O sucesso bateu subitamente à porta dos Soft Cell quando, no verão 1981, lançaram um single com uma versão de “Tainted Love” (de Gloria Jones) no lado A e uma de “Where Did Our Love Go?” (das Supremes) na face B. E num ápice a vida do duo que juntara Marc Almond e Dave Ball sob um rota desafiante, explorando as emergentes electrónicas e as marcas de personalidade e gosto de cada um, viu-se focada numa inesperada rota feita sob os olhares de tudo e todos. Mesmo sob pressão deram conta do recado ao fazer do álbum de estreia “Non Stop Erotic Cabaret” (editado em novembro de 1981) um dos casos sérios do ano (e hoje um dos títulos de referência da primeira geração da pop eletrónica). Mas a vertigem do estatuto entretanto alcançado obrigou-os a uma agenda talvez mais intensa e visível do que a que possivelmente teriam desejado. Em pouco tempo Marc estaria a criar um primeiro disco com os Mambas e Dave a gravar um disco a solo. Em inícios de 1983, quando lançaram o segundo álbum de originais “The Art Of Falling Apart” já se falava de uma eventual separação, que aconteceria até antes mesmo de ser editado o seguinte “This Last Night In Sodom” (1984), encerrando um ciclo longe de pacífico que na verdade não fechou a vida a dois de Almond e Ball, que mais adiante se voltaram a juntar não só para subir ao palco como para criar ainda mais dois álbuns: “Cruelty Without Beauty” (2002) e “Happiness Not Included” (2022). Banda que nunca se limitou a explorar a faceta aparentemente festiva das suas canções mais ritmadas, criando desde o início uma coleção de olhares e reflexões sobre as faces menos luminosas do quotidiano, os Soft Cell lançaram em 1982 um outro álbum que só não cabe nesta sucessão de títulos porque não se trata de um disco de originais, mas sim de remisturas.

Foram retaltivamente frequentes, nos anos 80, os lançamentos de álbuns, mini-álbuns ou EPs que juntavam muitas vezes as remisturas que iam surgindo nos máxis, aqui e ali por vezes surgindo uma ou outra remix inédita. Foram disso exemplo “Carnival” dos Duran Duran, “Visage” dos Visage ou “It’s My Mix” dos Talk Talk, entre outros mais. Em 1982, no mesmo ano em que os Human League apresentaram uma abordagem alternativa às suas canções no álbum “Love and Dancing” apresentado pela League Unlimited Orchestral, os Soft Cell fizeram de “Non Stop Ecstatic Dancing” um episódio que não se limitou a ser uma reunião de remisturas, propondo antes um momento de transição (dançável) entre os álbuns de estúdio de 1981 e 82. Editado como “Non Stop Ecstatic Dancing”, munido de uma capa que não escondia uma lógica de continuidade direta face a “Non Stop Erotic Cabaret”, o disco apresentava duas novas gravações para “Chips On My Shoulder” (com solo de saxofone de David Tofani) e “Memorabillia” (com rap de Cindy Ecstasy), novas misturas para “A Man Could Get Lost”, “Where Did Our Love Go?” e “Sex Dwarf” e um inédito, “What?”, versão de um clássico esquecido de 1965 de Melinda Marx que daria, poucas semanas depois, um quinto top 5 consecutivo aos Soft Cell no mercado britânico. Na verdade, sucessor de “Tainted Love” e “Bedsitter” e de “Say Hello Wave Goodbye” e “Torch” de 1982, “What” completaria no verão de 82 o ciclo de popularidade maior na obra do grupo.  

“Non Stop Ecstatic Dancing” surge agora numa nova edição carregada de extras, juntando não apenas as versões originais que escutávamos em ambas as faixas dos singles e máxis de “Torch” e “What”, assim como uma série de remisturas criadas mais tarde por nomes como os 808 State ou o próprio projeto The Grid (de Dave Ball), algumas delas inéditas em CD, outras originalmente apresentadas em discos promocionais ou até mesmo até aqui nunca antes editadas. A versão em CD duplo junta um total de 27 faixas. A versão em LP duplo faz uma seleção deste corpo de gravações, apostando sobretudo nas versões originais, de 1982.

“Non Stop Ecstatic Dancing (Expanded Edition)”, dos Soft Cell, está disponível em novas edições em 2LP e 2CD em lançamentos da Mercury Records

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