Com um percurso (mais invisível) feito entre várias bandas durante a década de 70, ora no Canadá (onde viveu parte da sua juventude) ora já de regresso ao Reino Unido, Howard Jones optou por um percurso em nome próprio depois de ter deixado o conservatório no qual preparava um eventual futuro percurso como pianista. Inspirado por novos caminhos que a pop então desenhava, tomando os OMD como maior referência, começou a apresentar as suas canções, na companhia de sintetizadores e de um mimo e, antes mesmo de ter sido convidado para fazer as primeiras partes dos China Crisis, marcou um concerto no mítico Marquee para o qual chamou jornalistas e editores. E assim, com lastro, e já 28 anos contados, estreou-se em 1983 ao som de “New Song”, single que o colocava na linha da frente de uma nova geração de vozes numa cena pop que então ganhava forma. “Human’s Lib”, álbum de estreia lançado em 1984, acentuou o momento, catapultando o seu nome para um patamar de grande visibilidade, juntando ao seu percurso mais três singles de sucesso (“What Is Love?”, “Hide & Seek” e “Pearl In The Shell”.
Ainda em 1984, começou a dar os passos rumo a um segundo álbum que representaria o episódio de maior sucesso do seu percurso, apresentando “Like To Get To Know You Well”, single marcado pelo espírito olímpico que havia marcado o verão desse ano. A canção, que ficaria fora do novo álbum, vincava todavia um músculo rítmico de escola funk que haveria de cruzar alguns dos momentos de um álbum que apresentou uma rota evolução face ao mais minimalista disco de estreia, confirmando um desejo em desenhar uma pop que, mesmo com alicerces nas electrónicas, procurava agora uma dimensão cénica mais elaborada. E “Dream Into Action” de facto acrescentou novos timbres aos arranjos, por um lado expandindo a paleta de sintetizadores, por outro juntando metais, um violoncelo e um trabalho vocal nos coros que envolveu o trio Afrodiziak (no qual militava então Caron Wheeler (voz que anos depois estaria em grande destaque ao colaborar com os Soul II Soul). Otimista e sorridente nas temáticas, luminoso nos arranjos, “Dream Into Action” é um bom exemplo de uma linguagem (e som) pop característico dos caminhos mainstream de meados dos anos 80. E deu-nos canções com alma de hinos como “Things Can Only Get Better”, “Look Mama” ou “Life In One Day”, incluindo uma primeira versão de “No One Is To Blame” que pouco depois ganharia segunda vida numa versão para single que contou com a colaboração de Phil Collins.

Quarenta anos depois a erosão não tratou da melhor forma a obra de Howard Jones neste período entre 1983 e 85, ou seja, que corresponde aos seus dois primeiros álbuns. O terceiro álbum – “One To One”, editado em 1986 – já pouco acrescentaria a este caminho, representando o episódio final do ciclo que viu Howard Jones sob os focos das atenções. Houve reedições recentes tanto de “Human’s Lib” como “Dream Into Action”, juntando aos álbuns os respetivos complementos “The 12” Álbum” e “Action Replay”. É certo que não estão aqui peças do calibre de discos contemporâneos do mapa da pop como os que Madonna, Prince, Eurythmics, Scritti Politti ou Frankie Goes To Hollywood apresentaram entre 1984 e 85. Mas tanto “Human’s Lib” como “Dream Into Action” são bons exemplos do que foi então a procura de novos caminhos para a canção pop numa altura em que os sintetizadores deixavam de ser coisa visionária e militante e passavam a tomar um lugar como voz comum nos léxicos da canção popular.





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