Os The Art of Noise nasceram da equipa que Trevor Horn tinha reunido para primeiros trabalhos feitos entre discos dos ABC, Yes, Malcolm McLaren e Frankie Goes To Hollywood. Uma vontade em continuar a explorar as potencialidades que tinham pela frente juntando estes músicos e novas ferramentas que os estúdios começavam a ter, Trevor Horn desafiou o programador J. J. Jeczalik, o engenheiro de som Gary Langan e a compositora Anne Dudley (que então escrevia sobretudo arranjos) a trabalhar em conjunto, chamando a bordo o jornalista musical Paul Morley para com ele desenhar conceitos e uma nova linguagem de comunicação que, na verdade, seria uma das mais distintivas entre as marcas de identidade da editora que o mesmo coletivo então criou. Foi ele quem, inspirado pelas ideias do futurista Luigi Russolo, sugeriu a expressão que deu nome ao grupo: The Art of Noise. A estreia em disco fez-se em 1983, representando a estreia do próprio o catálogo da ZTT Records, com o EP “Into Battle With The Art of Noise”, no qual surgiam já futuros clássicos como “Beat Box” e “Moments In Love”, num conjunto de quadros que transcendia a lógica mais habitual em discos pop. Havia canções e não canções, peças longas e vinhetas, experiências sonoras, acontecimentos, sonoplastia…

“Moments In Love” era, nessa versão, uma primeira abordagem a uma visão que acabaria por representar um dos paradigmas da identidade do novo grupo. Peça extensa, minimalista, alicerçada numa arquitetura repetitiva, “Moments In Love” só não é um insrtumental porque uma voz repete sucessivamente as palavras que definem o título da composição, a dada altura a sonoplastia juntando um episódio que cruza outras pontuais vocalizações. O tema voltaria ter vidas, com novas visões, misturas e durações, quando marcou presença no alinhamento do álbum “Who’s Afraid of The Art of Noise” (1984) e foi depois editada isoladamente como single (1985). O tempo passou e, mesmo com novas vidas (primeiro fora da ZTT, depois num reencontro com Debussy no epicentro das atenções, já em 1999), os Art Of Noise viram-se eternamente ligados a esta sua… canção. Em edições que exploraram material de arquivo foram sendo reveladas outras visões trabalhadas em sessões em estúdio, criando derivações, experiências… E agora, 40 anos depois da edição de “Moments In Love” como single, eis que surge, num lançamento especial do Record Store Day, “Impressions of For + Ever”, um álbum que, com o subtítulo “Art of Noise & The Making of Moments In Love”, não é mais do que uma coleção de várias entre as versões e declinações desta composição. Não exatamente, como o fez (também na ZTT Records) Grace Jones com “Slave To The Rhythm”, onde explorou visões possíveis de abordagens distintas a uma canção, mas sim uma coleção (ordenada) das várias misturas, rearrumações ou detalhes que, trabalhadas como experiências em estúdio, acabaram na sua maioria como material arquivado, guardado em detrimento das versões que há 40 anos chegaram a disco. Uma canção e suas variações, numa viagem que vinca o mood ambiental na qual esta ideia nasceu, há 42 anos.
“Impressions of For + Ever” dos The Art of Noise está disponível em LP numa edição da ZTT Records / Universal para o Record Store Day





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