes um patamar de reconstrução das canções, algumas tendo sido inclusivamente regravadas sob a colaboração com novos parceiros de trabalho em estúdio. Músicos como Burnt Friedmann (com quem formaria os Nine Horses pouco depois), Ryoji Ikeda ou o coletivo Sweet Billy Pilgrim são valor acrescentado num disco que ajudou a solidificar a nova etapa na obra na obra de David Sylvian.

Lançado em 2011, “Died In The Wool – Manafon Variations” representa, como o título de resto sugere, uma experiência de reinvenção criativa a nível da composição. Há aqui temas que têm origem em Manafon (2009), mas surgem em leituras que desafiam as formas originais, na verdade parecendo mais reflexões (as tais “variações”) do que novas versões. Da presença das cordas (mas evitando a lógica classicista que muitas vezes a sua presença comporta em discos nas periferias da cultura pop) a intervenções de músicos convidados (alguns com percurso talhado em vários espaços nas cercanias do jazz), as “variações” sobre os temas já conhecidos e os originais inéditos revelam um aprofundar de ideias que, depois de “Blemish” e “Manafon” definiam um novo espaço coerente no universo da obra de Sylvian onde texturas, pontuações, sugestões e discretas filigranas de acontecimentos serviamm de fundo, aparentemente abstracto, sobre o qual a voz expressiva e única do cantor trilhava assim novas formas (mantendo em tudo firme antigas marcas de personalidade).





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