A criação de um primeiro álbum a solo por uma voz que alcançou notoriedade maior numa banda deve ser tudo menos pêra doce para quem protagoniza a aventura. Mas não foram poucas as ocasiões em que, escutado finalmente o disco, para todos ficou claro que um novo ciclo igualmente marcante poderia estar ali a nascer. Foi assim quando Peter Gabriel apresentou um primeiro episódio em nome próprio depois de “The Lamb Lies Down On Broadway” Quando Björk apresentou “Debut” após o fim dos Sugarcubes. Ou com as estreias dos então ex-Beatles em nome próprio (apesar de tanto George como John terem já assinado títulos de música exploratória antes do anuncio da separação e, claro, não figurando a estreia de Ringo Starr no mesmo plano de excelência de “McCarney” (de Paul McCartney), “Plastic Ono Band” (de John e Yoko) e o magistral “All Things Must Pass” (de George, onde de resto surgiam algumas canções que chegaram a passar por sessões de estúdio dos fab four). Sting chegou ao fim da “Synchronicity Tour” com um mundo de possibilidades pela frente. É certo que antes do álbum dos Police que dera título a essa digressão muitos não imaginavam que poderia haver um sucessor para “Ghost In The Machine”. Mas desta vez a separação era mesmo irrevogável (pelo menos assim o foi até à pontual reunião para fazer novamente estrada, desta vez entre 2007 e 2008). E antes de pensar para onde ir, Sting ponderou sobre com quem queria ir… E começou a juntar músicos. E vinham do jazz… Omar Hakim (bateria), Brandford Marsalis (saxofone), Kenny Kirkland (teclas) e Daryl Jones (baixo) entraram em cena e chegaram a tocar juntos ao vivo antes mesmo das primeiras sessões de estúdio. Eram assim uma banda “rodada” quando, entre os Barbados e o Canadá, mergulharam na criação de um sonho que se transformou em realidade.

Sting já tinha editado a solo um primeiro single (uma versão de “Spread a Little Happiness”, entregue a uma adaptação de “Brimstone and Treacle” ao cinema, em 1982). Mas só quando “If You Love Somebdy” surgiu em maio de 1985 como single de avanço, ficando talvez aquém do esperado no Reino Unido, conquistando maiores atenções na Europa continental, nos EUA e Canadá. Ficava clara uma evolução que não era de absoluta rotura, mas que vincava marcas de identidade que tinham novos contrafortes num diálogo frente entre as formas da canção popular e o apelo gourmet de músicos de primeira água com percurso sobretudo feito no jazz (ideia que seria mais evidente ainda no álbum ao vivo “Bring On The Night” que chegou pouco depois). O álbum, cujo título partia de um sonho de Sting, mostrava uma vasta e diversa paleta de referências e caminhos, que iam do mood de travo jazzy de “Moon Over Bourbon Street” à luminosidade em tons de verão de “Love Is The Seventh Wave” (a piscar o olho a velhas “malhas” mais pop dos Police. Este era também um álbum de temas e palavras. E tanto olhava para o clima de guerra fria que então assombrava o mundo (em “Russians”, onde se juntava uma citação à música de Prokofiev) como para questões do foro político e social como a greve dos mineiros no Reino Unido (“We Work The Black Steam”). Tal como o fizera Bryan Ferry a dada altura no seu percurso a solo, Sting fez questão de retomar uma canção dos Police, revistando “Shadows in the Rain” que deixou a alma mais minimalista da versão original em “Zenyatta Mondatta” para ganhar agora um outro fulgor com alma jazzística que pediu mais exuberância à voz. Apesar do arranque “lento” em casa, o álbum acabou por arrebatar atenções e inscreveu um novo e sólido episódio na obra de Sting que, a solo, juntaria com o passar do tempo outros momentos marcantes a este percurso, entre os quais o também muito recomendável “Nothing Like The Sun”, em 1987.





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