Estávamos em 2005. Madonna andava ocupada a redescobrir caminhos de diálogo entre o disco e a pop em “Confessions On a Dancefloor”, Rihanna dava os primeiros passos com um álbum de estreia, Britney Spears fazia um pausa maior discos de originais (“In The Zone” e “Blackout), Mariah Carey cantava R&B em “The Emancipation Of Mimi”, Beyoncé preparava o sucessor para o (muito) bem sucedido “Dangerously In Love”, Gwen Stefani levava a pop ao mundo urbano e revelava influências japonesas com um primeiro álbum a solo e, depois dos Moloko, Róisín Murphy aventurava-se em nome próprio com o experimentalista “Ruby Blue”…
Aproveitando uma vaga por preencher, e cansada da falta de liberdade artística que a editora Jive Records lhe concedia, a sueca Robyn decide mudar de estilo (visual e musical), e carrega no acelerador da pop eletrónica ao quarto álbum, o homónimo “Robyn” lançado há 20 anos na Escandinávia, num momento que se revelaria como o primeiro passo para a revitalização da sua carreira, quando dois anos depois acabou por ser lançado no resto do mundo ao som de uma nova faixa: “With Every Heartbeat”. Para trás ficaram três discos de originais e dois sucessos da pop dos anos 90 na Europa e nos EUA, “Show Me Love” e “Do You Know (What It Takes)”, saídos da “fábrica” de Max Martin, o mesmo que criou alguns dos temas mais populares dos Backstreet Boys e Britney Spears.
Em poucas palavras, “Robyn”, o primeiro lançamento da sua própria editora discográfica então recém-criada, era um grito de liberdade, um clamor de independência. As armas revelavam-se bem claras: letras sem rodeios, batidas fortes e melodias aperfeiçoadas para não saírem do ouvido. Num registo que equilibra patamares de melancolia com o piscar de olho às pistas de dança, com uma pop suficientemente mainstream para chegar às massas mas ao mesmo tempo ainda cool para tocar em franjas de público indie, “Robyn” mostrava num só conjunto de canções as várias facetas da cantora sueca.


O disco olhava de facto em várias frentes, mostrando um lado mais humorístico e descomprometido no rap convocado a “Konichiwa Bitches” (inspirado no nome da sua editora, Konichiwa Records) e “Cobrastyle”, vincava uma face feminista, independente e emancipada em “Handle Me” e “Who’s That Girl” (esta última produzida pelos compatriotas The Knife, a primeira inspiração da sueca para esta viragem de sonoridade), frisa aquele jeito melancólico mas sem vontade de abandonar a pista de dança de “Be Mine!” ou “With Every Heartbeat” (o tal single com que chegou ao primeiro lugar do Reino Unido pela primeira vez na sua carreira) e não escondeu a revelação de fragilidade em “Eclipse”, “Should Have Known” ou “Anytime You Like”. Tudo isto, sem esquecer a obsessão da sueca por robots, que começou aqui com “Robotboy” e depois ganhou outras vidas em “The Girl And The Robot” ou “Fembot”. Ao longo de 14 canções (no alinhamento da segunda edição), cantava-se a defesa da auto-estima e o anti-sexismo, trocavam-se as voltas a preconceitos e estereótipos e saravam-se corações partidos.
Caminhar entre o mainstream e o alternativo: uma rua estreita mas percorrida com distinção. A estratégia manteve-se depois na trilogia “Body Talk”, que ganhou forma em 2010. Em 2018, e depois de uma aventura conjunta com os Röyksopp em “Do It Again” (2014), juntou “Honey” a uma história que, desde então, aguarda ainda pela chegada de um novo episódio.





Deixe um comentário