Podem parecer números inesperados. Mas dos Pulp não só podemos falar de um silêncio de 24 anos (acho que isso todos notámos) como, também esta é uma história que remonta a 1978. Ou seja, os Pulp (apesar da pausa), têm uma história com 47 anos. São contemporâneos dos Duran Duran, The Cure, Bauhaus, Echo & The Bunnymen ou os Xutos & Pontapés, ou seja, deram os primeiros passos ao mesmo tempo que surgiam os primeiros e discos de uns Devo, Dire Straits ou os conterrâneos The Human League ou Cabaret Voltaire. De resto, vale a pena sublinhar este último par, vincando as memórias de um berço na mesma cidade de Sfeffield que então via nascer também as aventuras de uns ABC ou, depois da cisão nos Human League, os Heaven 17… Acontece que, apesar desta data que os inscreve entre a geração nascida no final dos anos 70, os Pulp esperaram até 1983 para terem um primeiro disco e só quase dez anos depois, entre “Babies” (1992) e “Razzmatazz” (1993) começaram a angariar maiores atenções, cabendo ao quarto álbum “His ‘n’ Hers” (1994) o primeiro episódio de devido reconhecimento alargado e a criação de um êxito maior ao som de “Do You Remember The First Time”… E depois, em tempo de euforia brit pop (mas na verdade com uma carteira de referências, factos e personalidade bem demarcadas) inscreveram na sua história um disco que foi eleito como clássico instantâneo… Mas depois de “Different Class” (1995) nem tudo foram rosas. E mesmo com mais dois novos magníficos álbuns, o mais introspectivo e cinicamente elaborado “This Is Hardcore” (1998) e o não menos surpreendente “We Love Life” (2001), produzido por Scott Walker, afastaram os Pulp desse pontual contacto com as rotas dos sabores do momento. E depois fez-se silêncio…

E tudo recomeçou nos palcos (em 2011). Depois houve reedições… E o rumo dos músicos acabou por convergir a um mesmo estúdio no mesmo momento. Curiosamente, tal como sucedeu com a recente reunião dos Blur (que gerou o álbum “The Ballad of Darren” em 2023), o regresso faz-se num tempo com agendas pessoais bem distintas. E o que eram os Pulp de meados dos anos 90, com uma música que não queria ignorar o papel de retrato (e comentário) político e social que tantas vezes coube à história da canção popular, não mais parece ser o núcleo temático de um álbum mais pessoal nas palavras, mas claramente inscrito na personalidade “clássica” do som da banda na música que nos apresenta. É verdade que sempre houve nas canções dos Pulp toda uma paleta de olhares sobre relacionamentos, afetos, sexo, assim como um jeito muito pessoal de usar sarcasmo e ironia ao serviço da escrita. O passar dos tempos e a história de vida de Jarvis Cocker coloca-nos agora todas estas coordenadas num novo patamar. E assim, num mapa de referências que por nada pretende escapar a uma história de raízes antigas e muitos feitos reconhecidos, a música dos Pulp, conhece aqui um novo episódio que parte dos alicerces que a banda tinha já sólidos em meados dos anos 90 para ao seu percurso juntar um novo disco que não pretender ser senão aquilo que naturalmente ali poderia acontecer. A voz de Jarvis Cocker, o engenho na palavra e a solidez do edifício musical (curiosamente te partilhando com os Blur James Ford, o mesmo produtor recrutado para “The Ballad Of Darren”) juntam-se aqui a uma nova e feliz coleção de canções. Será difícil comparar “More” ao momento cultural e social que fez de “Different Class” um marco na história dos anos 90. Mas as canções que aqui nos mostram fazem de “More” o álbum mais acessível e tranquilo que os (magníficos, volto a sublinhar” discos de 1998 e 2001 não traduziram. Valeu a espera. 

“More”, dos Pulp, está disponível em LP, CD e nas plataformas de streaming numa edição da Rough Trade

Deixe um comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

Trending